O MOVIMENTO ZAPATISTA E A INDIGENIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO POPULAR

Autores

DOI:

https://doi.org/10.9771/ccrh.v36i0.52255

Palavras-chave:

Movimento Zapatista, Educação Popular, Descolonização, Cosmopolítica, Chiapas

Resumo

O zapatismo tece um modo de vida autônomo que tem a educação como pilar central. Experimentamos pensar a educação zapatista como uma indigenização da educação popular que potencializa sua descolonização. Para tal, realizamos um panorama da “refundação da educação popular”, evidenciando as rupturas e continuidades de perspectivas interseccionais e freirianas, para, em seguida, discutirmos a educação zapatista a partir de trabalho etnográfico. Aproximando educação e antropologia, destacamos traduções “equívocas” produzidas pelos zapatistas sobre questões caras à educação popular, como autonomia, feminismo e conscientização. Há um deslocamento do humanismo em prol de uma rede de relações com diferentes seres não humanos, e o protagonismo das mulheres, que parte da multiplicidade. Por fim, qualificamos a indigenização zapatista não como retorno a um passado perdido, mas como afirmação da contemporaneidade dos povos a partir da coexistência das temporalidades e saberes, com uma relação própria com a Terra.

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Biografia do Autor

Ana Paula Massadar Morel, Universidade Federal Fluminense

Doutora em Antropologia Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Professora do Departamento Educação, Sociedade e Conhecimento da Universidade Federal Fluminense (UFF). Trabalha com temas relacionados a movimentos sociais, educação popular, autonomias e cosmopolítica.

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Publicado

2023-05-15

Como Citar

Massadar Morel, A. P. (2023). O MOVIMENTO ZAPATISTA E A INDIGENIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO POPULAR. Caderno CRH, 36, e023004. https://doi.org/10.9771/ccrh.v36i0.52255

Edição

Seção

Dossiê 1