ÉTICA DO TRABALHO NA EXPANSÃO DO AGRONEGÓCIO: transvaloração, depreciação e disciplinamento
DOI:
https://doi.org/10.9771/ccrh.v36i0.42779Palavras-chave:
Encontro cultural, Agronegócio, Desenvolvimento, Gaúcho, Trabalho ruralResumo
Tomando o maior polo de irrigação da América Latina como referência empírica, neste artigo trato das vicissitudes envolvidas na configuração de relacionamentos em torno do trabalho no âmbito do agronegócio. A partir de etnografia inicialmente endereçada a trabalhadores temporários migrantes de vários estados do Nordeste, busco analisar entrelaçamentos entre a transposição de modos camponeses ao agronegócio, a expropriação moral de trabalhadores e mecanismos de disciplinamento. Tais entrelaçamentos põem em solo (e em mente) uma espécie de ética do bom trabalhador, que é problematizada como construto de uma sociedade particular, que faz o agronegócio expandir com contornos e procedimentos próprios, ainda que heterogêneos.
Downloads
Referências
ANDRADE, M. P. Os gaúchos descobrem o Brasil: projetos agropecuários contra a agricultura camponesa. São Luís: Edufma, 2008.
BOLTANSKI, L. Sociologia da crítica, instituições e o novo modo de dominação gestionária. Sociologia & Antropologia, v. 3, n. 6, p. 441-462, 2013.
BRANDÃO, C. R. O afeto da terra. Campinas: Editora da Unicamp, 1999.
BRUNO, R. Senhores da terra, senhores da guerra: a nova face política das elites agroindustriais no Brasil. Rio de Janeiro: Forense, 1997.
CARDOSO, A. Uma Utopia Brasileira: Vargas e a Construção do Estado de Bem-Estar numa Sociedade Estruturalmente Desigual. Dados, v. 53, n. 4, p. 775-819, 2010.
CHAVES, C. A. Festas da política: uma etnografia da modernidade no sertão (Buritis – MG). Rio de Janeiro: Relume Dumará/Núcleo de Antropologia da Política da UFRJ, 2003.
ELIAS, N.; SCOTSON, J. L. Os estabelecidos e os outsiders: sociologia das relações de poder a partir de uma pequena comunidade. Rio de Janeiro: Zahar, 2000.
FAVARETO, A. (Coord.). Entre chapadas e baixões do MATOPIBA: dinâmicas territoriais e impactos socioeconômicos na fronteira da expansão agropecuária no Cerrado. São Paulo: Ilustre Editora/Greenpeace, 2019.
FERREIRA, A. C. Trabalho, etnicidade e economia-mundo: o papel da ambientalização da política econômica na expropriação moral da condição de trabalhador indígena. Rio de Janeiro: UFRRJ, 2015.
FOUCAULT, M. Vigiar e punir: nascimento da prisão. Petrópolis: Vozes, 1988.
FREITAS, W.A.; SOBRINHO, F.L.A; MELLO, M. A influência de Planos e Programas do Governo Federal na região Centro-Oeste: ocupação e modernização do território entre as décadas de 1960 a 1970. Política e Planejamento Regional, v. 6, n.1, p. 64-79, 2019.
GARCIA JÚNIOR, A. O Sul: caminho do roçado. Estratégias de reprodução camponesa e transformação social. São Paulo: Marco Zero, 1989.
GASPAR, R. B.; ANDRADE, M. P. Gaúchos no Maranhão: agentes, posições sociais e trajetórias em novas fronteiras do agronegócio. Pós Ciências Sociais, v. 11, n. 22, p. 109-127, 2014.
GERHARDT, C. H. Da sociedade do agronegócio à cosmologia Agro: subjetivação e conquista de novos territórios. Contemporânea, v. 11, n. 3, p. 1025-1056, 2021.
GUEDES, A. D. O trecho, as mães e os papéis: movimentos e durações no norte de Goiás. 2011. 468 p. Tese (Doutorado em Antropologia Social) – Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2011.
HADDAD, M. B. O planejamento federal para o desenvolvimento regional do Centro Oeste. In: SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE DESENVOLVIMENTO REGIONAL, 6, 2013. Disponível em https://www.unisc.br/site/sidr/2013/Textos/245.pdf. Acesso em: 12 out. 2019.
HEREDIA, B.; PALMEIRA, M.; LEITE, S. P. Sociedade e Economia do “Agronegócio” no Brasil. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 25, n. 74, p. 159-176, 2010.
LI, T. M. Centering labor in the land grab debate. Journal of Peasant Studies, v. 38, n. 2, p. 281-298, 2011.
LOPES, J. S. L. O trabalho visto pela Antropologia Social. Ciências do Trabalho, v. 1, n. 1, p. 65-84, 2013.
MENEZES, M. A. Da Paraíba prá São Paulo e de São Paulo prá Paraíba: migração, família e reprodução da força de trabalho. 1985. 176 p. Dissertação (Mestrado em Sociologia) – Centro de Humanidades, Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 1985.
MENEZES, M. A. Redes e enredos nas trilhas dos migrantes: um estudo de família de camponeses-migrantes. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2002a.
MENEZES, M. A. O cotidiano camponês e a sua importância enquanto resistência à dominação: a contribuição de James C. Scott. Raízes, v. 21, n. 1, p. 32-44, 2002b.
MEYER, G.; GERHARDT, C. H. Dos intrépidos gaúchos aos responsáveis homens de camisa azul: moralidade,
sociabilidade e hierarquia na sociedade do agronegócio. Dados, v. 67, n. 4, 2024.
NOGUEIRA, M. C. R. Gerais a dentro a fora: identidade e territorialidade entre Geraizeiros do Norte de Minas Gerais. Brasília: Mil Folhas, 2017.
OLIVEIRA, V. L; BÜHLER, È. A. Técnica e natureza no desenvolvimento do “agronegócio”. Caderno CRH, v. 29, n. 77, p. 261-280, 2016.
PALMEIRA, M. Modernização, Estado e questão agrária. Estudos Avançados, v. 3, n. 7, p. 87-108, 1989.
PMCG (Prefeitura Municipal de Chapada Gaúcha). A saga dos gaúchos no sertão norte mineiro. Chapada Gaúcha: PMCG, 2012.
PORTO, J. R. S. O discurso do agronegócio: modernidade, poder e “verdade”. Nera, v. 17, n. 25, p. 25-46, 2014.
RABINOW, P; DREYFUS, H. A genealogia do indivíduo moderno como objeto. In: RABINOW, P; DREYFUS, H. (org.). Michel Foucault: uma trajetória filosófica (para além do estruturalismo e da hermenêutica. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1995. p. 185-201.
RIBEIRO, G. L. Poder, redes e ideologia no campo do desenvolvimento. Novos Estudos (Cebrap), v. 80, p. 109-125, 2008.
RIBEIRO NETO, C. P. Formação Política do Agronegócio. 2018. 352 p. Tese (Doutorado em Antropologia) – Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2018.
RUMSTAIN, A. Peões no trecho: trajetórias e estratégias de mobilidade no Mato Grosso. Rio de Janeiro: E-papers, 2012.
SANTOS, C. C. O INEA é o demônio: pesca, conflito e religião na Baia da Ilha Grande. 2018. 171 p. Dissertação (Mestrado em Antropologia) – Instituto de Ciências Humanas e Filosofia, Universidade Federal Fluminense.
SAUER, S.; BORRAS JÚNIOR, S. “Land grabbing” e “green grabbing”: uma leitura da “corrida na produção acadêmica” sobre a apropriação global de terras. Campo-Território – Revista de Geografia Agrária, v. 11, n. 23, p. 6-42, 2016.
SCOTT, J. C. Formas cotidianas da resistência camponesa. Raízes, v. 21, n. 1, p. 10-31, 2002.
SIGAUD, L. Os clandestinos e os direitos. São Paulo: Duas Cidades, 1979.
THOMPSON, E. P. A formação da classe operária inglesa: 1. A árvore da Liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
TSING, A. L. Friction: an ethnography of global connection. Princeton: Princeton University Press, 2005.
WEBER, M. A ética protestante e o espírito do capitalismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.
WOORTMANN, E. F. Herdeiros, parentes e compadres: colonos do Sul e sitiantes do Nordeste. São Paulo: Hucitec, 1995.
WOORTMANN, K. A cidade das mulheres. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1987.
WOORTMANN, K. Migração, família e campesinato. Revista Brasileira de Estudos de População, v. 7, n. 1, p. 35-53, 1990.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2023 Caderno CRH
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Todo o conteúdo da revista, exceto onde indicado de outra forma, é licenciado sob uma atribuição do tipo Creative Commons BY.
O periódico Caderno CRH on-line é aberto e gratuito.