Inventário https://periodicos.ufba.br/index.php/inventario <p>A Inventário é editada pelo corpo discente dos Programas de Pós-Graduação do Instituto de Letras. Tem por política editorial publicar, semestralmente, artigos científicos, ensaios, resenhas e relatos de experiência, produzidos no âmbito dos estudos linguísticos e/ou literários cujos originais tenham obtido parecer positivo de pelo menos dois avaliadores especializados na área específica do trabalho submetido.<br />Área do conhecimento: Linguística e Literatura<br />ISSN (online): 1679-1347 - Periodicidade: Semestral - Qualis: B3</p> pt-BR <span>Os autores concedem à revista todos os direitos autorais referentes aos trabalhos publicados. Os conceitos emitidos em artigos assinados são de absoluta e exclusiva responsabilidade de seus autores.</span> inventar@ufba.br (Editoria) inventar@ufba.br (Suporte Inventário) qua, 04 jun 2025 18:47:24 +0000 OJS 3.2.1.4 http://blogs.law.harvard.edu/tech/rss 60 EDITORIAL 36 https://periodicos.ufba.br/index.php/inventario/article/view/67601 Celiomar Portirio Ramos, Antonio Donizeti da Cruz , Marinei Almeida, Algemira de Macêdo Mendes, Jesuíno Arvelino Pinto Copyright (c) 2025 Inventário https://periodicos.ufba.br/index.php/inventario/article/view/67601 qua, 04 jun 2025 00:00:00 +0000 MULHERES NEGRAS A CAMINHO DO CENTRO DA CENA https://periodicos.ufba.br/index.php/inventario/article/view/64760 <p>Na historiografia literária brasileira, ainda em seu âmbito geral, a representação da mulher negra nem sempre ocorreu de forma afirmativa; sendo, por vezes, retratada como passiva, lascívia e/ou animalesca. Este artigo enseja observar um percurso da mulher negra na literatura nacional, partindo da escrita branco-patriarcal até ancorar na literatura negro-brasileira. Por meio da metodologia bibliográfica com cunho qualitativo, investigam-se representações da maternidade negra à luz de perspectivas sociológicas, psicanalíticas e crítico-literárias. Analisa-se a escrita viva de Conceição Evaristo no conto, <em>Aramides Florença</em>, da obra <em>Insubmissas lágrimas de mulheres</em> (2020), que apresenta uma mulher negra <em>maternando</em> no centro da cena. Constata-se uma longa caminhada até a inserção (e à permanência) - na historiografia literária brasileira - de descrições humanizadas da personagem negra, sobretudo, <em>maternando </em>filhos seus, distanciando-se de estereotipias e imposições sociais.</p> Mileide Santos Dias, Manuela Dias Copyright (c) 2025 Inventário https://periodicos.ufba.br/index.php/inventario/article/view/64760 qua, 04 jun 2025 00:00:00 +0000 VOZES MATERNAS https://periodicos.ufba.br/index.php/inventario/article/view/64597 <p>Estudar as representações da maternidade negra na literatura afro-brasileira é fundamental para compreender e valorizar as experiências e desafios únicos enfrentados por essas mulheres, promovendo uma reflexão crítica sobre questões de raça, gênero e identidade na sociedade contemporânea. Nesse sentido, o presente estudo investiga as representações da maternidade negra na literatura afro-brasileira, destacando os desafios históricos e sociais que permeiam essa temática. Por meio de uma revisão bibliográfica abrangente, o estudo analisa a invisibilidade e os estereótipos associados às figuras maternas negras na literatura tradicional e explora a reconfiguração dessas representações na produção contemporânea. A pesquisa enfatiza o papel da maternidade como um instrumento de resistência cultural e política, além de considerar a ancestralidade como um elemento crucial na transmissão de saberes e valores. As conclusões apontam para a necessidade de ampliar a visibilidade das experiências maternas negras, promovendo narrativas mais diversas e complexas que reflitam a multiplicidade das vivências dessa população.</p> Lívia Barbosa Pacheco, GILMARA SANTOS SILVA Copyright (c) 2025 Inventário https://periodicos.ufba.br/index.php/inventario/article/view/64597 qua, 04 jun 2025 00:00:00 +0000 AS REPRESENTATIVIDADES PLURAIS E SILENCIAMENTOS DAS MÃES NA LITERATURA AFRO-BRASILEIRA https://periodicos.ufba.br/index.php/inventario/article/view/64410 <p>O objetivo deste artigo é fazer um estudo baseado em textos literários, com o viés social, ao dar ênfase na mulher negra e mãe na época colonial até a contemporânea. Para a tessitura do texto, buscamos validar nossas pesquisas com Candido (2023), Davis (2016) e Giacomini (1887) acerca de análises sociais. O corpus do trabalho apresentado para o período colonial foi <em>Pai contra a Mãe</em> (2017) e <em>Sabina</em> (2008) de Machado de Assis; o conto<em> Lucinda Mucama</em>, da obra <em>Vítimas-Algozes</em> (2005) de Joaquim Manuel; e para o contemporâneo 9 contos de <em>Olhos d'água</em> da Conceição Evaristo (2018). Conclui-se que as mães na literatura apresentam os traços de opressão racial e de gênero, como os apresentados nos textos, ao mostrar as mães escravizadas sendo tratadas como inferiores em relação a mulher branca; outrossim, na contemporaneidade, apresentou a invisibilidade da mulher, mãe e negra que são expostas as mais variadas violências e sofrimentos sociais.</p> Klelma Costa Pereira, Evelyn Vitória da Silva Carvalho, Rafaella Contente Pereira da Costa Copyright (c) 2025 Inventário https://periodicos.ufba.br/index.php/inventario/article/view/64410 qua, 04 jun 2025 00:00:00 +0000 A MULHER NEGRA E O CUIDADO https://periodicos.ufba.br/index.php/inventario/article/view/64427 <p><span style="font-weight: 400;">Este trabalho propõe um debate sobre os impactos interseccionais do racismo, sexismo e opressões de classe nas relações de cuidado, com um enfoque específico na mulher negra e sua vivência de maternidade. Partimos da perspectiva de Joan Tronto (1997) para discutir o cuidado por um viés social, cultural e político. Tronto explora o cuidado através de uma abordagem feminista, o que nos permite ultrapassar as discussões sobre o cuidado como algo restrito ao campo privado e subjetivo e expandi-las para um campo teórico-crítico. Utilizando a metodologia de Narrativas de Vida, conforme Bertaux (2010), exploramos a história de uma mulher negra que compartilhou sua trajetória e a de sua mãe, permitindo um aprofundamento teórico e crítico da questão do cuidado. Essa narrativa fornece uma perspectiva rica e singular, trazendo voz, corpo e cor à discussão, o que possibilita uma análise mais profunda sobre os papeis historicamente atribuídos às mulheres negras no contexto do cuidado. Historicamente, essas mulheres são associadas ao papel de cuidadoras, mas paradoxalmente, muitas vezes lhes é negado o direito de serem cuidadas e de exercerem livremente o cuidado com os seus próprios filhos. Através dessa narrativa, busca-se evidenciar e questionar a naturalização da função de cuidadora atribuída à mulher negra, ao mesmo tempo que se analisa a exclusão sistêmica que impede que o cuidado lhes seja plenamente garantido e reconhecido</span><span style="font-weight: 400;">.</span></p> Pabliny Marques de Aquino Copyright (c) 2025 Inventário https://periodicos.ufba.br/index.php/inventario/article/view/64427 qua, 04 jun 2025 00:00:00 +0000 FILHAS DAS VOZES ANCESTRAIS https://periodicos.ufba.br/index.php/inventario/article/view/64759 <p>Este ensaio explora a importância da ancestralidade e da maternidade na poesia de mulheres negras, destacando como esses temas se entrelaçam para fortalecer a identidade e a resistência feminina. Através da análise das obras de Conceição Evaristo (2017) e Ryane Leão (2019), evidencia-se a continuidade das vozes ancestrais e a transmissão de sabedoria entre gerações. Conceição Evaristo, em <em>Vozes-mulheres</em>, tece uma narrativa intergeracional que dá voz às suas antepassadas e enfatiza a conexão profunda entre passado, presente e futuro. Ryane Leão, em poemas como <em>sankofa, </em>reflete e expande os temas apresentados por Evaristo, reforçando a importância de contar histórias e de honrar as experiências das mulheres que vieram antes. O ensaio também aborda as contribuições teóricas de Luce Irigaray (1974), bell hooks (1981) e Djamila Ribeiro (2017) para o feminismo negro, ressaltando a interseccionalidade como ferramenta essencial para compreender as múltiplas opressões que afetam as mulheres negras. A integração das perspectivas teóricas com as expressões poéticas demonstra como a literatura atua como um espaço de resistência e empoderamento. Ao reconhecer e celebrar a ancestralidade e a maternidade, as poetas fortalecem a identidade coletiva e promovem a continuidade das lutas por justiça e igualdade. Assim, o ensaio destaca a importância de dar voz às experiências silenciadas e de valorizar as contribuições das mulheres negras na construção de uma sociedade mais inclusiva.</p> Jeciely Ildefonso de Oliveira Copyright (c) 2025 Inventário https://periodicos.ufba.br/index.php/inventario/article/view/64759 qua, 04 jun 2025 00:00:00 +0000 VIDA CAROLINA https://periodicos.ufba.br/index.php/inventario/article/view/64310 <p>Entre navegar nas redes sociais, quem escolhe sentar para contar ou escutar alguém? Missão difícil, ainda mais envolvendo jovens. Porém, acreditando na potência transformadora da escuta e do diálogo olho no olho e nas trocas de experiências (Benjamin, 2012), este artigo, que é um recorte de uma pesquisa de doutoramento, na área de Estudos Literários, escuta a história oral de uma mulher jovem estudante, da camada popular, do ensino técnico integrado ao ensino médio, do IFMT e articula essas vozes e experiências com as da Carolina Maria de Jesus, na obra <em>Quarto de despejo</em>: diário de uma favelada, com foco nas experiências da maternidade que são diferentes, especialmente devido ao gênero, à raça e à classe, no Brasil. A metodologia é a história oral testemunhal (Meihy; Seawright, 2021), por meio de entrevista e da produção literária da Carolina. Prepare-se para ler experiências dolorosas, mas com muito atrevimento em busca de uma vida menos desigual para si e para as(os) filhas(os).</p> Tatiane de Oliveira, Renilson Rosa Ribeiro Copyright (c) 2025 Inventário https://periodicos.ufba.br/index.php/inventario/article/view/64310 qua, 04 jun 2025 00:00:00 +0000 MATERNIDADE E CULPA ORIGINÁRIA https://periodicos.ufba.br/index.php/inventario/article/view/64398 <p>O artigo propõe uma análise do primeiro romance de Marilene Felinto, <em>As Mulheres de Tijucopapo</em>, com foco no tema da maternidade, elemento central da obra. A pesquisa se justifica pela necessidade de compreender como, na literatura brasileira contemporânea, surgem autoras capazes de retratar experiências femininas marginalizadas, destacando a relação entre identidade, maternidade e culpa. Ao explorar a obra, o estudo examina como a protagonista, Rísia — uma mulher negra, nordestina e migrante — lida com sua identidade fragmentada, resultado de um histórico de opressão, violência e abandono materno. A abordagem adotada é qualitativa, fundamentada na análise literária e na crítica feminista. O estudo dialoga com teóricos como João Camillo Penna, que propõe uma leitura do valor simbólico da lama e da terra no romance, sugerindo uma origem genealógica feminina e a falta de vínculos maternos sólidos. Além disso, as pesquisas de Regina Dalcastagnè sobre o campo literário brasileiro destacam como a autora desafia discursos dominantes ao apresentar personagens femininas que rompem com os estereótipos sociais. A análise da dimensão temporal do romance é enriquecida pelas contribuições de Benedito Nunes, que sublinha a importância do tempo narrativo na construção da memória da protagonista. O tempo psicológico de Rísia, com seu fluxo de consciência e memórias pessoais, determina o ritmo da narrativa, sendo o passado o tempo predominante, com forte ênfase nas lembranças da infância. A pesquisa também examina os relacionamentos mais significativos de Rísia, com destaque para a relação com sua mãe, figura fundamental na formação de sua identidade. A análise recorre a teorias de Lélia Lehnen e Hélène Cixous para interpretar os símbolos e temas recorrentes na obra, especialmente aqueles que envolvem a construção da subjetividade feminina e a relação materna, marcada por conflitos e complexidade. O estudo sugere que a narrativa constrói uma identidade feminina que se distancia dos moldes tradicionais, apresentando uma protagonista marcada pela dor e pelo exílio, tanto físico quanto emocional. O estudo conclui que a obra de Marilene Felinto oferece uma crítica contundente às estruturas patriarcais que moldam a experiência das mulheres no Brasil. Rísia simboliza a luta contra um destino preestabelecido, resistindo à narrativa de submissão imposta às mulheres de sua classe e origem. Assim, <em>As Mulheres de Tijucopapo</em> se afirma como uma obra essencial para a compreensão da subjetividade feminina na literatura contemporânea.</p> Michela Sposato Copyright (c) 2025 Inventário https://periodicos.ufba.br/index.php/inventario/article/view/64398 qua, 04 jun 2025 00:00:00 +0000 TIA NASTÁCIA E O MITO DA MÃE PRETA https://periodicos.ufba.br/index.php/inventario/article/view/64430 <p>Este ensaio tem como objetivo problematizar a personagem Tia Nastácia, da literatura infantil brasileira de Monteiro Lobato, à luz do mito da mãe preta teorizado por Lélia Gonzalez (1984). Busca-se revelar as sutilezas e contradições dessa representação, destacando tanto os mecanismos de poder que reforçam o lugar de subserviência da mulher negra e solidificam o mito quanto àqueles que o desconstroem, evidenciando uma figura de poder que incorpora a cultura e os saberes populares — um saber mágico e empírico, fruto do conhecimento de vida, que exalta aspectos da cultura afro-brasileira. Assim, esta reflexão compreende a personagem como um marco para debater como a mulher e a maternidade negra são representadas e apreciadas. Dispomo-nos a refletir sobre como o 'mito da mãe preta' pode ajudar a entender as nuances entre poder e subserviência na figura de Tia Nastácia e seu impacto na percepção da maternidade negra. Ao reavaliar essas narrativas, encontramos uma oportunidade de celebrar as contribuições das mulheres e mães negras, que, mesmo diante de estruturas opressoras, conseguiram afirmar sua presença e importância. Reconhecer essa dinâmica é um passo essencial para desmantelar estereótipos, questionar a invisibilidade e valorizar a diversidade e o protagonismo dessas mulheres na criação, no cuidado e na transmissão de valores culturais.</p> Monique Ferreira Copyright (c) 2025 Inventário https://periodicos.ufba.br/index.php/inventario/article/view/64430 qua, 04 jun 2025 00:00:00 +0000 MATERNARMOS LITERATURA FEMININA NEGRA https://periodicos.ufba.br/index.php/inventario/article/view/64433 <p>As vozes que gestam em Conceição Evaristo são as da escrevivência, na qual a autora busca reconstruir os mitos da mulher negra ora maternal apenas para os corpos brancos, no papel da mãe-preta, ora pelo corpo objetificado e sexualizado. Logo, pretende-se discutir como Evaristo parte desses estereótipos para romper com visão da maternidade esfacelada das mulheres negras, primeiro ao tecer mães que para maternar o fazem pela narração do alento e da dor em&nbsp;<em>Becos da Memória</em>; assim como uma maternidade vivida por um corpo-texto que, de igual modo, também é território de prazer em Olhos d’Água. Para tanto, partimos primeiramente da interpretação da ausência da maternidade negra nas linhas da criação estética; e o gestar da literatura por exemplos de mães criadas pela parecença autora e personagem em Evaristo. Nossa leitura é decolonial com base nas concepções de Almeida (2023); Evaristo (2009); Hills (2019); Kilomba (2019), Roncador (2008) entre outros.&nbsp;</p> Pâmela Paula Souza Neri Copyright (c) 2025 Inventário https://periodicos.ufba.br/index.php/inventario/article/view/64433 qua, 04 jun 2025 00:00:00 +0000 MATERNIDADE PRETA E REALISMO ANIMISTA EM CONCEIÇÃO EVARISTO https://periodicos.ufba.br/index.php/inventario/article/view/64363 <p>Este artigo analisa o conto “Os Guris de Dolores Feliciana”, de Conceição Evaristo, por meio das perspectivas do realismo animista e da maternidade negra. Utilizando os conceitos de Harry Garuba sobre o realismo animista e de Muniz Sodré, o estudo discute como a integração de elementos espirituais e ancestrais cria uma narrativa em que o espiritual e o material se entrelaçam, refletindo a realidade da protagonista e sua relação com a memória dos filhos perdidos. A análise aborda ainda a “ginga literária”, conceito de Luana Passos (2024), que expressa um movimento fluido e dinâmico característico da literatura negro-brasileira, integrando aspectos de ancestralidade, ritmo e oralidade. Ao valorizar a resistência cultural e a preservação da memória negra, a narrativa de Evaristo configura-se como uma denúncia das violências raciais enfrentadas pelas mulheres negras brasileiras. O texto também se fundamenta nas ideias de Luiz Silva (Cuti, 2010), reforçando a necessidade de uma crítica literária que valorize a especificidade da literatura negro-brasileira e promova a visibilidade de personagens e experiências frequentemente marginalizadas na literatura tradicional.</p> Luana Passos, Leandro Passos Copyright (c) 2025 Inventário https://periodicos.ufba.br/index.php/inventario/article/view/64363 qua, 04 jun 2025 00:00:00 +0000 ENTRE A FICÇÃO E A REALIDADE https://periodicos.ufba.br/index.php/inventario/article/view/64715 <p>O presente trabalho tem como objetivo analisar as representações da maternidade na literatura contemporânea, em suas dimensões de gênero, raça e classe. Assim, parte-se desta perspectiva interseccional para discutir acerca da construção das relações maternais em duas personagens, Maria, do conto homônimo da obra <em>Olhos d´agua </em>(2015), de Conceição Evaristo, e Francisca, personagem do relato “Fuzil no portão”, do livro <em>O olho da rua</em> (2008), de Eliane Brum. Estes dois textos estabelecem um diálogo contundente ao trazerem como força motriz de suas narrativas a existência da mulher pobre, periférica, trabalhadora a partir da dimensão da maternidade e dos atravessamentos sociais comuns a este sujeito, como a opressão e a violência.</p> Dinameire Rios, Soraima Martins Ferreira Copyright (c) 2025 Inventário https://periodicos.ufba.br/index.php/inventario/article/view/64715 qua, 04 jun 2025 00:00:00 +0000 MÃETERNIDADE NAS OBRAS A COR DA TERNURA, DE GENI MARIANO GUIMARÃES, E PONCIÁ VICÊNCIO, DE CONCEIÇÃO EVARISTO https://periodicos.ufba.br/index.php/inventario/article/view/66208 <p>Neste artigo, trabalhamos, por meio de um estudo comparatista, o modo como a maternidade é metaforizada nas obras <em>A cor da ternura</em> (1989), de Geni Mariano Guimarães, e <em>Ponciá Vicêncio</em> (2003), de Conceição Evaristo. Sendo assim, estabelecemos uma discussão sobre como as personagens principais, Geni e Ponciá, são perpassadas pela relação com suas mães, mas também pelo patriarcalismo. O foco será dado aos legados de Ponciá e Geni, bem como aos legados por elas recolhidos para a sustentação de seus seres, no cotidiano e nas relações intersubjetivas com suas mães, que constroem uma maternidade intimamente ligada à sua vivência enquanto mulheres negras. Portanto, as relações nos romances nos levaram a entender que a maternidade das mulheres negras atravessa a noção comum de tempo, assim, tece-se a <em>mãeternidade</em>, através do cuidado e dos ensinamentos ancestrais passados às filhas. O exame das narrativas está amparado nos estudos pós-coloniais, decoloniais, feministas negras e críticos literários, como Duarte (2009 e 2020), Kilomba (2019), Gonzalez (2020) Foucault (2013) Halbwachs (1990) e Deniz (2024).</p> Eliane da Silva Alves Deniz , MARINETE LUZIA FRANCISCA DE SOUZA Copyright (c) 2025 Inventário https://periodicos.ufba.br/index.php/inventario/article/view/66208 qua, 04 jun 2025 00:00:00 +0000 NARRATIVAS MATERNAS NOS RETRATOS FEMININOS E AFRO-BRASILEIROS DE CHICA DA SILVA https://periodicos.ufba.br/index.php/inventario/article/view/64763 <p>Este artigo investiga as representações da maternidade e do corpo da figura histórica de Francisca da Silva de Oliveira, conhecida como Chica da Silva, em obras de autoria feminina e afro-brasileira. Com base em produções literárias afro-brasileiras, como <em>Chica da Silva – A Mulher que Inventou o Mar</em> (2001), de Lia Vieira, e <em>Chica da Silva – Romance de uma Vida (2016)</em>, de Joyce Ribeiro, além da obra historiográfica <em>Chica da Silva e o Contratador de Diamantes: O Outro Lado do Mito</em> (2003), de Júnia Furtado, o estudo destaca a desconstrução de narrativas tradicionais que reduziram Chica a estereótipos erotizados e desumanizadores. A análise revela que essas obras reconstroem Chica da Silva como uma mulher complexa, atenta à maternidade e engajada em ressignificar seu papel na elite mineira do século XVIII, rompendo com os limites do racismo e da misoginia.</p> <p>A abordagem destaca a centralidade da maternidade na construção de sua identidade e evidencia como a literatura negro-feminina e a historiografia crítica ampliam os horizontes das narrativas afrodescendentes, promovendo uma visão plural e humanizadora da mulher negra no Brasil colonial.</p> Ester Estevão da Silva Copyright (c) 2025 Inventário https://periodicos.ufba.br/index.php/inventario/article/view/64763 qua, 04 jun 2025 00:00:00 +0000 BABÁ, “A MULHER QUE CRIA O BEBÊ DE OUTRA MULHER” https://periodicos.ufba.br/index.php/inventario/article/view/64538 <p><span style="font-weight: 400;">Encarregada dos cuidados da primeira infância dentro do espaço doméstico, com peculiar proximidade afetiva com a família empregadora, a babá é um ofício legado da escravidão, quando as mucamas amamentavam e criavam os filhos das sinhazinhas. O termo </span><em><span style="font-weight: 400;">babá</span></em><span style="font-weight: 400;"> vem do quimbundo, língua da família banta falada em Angola. Significa “ama”, a mulher que cria o bebê de outra. Foi na nebulosa proximidade entre babá e bebê no Brasil que as palavras se misturaram, fortalecendo o </span><em><span style="font-weight: 400;">pretuguês </span></em><span style="font-weight: 400;">(González, 2020), e que as narrativas orais contadas por elas criaram conexões entre as culturas africanas, indígenas e portuguesas, como uma estratégia de resistência cultural. Este artigo compara diferenças e permanências na mediação duas babás protagonistas na história literária brasileira, separadas por 116 anos entre a escrita de um texto e outro: Quirina, do conto “Babá”, de Lima Barreto, de 1904; e Maju, protagonista do romance </span><em><span style="font-weight: 400;">Suíte Tóquio</span></em><span style="font-weight: 400;">, de Giovana Madalosso, publicado em 2020.&nbsp;</span></p> Mariana Filgueiras de Souza Copyright (c) 2025 Inventário https://periodicos.ufba.br/index.php/inventario/article/view/64538 qua, 04 jun 2025 00:00:00 +0000 A MULHER NEGRA, EMPREGADA DOMÉSTICA E MÃE https://periodicos.ufba.br/index.php/inventario/article/view/64641 <p>Este artigo explora, por meio da análise do conto <em>O Filho de Gabriela</em>, de Lima Barreto, como, já no início do século XX, no contexto pós-abolicionista brasileiro, o autor propõe algumas questões, como: a voz da mulher negra subalterna frente ao exercício de sua maternidade e a relação entre gênero, raça e classe. O objetivo é refletir sobre a maneira como o autor lançou luz à situação econômica e social da mulher negra, ao ocupar os papéis de empregada doméstica e mãe diante de uma sociedade racista, patriarcal e capitalista. Assim, constata-se que está presente, neste conto barretiano, uma representação da mulher negra destoante de outras obras do cânone literário, uma vez que diversos autores descreveram essa personagem apenas a partir de sua subserviência. Nesse sentido, predomina, na literatura brasileira, a abordagem das personagens negras resignadas ao poder hegemônico colonial, proibidas de contrariarem o sistema que mantém características escravocratas. Em contraponto a tal aspecto, em <em>O Filho de Gabriela, </em>há uma personagem que ousa impor sua voz, desafiando as normas e revelando a complexidade e a resistência da mulher negra ao tentar sobrepor o seu papel de mãe ao de empregada doméstica.</p> Flávia Guerra Rocha Campos Copyright (c) 2025 Inventário https://periodicos.ufba.br/index.php/inventario/article/view/64641 qua, 04 jun 2025 00:00:00 +0000 IYA DUDU https://periodicos.ufba.br/index.php/inventario/article/view/64375 <p>A maternidade de mulheres negras no Brasil apresenta especificidades que se manifestam em diversas dimensões da vida social, cultural e econômica. Essas especificidades são moldadas por uma combinação de fatores históricos, sociais e culturais que afetam de maneira singular as experiências dessas mulheres. Nesse sentido, são pontos-chave a herança histórica e cultural do legado da escravidão. Os objetivos deste artigo consistem em explorar em algumas obras literárias brasileiras contemporâneas os desafios para a maternidade de mães negras por formas de resistência e resiliência. Para o tratamento metodológico desta pesquisa utilizamos a abordagem qualitativa de revisão de literatura e a análise do discurso para compreender como as obras de Almeida, hooks e Ribeiro, em destaque, possibilitam a reflexão sistêmica e social da resistência e resiliência de mães negras em relação à maternidade nas obras literárias contemporâneas como<em> Um defeito de cor, Marrom e amarelo, Quando me descobri negra, Salvar o fogo, </em>entre outras<em>. </em>A pergunta que se levantou foi: será que nessas obras contemporâneas da literatura houve um resultado de conquistas da maternidade de mães negras em função da resistência, da resiliência, das lutas que engendraram séculos anteriores nessas mulheres em oposição ao estrutural da escravidão? As obras dos autores apontados na metodologia assim como a literatura contemporânea contribuem para compreender a luta dessas mulheres negras para que possam vencer o preconceito, o racismo estrutural e o conceito de maternidade que foi anteriormente considerado como concepção de objetos: filhos por objetos – mães escravizadas.</p> Roseli Gimenes Copyright (c) 2025 Inventário https://periodicos.ufba.br/index.php/inventario/article/view/64375 qua, 04 jun 2025 00:00:00 +0000 A MATERNIDADE NEGRA LGBT EM MATA DOCE, DE LUCIANY APARECIDA https://periodicos.ufba.br/index.php/inventario/article/view/64437 <p><em>Mata doce</em> (2023) é o primeiro romance da baiana Luciany Aparecida, já reconhecida no cenário literário por seus contos e poesias. O romance tem como protagonista Maria Teresa que vive com suas mães em um antigo casarão de família, construído pela matriarca Eustáquia da Vazante, mulher valente que havia fugido do escravismo, indo se refugiar naquele local; ergueu o imóvel e fundou povoado de Mata Doce, juntamente com todos aqueles que ali chegavam fugidos e procuravam apoio na mulher por sua força. Na narrativa, acompanhamos desde a chegada de Filinha, como também é chamada Maria Teresa, até seu fim, numa história não linear e repleta de eventos emocionantes. <em>Mata doce</em> é uma história potente e com muitos atos cruéis de homens brancos e gananciosos como o infame coronel Amâncio, mas também de muita ternura, amor e poesia como os vividos pelas mulheres do lajedo, mães de Filinha: a professora Mariinha e a travesti Tuninha. O presente trabalho almeja realizar uma análise interpretativa sobre a maternidade negra e LGBT representada no romance, à luz de conceitos teóricos como os de Bento (2017), Baia (2021), Baracat (2021), Bastos (2021), Collins (2019), Maux (2010) e Zambrano (2005). Buscando realizar uma análise reflexiva e crítica sobre essa potente obra da literatura de ficção contemporânea nacional que traz temas essenciais para serem debatidos na atualidade, fazendo também com que a obra seja assim mais conhecida pelo público.</p> Ana Carolina Morais de Souza, Paulo Henrique Pressotto Copyright (c) 2025 Inventário https://periodicos.ufba.br/index.php/inventario/article/view/64437 qua, 04 jun 2025 00:00:00 +0000 A REPRESENTAÇÃO DA MATERNIDADE NOS POEMAS "LIÇÃO DE CASA” E "O MELHOR DO MEU AMOR" DE LUCIENE CARVALHO https://periodicos.ufba.br/index.php/inventario/article/view/64709 <p>O presente artigo tem como objetivo analisar as representações do corpo feminino e da maternidade na poesia de Luciene Carvalho. Para tanto, foram selecionados os poemas <em>Lição de Casa</em> e <em>O Melhor do Meu Amor</em>, da obra <em>Na Pele</em> (2020), os quais abordam os desafios e significados da maternidade sob a perspectiva do amor e da dor social vivenciada por mulheres negras na contemporaneidade. A análise explora as práticas históricas e ideológicas que moldam os conflitos socioculturais em torno da posição da mulher negra e do direito à liberdade sobre seu corpo. Entende-se que a representação literária pode reforçar ou desconstruir estereótipos culturais sobre a maternidade das mulheres negras. Para essa análise, a base teórica inclui obras de Augel (2018), Beauvoir (1980), Badinter (2011), Bell hooks (2020), Carneiro (2003), Davis (2016) e Evaristo (2009). Nos poemas, Luciene Carvalho representa sua vivência por meio de laços familiares e ancestrais, destacando a importância da figura materna na construção da identidade, especialmente diante dos desafios impostos pela interseccionalidade de raça, gênero e cor para a mulher afrodescendente.</p> Ednaldo Saran, Luciane Ferreira Copyright (c) 2025 Inventário https://periodicos.ufba.br/index.php/inventario/article/view/64709 qua, 04 jun 2025 00:00:00 +0000 A SUBVERSÃO DA MATERNIDADE EM A FILHA PRIMITIVA, DE VANESSA PASSOS https://periodicos.ufba.br/index.php/inventario/article/view/64720 <p>O presente artigo analisa a obra <em>A Filha Primitiva</em>, de Vanessa Passos, destacando como a escrita da autora aborda questões de maternidade, identidade e ancestralidade sob a ótica da crítica feminista. A protagonista, identificada como “mãe”, passa por uma jornada de autoconhecimento e resistência ao sistema patriarcal que busca silenciar e definir as mulheres. A maternidade é explorada de forma ambígua, sendo tanto um espaço de subordinação quanto de reinvenção. A ausência de nomes próprios nas personagens simboliza a perda da identidade das mulheres negras, cujas histórias e ancestralidades são frequentemente apagadas. A violência estrutural e simbólica contra as mulheres negras permeia a obra, com a escrita surgindo como uma ferramenta de resistência e afirmação de uma nova identidade. A reflexão sobre a maternidade questiona o mito do instinto materno, propondo uma desromantização do papel tradicional da mãe. A protagonista, em busca de sua própria identidade, desafia as expectativas sociais e por meio da escrita tenta se distanciar do destino lhe imposto para reinventar sua própria existência.</p> Tiago Pereira da Silva Copyright (c) 2025 Inventário https://periodicos.ufba.br/index.php/inventario/article/view/64720 qua, 04 jun 2025 00:00:00 +0000 A MAMÃE FOI TRABALHAR ONDE? https://periodicos.ufba.br/index.php/inventario/article/view/64431 <p>A partir do reconhecimento de que as maternagens de pessoas negras estiveram, historicamente, ancoradas em escritas colonialistas e brancocêntricas, dentro do contexto da literatura brasileira, não podemos deixar de considerar os impactos dessas perspectivas nas construções de nossas subjetividades. Seja por meio da estigmatização ou por meio da anulação de experiências, existe uma falha proposital nessas produções que insiste em cristalizar a negritude em lugares de impossibilidades de construção, sobretudo, de redes de afetos, dentro do trato parental. Contudo, movimentos literários de desestabilizações, fissuras e rompimentos com essas imagéticas, estão sendo feitos, como é o caso da obra <em>A Mãe que Voava</em>, que conta a história da garotinha Alice que assiste sua mãe trabalhar dentro e fora de casa contando com um fator crucial: o de retorno. A experiência do trabalho para mulheres negras fora de suas casas, apoia-se de maneira muito específica, na impossibilidade de um retorno e por consequência com o distanciamento da própria família. O livro nos oferece outras possibilidades que se pautam nos afetos, na presença e na existência de uma maternagem preta que subverte e transgride uma hegemonia da branquitude e atualiza nossas percepções sobre parentalidades negras apontando para a complexidade de nossas experiências.</p> Carla Alexsandra Souza , Lila Santos Copyright (c) 2025 Inventário https://periodicos.ufba.br/index.php/inventario/article/view/64431 qua, 04 jun 2025 00:00:00 +0000 AS VOZES DAS MÃES PRETAS NA OBRA CANTOS DO EQUADOR, DE MELLO MORAES FILHO https://periodicos.ufba.br/index.php/inventario/article/view/66793 <p>Neste artigo faremos uma leitura analítica e atenta das poesias contidas em <em>poemas de escravidão</em>, terceira parte do livro <em>Cantos do Equador</em>, de Mello Moraes Filho, cujos temas sejam relacionados à maternidade da mulher negra. Para uma melhor compreensão desta leitura, antes, abordaremos os contextos históricos, sociais e políticos, que estão relacionados de forma íntima com o tema e corroborados de um extenso arcabouço teórico. Para tratamos destes contextos de maneira correlacionada, realizaremos a seguinte divisão temática: <em>in primo loco</em>, um breve histórico da escravidão e da poesia abolicionista, que emerge como uma das reações do próprio movimento pelo fim da escravidão. Este movimento político envolveu vários seguimentos sociais, inclusive os intelectuais e poetas, como Castro Alves e o próprio Moraes Filho; em seguida, veremos os estereótipos da mulher negra, como se relacionam e se desdobram entre si. Ademais, trataremos da questão mítica em torno destes e de que forma são vistos no imaginário social; por fim, partiremos para leitura dos poemas com temas relacionados as mães pretas, cujas vozes foram silenciadas pela sociedade escravista e opressora de sua época. Tais vozes encontraram um lugar de fala na poesia de Moraes Filho, onde ecoam até os dias de hoje.</p> DANIEL DE ASSIS SOARES Copyright (c) 2025 Inventário https://periodicos.ufba.br/index.php/inventario/article/view/66793 qua, 04 jun 2025 00:00:00 +0000