FEITO DE AMOR E TREVAS
FUSÕES APOLÍNEAS, DIONISÍACAS E CTÔNICAS EM "O MORRO DOS VENTOS UIVANTES", DE EMILY BRONTË
DOI:
https://doi.org/10.9771/inventr.v0i32.56348Abstract
Em O Nascimento da Tragédia (1992), Friedrich Nietzsche postula os dois princípios artísticos residindo no bojo das artes dramáticas da Grécia Antiga: o apolíneo e o dionisíaco. Enquanto o primeiro conceito, simbolizado pelo deus Apolo, assinala aspectos individualistas, racionais e sistematizados; o segundo, representado pelo deus Dionísio, configura elementos de comunhão, transcendentalidade e encantamento. Contudo, embora amplamente utilizados em aplicações teóricas e acadêmicas, os conceitos mostram-se suscetíveis a usos indevidos ou, então, podem fraquejar ante certos empreendimentos. A compreensão de dionisíaco, por exemplo, mostra-se, na intelectualidade hodierna, assaz comprometida, quando assimilada somente por sua índole hedonista. À vista disso, Camille Paglia, na obra Sexual Personae (1990), desenvolveu uma noção complementar intitulada “ctônico”. Proveniente da palavra grega chthōn, significando “terra” ou “da terra”, “do solo”, o ctônico implica num impulso saturado por agressividade, erotismo e (auto)destruição. Logo, o presente artigo dedicou-se a investigar as nuances apolíneas, dionisíacas e ctônicas incutidas na tessitura da obra O Morro dos Ventos Uivantes (2016), de Emily Brontë. A análise, considerando elementos estéticos e narrativos, levou-nos à conclusão de que, para além da dicotomia apolíneo e ctônico fundamentando a atmosfera e a diegese, construiu-se uma relação limítrofe entre dionisíaco e ctônico na expressão afetiva dos personagens.