“O sexo é impenetrável”:

Um breve ensaio de leitura (in)disciplinada

Autores

Resumo

Partindo de uma observação instigante de José Miguel Wisnik sobre a carta em que Mário de Andrade fala de sua homossexualidade a Manuel Bandeira, o texto pretende discutir algumas estratégias discursivas de elaboração e enunciação da sexualidade em regimes de rechaço da dissidência. O caso suscita a hipótese de um desejo de poder que opera pela extirpação do dado incontornável da sexualidade para pessoas queer que articulam seus projetos em função de uma autoria, sobretudo quando a posterior narrativa histórico-filosófico-literária visa ao enquadramento dessa autoria num cânone. A revelação tardia da carta jogou luz sobre um ambiente em que o rechaço aparece como justificativa de um desejo de sigilo, com a presunção de salvaguarda jurídica da memória e da história. O caso pode ser pensado como um progressivo e eloquente apagamento das marcas localizadas de sujeito de um cânone no estabelecimento do que deixa como legado. Se “o sexo é impenetrável”, na expressão de Wisnik, isso também diz da opacidade daquilo que é capturado na interpretação de obras articuladas por sujeitos dissidentes investidos na função de autor. Ao final, descobre-se a bem-sucedida estratégia poética de Mário de Andrade, que manipula o silêncio para dizer de si o que é interditado pelo discurso.  

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Wagner de Avila Quevedo, Instituto Federal do Rio de Janeiro

Professor de Filosofia do Instituto Federal do Rio de Janeiro/Campus Paracambi, com formação em Filosofia e Teoria Literária nas seguintes universidades: UFPel, Unicamp, FU-Berlin, UFMG e Humboldt Universität zu Berlin. Temas de interesse: História da Filosofia Moderna, Romantismo Alemão, Idealismo Alemão, século XVIII, Kant, Fichte, Hölderlin, Feminismo, Estudos de Gênero e Teoria Queer. Autor de "Hölderlin em Iena: União e cisão nos limites do pensamento" (Edições Loyola, 2023).

 

Downloads

Publicado

2024-03-10

Como Citar

de Avila Quevedo, W. (2024). “O sexo é impenetrável”:: Um breve ensaio de leitura (in)disciplinada. Cadernos De Gênero E Diversidade, 9(3). Recuperado de https://periodicos.ufba.br/index.php/cadgendiv/article/view/55406

Edição

Seção

Gênero e Sexualidade: novas perspectivas e intersecções sobre experiências i