ENTRE POPULISMO PENAL E POPULISMO DIGITAL: discursos masculinistas e a comunidade Red Pill no YouTube brasileiro

Autores

DOI:

https://doi.org/10.9771/ccrh.v38i0.66936

Palavras-chave:

Punitivismo, Populismo digital, Masculinidades, Misoginia, Neoliberalismo

Resumo

Este artigo examina a interseção entre o populismo penal, em ascensão no Brasil, e o populismo digital, fenômeno de alcance global, tendo como eixo analítico central a noção de autoritarismo socialmente implantado (Pinheiro, 1991) e como base empírica os discursos (re)produzidos por influenciadores masculinistas da comunidade Red Pill no YouTube brasileiro. O artigo adota uma abordagem pós-estruturalista para compreender a formação desses discursos, quais as suas principais contradições e formas de circulação e perceber de que maneira contribuem para a constituição de um populismo penal, entendido como um movimento que sustenta políticas criminais punitivas baseadas em narrativas de medo, ressentimento e insegurança. Simultaneamente, explora-se a forma como essas narrativas se articulam com o autoritarismo socialmente implantado no Brasil, por um lado, e o populismo digital em ascensão, caracterizado pela mobilização afetiva e pela viralização de conteúdos através das plataformas digitais, por outro. Ao articular o crescimento do populismo penal no Brasil com a expansão global do populismo digital, o artigo mostra como influenciadores masculinistas utilizam o YouTube para moldar discursos de controle social, justiça retributiva e reforço de uma masculinidade hierárquica e excludente.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Verónica Ferreira, Universidade de São Paulo

Doutora em “Discursos: História, Cultura e Sociedade” pela Faculdade de Letras e Faculdade de Economia da Univ. de Coimbra. Licenciou-se em Ciência Política e Relações Internacionais, com mestrado em Relações Internacionais pela Univ. NOVA de Lisboa, e possui uma pósgraduação em Estudos Estratégicos e de Segurança pelo IDN/NOVA. É investigadora com bolsa de pósdoutorado, financiada pela FAPESP (processo n.º 2024/01549-0), no Núcleo de Estudos da Violência da Universidade da Univ. de São Paulo, no âmbito do projeto “Masculinidades no capitalismo digital tardio (des)construção de narrativas masculinistas nas redes sociais brasileiras.” Faz, simultaneamente, parte da equipa do projeto UnCover (CES, Univ. de Coimbra) e colabora com o projeto FEMglocal (CICANT, Univ. Lusófona).

 

CONTRIBUIÇÃO DE AUTORIA:

Verónica Ferreira – Conceitualização. Curadoria de dados. Análise formal. Investigação. Metodologia. Aquisição de financiamento. Administração do projeto. Supervisão. Validação e escrita (esboço original, revisão e edição).

 

DECLARAÇÃO DE DISPONIBILIDADE DE DADOS:

Os dados deste artigo podem ser obtidos mediante solicitação ao autor correspondente.

Referências

ALVAREZ, M. C. I Revisitando a noção de autoritarismo socialmente implantado. Entrevista com Paulo Sérgio Pinheiro. Tempo Social, v. 33, n. 3, p. 301-332, 2021. DOI: 10.11606/0103-2070.ts.2021.187081. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/ts/article/view/187081. Acesso em: 14 jan. 2025.

BANET-WEISER, S. Empowered: Popular Feminism and Popular Misogyny. Durham e London: Duke University Press, 2018, p. 220.

BANET-WEISER, S.; KAY, J. B. Through the looking glass: Feminism and reactionary politics in the digital hall of mirrors. European Journal of Cultural Studies, v. 00, n. 0, p. 1-9, 2025. DOI: 10.1177/13675494241310721. Disponível em https://journals.sagepub.com/doi/pdf/10.1177/13675494241310721. Acesso em: 14 abr. 2025.

BAXTER, J. Feminist Post-structuralist discourse analysis: a new theoretical and methodological approach? In: Harrington, K.; Litosseliti, L.; Sauntson, H.; Sunderland, J. Gender and Language Research Methodologies. New York: Palgrave Macmillan, 2008, cap. XVI, p. 243-255.

BIROLI, F. Gênero e Desigualdades: Limites da Democracia no Brasil. São Paulo: Boitempo, 2018, p. 252.

BIROLI, F. Gênero, ‘valores familiares’ e ‘democracia’. In: BIROLI, F. et al. Gênero, Neoconservadorismo e Democracia. São Paulo: Boitempo, 2018, cap. III, p. 135-188.

BROWN, W. Undoing the Demos: Neoliberalism’s Stealtth Revolution. New York: Zone Books, 2015, 295 p.

BUENO, S. (coord.). Visível e Invisível: a vitimização de mulheres no Brasil. 5. ed. São Paulo: Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 2025. Disponível em: https://publicacoes.forumseguranca.org.br/handle/123456789/269. Acesso em: 5 abr. 2025.

BUENO, S. et al. Feminicídios em 2023. São Paulo: Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 2024. Disponível em: https://publicacoes.forumseguranca.org.br/handle/123456789/244. Acesso em: 14 jan. 2025.

CESARINO, L. As ideias voltaram ao lugar? Temporalidades não lineares no liberalismo autoritário brasileiro e sua infraestrutura digital. Caderno CRH, v. 34, p. 1-18, e021022, 2021. DOI: 10.9771/ccrh.v34i0.44377. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ccrh/a/9cxXP4r9pj6NHPkTKZVgqzc/. Acesso em: 14 jan. 2025.

CESARINO, L. Como vencer uma eleição sem sair de casa: a ascensão do populismo digital no Brasil. Internet & Sociedade, v. 1, n. 1, p. 91-120, fev. 2020. Disponível em https://revista.internetlab.org.br/serifcomo-vencer-umaeleicao-sem-sair-de-casa-serif-a-ascensao-do-populismodigital-no-brasil/. Acesso em: 14 jan. 2025.

COOPER, M. Family Values: Between Neoliberalism and the New Social Conservatios. New York: Zone Books, 2017, p. 447.

COSTON, B. M.; KIMMEL, M. White men as the new victims: reverse discrimination cases and the Men’s Rights Movement. Nev. LJ v. 13, 2012, p. 368-385. Disponível em: https://scholars.law.unlv.edu/nlj/vol13/iss2/5. Acesso em: 5 abr. 2025.

FALUDI, S. Backlash: The Undeclared War Against Woman. New York: Anchor Books, 1991, p. 552.

FOUCAULT, M. A Ordem do Discurso. Lisboa: Relógio D’Água, 1997, p. 58.

FOUCAULT, M. Microfísica do Poder. Rio de Janeiro; São Paulo: Paz e Terra, 2023, p. 431.

FOUCAULT, M. Nascimento da Biopolítica. São Paulo: Martins Fontes, 2008, p. 480.

FRASER, N. Destinos do Feminismo: do capitalismo administrado pelo Estado à crise neoliberal. Tradução de Diogo Fagundes. São Paulo: Boitempo, 2024, p. 287.

FRASER, N. Rethinking the Public Sphere: A Contribution to the Critique of Actually Existing Democracy. Social Text n. 25/26, 1990, p. 56-80. DOI: 10.2307/466240. Disponível em: https://www.jstor.org/stable/466240. Acesso em: 5 abr. 2025.

GERBAUDO, P. Populism 2.0: Social Media Activism, the Generic Internet User and Interactive Direct Democracy. In: Trottier, Daniel; Fuchs Christian. Social Media, Politics and the State: Protests, Revolutions, Riots, Crime and Policing in the Age of Facebook, Twitter and YouTube. Nova Iorque: Routledge, 2015, cap. 3, p. 67-87.

HABERMAS, J. Uma Nova Mudança Estrutural da Esfera Pública e a Política Deliberativa. São Paulo: Editora UNESP, 2023, p. 125.

HOLANDA, S. B. Raízes do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 2021.

HORWITZ, R. B. Politics as Victimhood, Victimhood as Politics. The Journal of Policy History, v. 30, n. 3, p. 552-574, 2018. DOI: 10.1017/S0898030618000209. Acesso em: 5 abr. 2025

LACLAU, E. Politics and Ideology in Marxist Theory: capitalism, fascism, populism. London: NLB, 1977.

MALDONADO, M. A. Las Bases Afectivas del Populismo. Revista Internacional de Pensamiento Político, v. 12, p. 151-167, 2017. Disponível em: https://www.upo.es/revistas/index.php/ripp/article/view/3257. Acesso em: 14 jan. 2025.

MCROBBIE, A. The Aftermath of Feminism: gender, culture and social change. London: SAGE Publications, 2009.

MBEMBE, A. Necropolitics. Durham e London: Duke University Press, 2019. p. 224.

MIGUEL, V. M.; PRIORI, L. Seja Misógino e Fique Rico: As interseções entre cultura de aconselhamento financeira e discurso de ódio. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO, 46.2023, Minas Gerais. Anais...: Belo Horizonte: Pontíficia Universidade Católica de Minas Gerais, Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares de Comunicação, 2023, p. 1-15. MOUFFE, C. The ‘End of Politics’ and the Challenge of Right-wing Populism. In: Panizza, Francisco. Populism and the Mirror of Democracy. London;New York: Verso, 2005, cap. II, p. 50-71.

PINHEIRO, P. S. Autoritarismo e transição. Revista USP, São Paulo, n. 9, p. 45-56, 1991. DOI: 10.11606/issn.2316-9036.v0i9p45-56. Disponível em: https://revistas.usp.br/revusp/article/view/25547. Acesso em: 14 jan. 2025.

SANTINI, R. M.; et al.. “Aprenda a evitar ‘esse tipo’ de mulher”: estratégias discursivas e monetização da misoginia no YouTube. Rio de Janeiro: NetLab – Laboratório de Estudos de Internet e Redes Sociais, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFR) 2024. Disponível em: https://netlab.eco.ufrj.br/en/post/learn-how-to-avoid-thattype-of-woman-discursive-strategies-and-monetizationof-misogyny-on-you. Acesso a 15/08/2025.

SOUZA, A. T. et al. Criminologia conservadora nas plataformas digitais: governamentalidade, crime e drogas nas práticas discursivas de extrema direita brasileira. Revista Brasileira de Ciências Criminais, v. 196, n. 31, 2023, p. 271-295. Disponível em: https://publicacoes.ibccrim.org.br/index.php/RBCCRIM/article/view/151. Acesso em: 14 jan. 2025.

SCHWARCZ, L. M.; STARLING, H. M. Brasil: uma biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.

SCHWARCZ, L. M. Sobre o Autoritarismo Brasileiro: uma breve história de cinco séculos. Lisboa: Objetiva, 2020.

REZENDE, D. L. Patriarcado e formação do Brasil: uma leitura feminista de Oliveira Vianna e Sérgio Buarque de Holanda. Pensamento Plural, v. 17, p. 07-27, Julho-Dezembro, 2015

ROCHA, C.; MEDEIROS, J. 2022: o pacto de 1988 sob a Espada de Dâmocles. Estudos Avançados, v. 36, n. 105, 2022, p. 65-84. DOI: 10.1590/s0103-4014.2022.36105.005. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ea/a/FHFPnzg8psnzt6Kxn6KqGcx/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 15 agosto 2025.

ROCHA, C. “Imposto é Roubo!” A Formação de um Contrapúblico Ultraliberal e os Protestos Pró-Impeachment de Dilma Rousseff. Dados, v. 62, n. 3, e20190076, 2019, p. 1-42. DOI: 10.1590/001152582019189. Disponível em: https://www.scielo.br/j/dados/a/xtmSkTyVvY4SRn3tpkNZhZR/?format=pdf&lang=pt.Acesso em: 15 agosto 2025.

WACQUANT, L. Punir os Pobres: a nova gestão da miséria nos Estados Unidos. Rio de Janeiro: Revan, 2009.

Downloads

Publicado

2025-12-15

Como Citar

Ferreira, V. (2025). ENTRE POPULISMO PENAL E POPULISMO DIGITAL: discursos masculinistas e a comunidade Red Pill no YouTube brasileiro. Caderno CRH, 38, e025065. https://doi.org/10.9771/ccrh.v38i0.66936

Edição

Seção

Dossiê 3