A “CONQUISTA ESPIRITUAL” DOS TUPINAMBÁ: a originalidade teórico-conceitual da aculturação e o regímem de relação assimétrica de Thales de Azevedo

Autores

DOI:

https://doi.org/10.9771/ccrh.v36i0.38595

Palavras-chave:

Thales de Azevedo, Povos indígenas, Aculturação, Regime de Relação Assimétrica, Fricção interétnica

Resumo

Thales de Azevedo não é conhecido por sua obra a respeito de povos indígenas. No entanto, Pedro Agostinho já chamou a atenção por essa vertente pouco lembrada da sua obra. Com efeito, os povos indígenas são uma preocupação bem cedo na sua carreira, entrando na sua obra de modo significativo com sua conhecida pesquisa sobre a história de Salvador. Ao conferir o que Thales escreveu em 1958, é interessante constatar como ele já usa criativamente a literatura contemporânea sobre aculturação. Ele usa o conceito de “aculturação” para se referir à fase inicial da conquista. A fase posterior ocorre quando se impõe a dominação do aldeamento, forçado e dominado, propondo a expressão teórica “regímem de relação assimétrica”. A sua discussão teórico-conceitual era muito atual e inovadora na sua época, e claramente prefigura certas posições posteriores como as de Cardoso de Oliveira. Apesar de ser republicado, não parece que encontrou muito eco ou reconhecimento na literatura etnológica e na teoria da fricção interétnica, linha teórica de maior influência.

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Biografia do Autor

Edwin B. Reesink, Universidade Federal de Pernambuco

Doutor em Antropologia social pelo Museu Nacional - UFRJ e hoje ligado ao UFPE (Departamento de Antropologia e Museologia e Programa de Pós-Graduação em Antropologia). Estuda temas relacionados com povos indígenas, em especial no Nordeste e na Amazônia, sendo ligado ao grupo
de pesquisa PINEB (Pesquisas sobre Povos Indígenas no Nordeste). Publicou, entre outros trabalhos, os livros Allegories of Wildness (2010) sobre etnohistorias de povos Nambikwara, Imago Mundo Kanamari (2013) e co-editou a coletânea Índios e Negros no mundo dos índios (2011). Publicou vários artigos sobre rituais e etnohistorias de povos no Nordeste e está para publicar um livro sobre as etnohistorias Kaimbé e Kiriri e sua participação em Canudos.

Mísia Lins Reesink, Universidade Federal de Pernambuco

Doutora em Antropologia Social pela École des Hautes Études en Sciences Sociales - Paris. Professor(a) do Departamento de Antropologia e Museologia e da Pós-Graduação em Antropologia da Universidade Federal de Pernambuco, Coordenador(a) do Grupo de Pesquisa DEVIR – Religião, Contemporaneidade, Morte e Imagens (UFPE), desenvolvendo pesquisas na área de Religião, Morte, Teoria Antropológica, Rituais. Suas mais recentes publicações são: On Faith and Miracle: A Cosmological Perspective on Faith and Miracle as ‘Social Categories of Understanding? in Brazilian Catholicism. Vibrant (Florianópolis), v. 17, p. 1-21, 2020; Duplos Funerais: quando a morte encontra o morto em contextos transnacionais. Revista Anthropológicas, v. 1, p. 249-277, 2020 (coautora); Morte, Católicos, Imaginário: rituais e representações de morte em Casa Amarela (Recife). 1. ed. Recife: EdUFPE, 2016. v. 1. 201p.

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Publicado

2023-11-13

Como Citar

B. Reesink, E., & Lins Reesink, M. (2023). A “CONQUISTA ESPIRITUAL” DOS TUPINAMBÁ: a originalidade teórico-conceitual da aculturação e o regímem de relação assimétrica de Thales de Azevedo. Caderno CRH, 36, e023016. https://doi.org/10.9771/ccrh.v36i0.38595