ENTRE POPULISMO PENAL E POPULISMO DIGITAL: discursos masculinistas e a comunidade Red Pill no YouTube brasileiro
DOI:
https://doi.org/10.9771/ccrh.v38i0.66936Palavras-chave:
Punitivismo, Populismo digital, Masculinidades, Misoginia, NeoliberalismoResumo
Este artigo examina a interseção entre o populismo penal, em ascensão no Brasil, e o populismo digital, fenômeno de alcance global, tendo como eixo analítico central a noção de autoritarismo socialmente implantado (Pinheiro, 1991) e como base empírica os discursos (re)produzidos por influenciadores masculinistas da comunidade Red Pill no YouTube brasileiro. O artigo adota uma abordagem pós-estruturalista para compreender a formação desses discursos, quais as suas principais contradições e formas de circulação e perceber de que maneira contribuem para a constituição de um populismo penal, entendido como um movimento que sustenta políticas criminais punitivas baseadas em narrativas de medo, ressentimento e insegurança. Simultaneamente, explora-se a forma como essas narrativas se articulam com o autoritarismo socialmente implantado no Brasil, por um lado, e o populismo digital em ascensão, caracterizado pela mobilização afetiva e pela viralização de conteúdos através das plataformas digitais, por outro. Ao articular o crescimento do populismo penal no Brasil com a expansão global do populismo digital, o artigo mostra como influenciadores masculinistas utilizam o YouTube para moldar discursos de controle social, justiça retributiva e reforço de uma masculinidade hierárquica e excludente.
Downloads
Referências
ALVAREZ, M. C. I Revisitando a noção de autoritarismo socialmente implantado. Entrevista com Paulo Sérgio Pinheiro. Tempo Social, v. 33, n. 3, p. 301-332, 2021. DOI: 10.11606/0103-2070.ts.2021.187081. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/ts/article/view/187081. Acesso em: 14 jan. 2025.
BANET-WEISER, S. Empowered: Popular Feminism and Popular Misogyny. Durham e London: Duke University Press, 2018, p. 220.
BANET-WEISER, S.; KAY, J. B. Through the looking glass: Feminism and reactionary politics in the digital hall of mirrors. European Journal of Cultural Studies, v. 00, n. 0, p. 1-9, 2025. DOI: 10.1177/13675494241310721. Disponível em https://journals.sagepub.com/doi/pdf/10.1177/13675494241310721. Acesso em: 14 abr. 2025.
BAXTER, J. Feminist Post-structuralist discourse analysis: a new theoretical and methodological approach? In: Harrington, K.; Litosseliti, L.; Sauntson, H.; Sunderland, J. Gender and Language Research Methodologies. New York: Palgrave Macmillan, 2008, cap. XVI, p. 243-255.
BIROLI, F. Gênero e Desigualdades: Limites da Democracia no Brasil. São Paulo: Boitempo, 2018, p. 252.
BIROLI, F. Gênero, ‘valores familiares’ e ‘democracia’. In: BIROLI, F. et al. Gênero, Neoconservadorismo e Democracia. São Paulo: Boitempo, 2018, cap. III, p. 135-188.
BROWN, W. Undoing the Demos: Neoliberalism’s Stealtth Revolution. New York: Zone Books, 2015, 295 p.
BUENO, S. (coord.). Visível e Invisível: a vitimização de mulheres no Brasil. 5. ed. São Paulo: Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 2025. Disponível em: https://publicacoes.forumseguranca.org.br/handle/123456789/269. Acesso em: 5 abr. 2025.
BUENO, S. et al. Feminicídios em 2023. São Paulo: Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 2024. Disponível em: https://publicacoes.forumseguranca.org.br/handle/123456789/244. Acesso em: 14 jan. 2025.
CESARINO, L. As ideias voltaram ao lugar? Temporalidades não lineares no liberalismo autoritário brasileiro e sua infraestrutura digital. Caderno CRH, v. 34, p. 1-18, e021022, 2021. DOI: 10.9771/ccrh.v34i0.44377. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ccrh/a/9cxXP4r9pj6NHPkTKZVgqzc/. Acesso em: 14 jan. 2025.
CESARINO, L. Como vencer uma eleição sem sair de casa: a ascensão do populismo digital no Brasil. Internet & Sociedade, v. 1, n. 1, p. 91-120, fev. 2020. Disponível em https://revista.internetlab.org.br/serifcomo-vencer-umaeleicao-sem-sair-de-casa-serif-a-ascensao-do-populismodigital-no-brasil/. Acesso em: 14 jan. 2025.
COOPER, M. Family Values: Between Neoliberalism and the New Social Conservatios. New York: Zone Books, 2017, p. 447.
COSTON, B. M.; KIMMEL, M. White men as the new victims: reverse discrimination cases and the Men’s Rights Movement. Nev. LJ v. 13, 2012, p. 368-385. Disponível em: https://scholars.law.unlv.edu/nlj/vol13/iss2/5. Acesso em: 5 abr. 2025.
FALUDI, S. Backlash: The Undeclared War Against Woman. New York: Anchor Books, 1991, p. 552.
FOUCAULT, M. A Ordem do Discurso. Lisboa: Relógio D’Água, 1997, p. 58.
FOUCAULT, M. Microfísica do Poder. Rio de Janeiro; São Paulo: Paz e Terra, 2023, p. 431.
FOUCAULT, M. Nascimento da Biopolítica. São Paulo: Martins Fontes, 2008, p. 480.
FRASER, N. Destinos do Feminismo: do capitalismo administrado pelo Estado à crise neoliberal. Tradução de Diogo Fagundes. São Paulo: Boitempo, 2024, p. 287.
FRASER, N. Rethinking the Public Sphere: A Contribution to the Critique of Actually Existing Democracy. Social Text n. 25/26, 1990, p. 56-80. DOI: 10.2307/466240. Disponível em: https://www.jstor.org/stable/466240. Acesso em: 5 abr. 2025.
GERBAUDO, P. Populism 2.0: Social Media Activism, the Generic Internet User and Interactive Direct Democracy. In: Trottier, Daniel; Fuchs Christian. Social Media, Politics and the State: Protests, Revolutions, Riots, Crime and Policing in the Age of Facebook, Twitter and YouTube. Nova Iorque: Routledge, 2015, cap. 3, p. 67-87.
HABERMAS, J. Uma Nova Mudança Estrutural da Esfera Pública e a Política Deliberativa. São Paulo: Editora UNESP, 2023, p. 125.
HOLANDA, S. B. Raízes do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 2021.
HORWITZ, R. B. Politics as Victimhood, Victimhood as Politics. The Journal of Policy History, v. 30, n. 3, p. 552-574, 2018. DOI: 10.1017/S0898030618000209. Acesso em: 5 abr. 2025
LACLAU, E. Politics and Ideology in Marxist Theory: capitalism, fascism, populism. London: NLB, 1977.
MALDONADO, M. A. Las Bases Afectivas del Populismo. Revista Internacional de Pensamiento Político, v. 12, p. 151-167, 2017. Disponível em: https://www.upo.es/revistas/index.php/ripp/article/view/3257. Acesso em: 14 jan. 2025.
MCROBBIE, A. The Aftermath of Feminism: gender, culture and social change. London: SAGE Publications, 2009.
MBEMBE, A. Necropolitics. Durham e London: Duke University Press, 2019. p. 224.
MIGUEL, V. M.; PRIORI, L. Seja Misógino e Fique Rico: As interseções entre cultura de aconselhamento financeira e discurso de ódio. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO, 46.2023, Minas Gerais. Anais...: Belo Horizonte: Pontíficia Universidade Católica de Minas Gerais, Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares de Comunicação, 2023, p. 1-15. MOUFFE, C. The ‘End of Politics’ and the Challenge of Right-wing Populism. In: Panizza, Francisco. Populism and the Mirror of Democracy. London;New York: Verso, 2005, cap. II, p. 50-71.
PINHEIRO, P. S. Autoritarismo e transição. Revista USP, São Paulo, n. 9, p. 45-56, 1991. DOI: 10.11606/issn.2316-9036.v0i9p45-56. Disponível em: https://revistas.usp.br/revusp/article/view/25547. Acesso em: 14 jan. 2025.
SANTINI, R. M.; et al.. “Aprenda a evitar ‘esse tipo’ de mulher”: estratégias discursivas e monetização da misoginia no YouTube. Rio de Janeiro: NetLab – Laboratório de Estudos de Internet e Redes Sociais, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFR) 2024. Disponível em: https://netlab.eco.ufrj.br/en/post/learn-how-to-avoid-thattype-of-woman-discursive-strategies-and-monetizationof-misogyny-on-you. Acesso a 15/08/2025.
SOUZA, A. T. et al. Criminologia conservadora nas plataformas digitais: governamentalidade, crime e drogas nas práticas discursivas de extrema direita brasileira. Revista Brasileira de Ciências Criminais, v. 196, n. 31, 2023, p. 271-295. Disponível em: https://publicacoes.ibccrim.org.br/index.php/RBCCRIM/article/view/151. Acesso em: 14 jan. 2025.
SCHWARCZ, L. M.; STARLING, H. M. Brasil: uma biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.
SCHWARCZ, L. M. Sobre o Autoritarismo Brasileiro: uma breve história de cinco séculos. Lisboa: Objetiva, 2020.
REZENDE, D. L. Patriarcado e formação do Brasil: uma leitura feminista de Oliveira Vianna e Sérgio Buarque de Holanda. Pensamento Plural, v. 17, p. 07-27, Julho-Dezembro, 2015
ROCHA, C.; MEDEIROS, J. 2022: o pacto de 1988 sob a Espada de Dâmocles. Estudos Avançados, v. 36, n. 105, 2022, p. 65-84. DOI: 10.1590/s0103-4014.2022.36105.005. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ea/a/FHFPnzg8psnzt6Kxn6KqGcx/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 15 agosto 2025.
ROCHA, C. “Imposto é Roubo!” A Formação de um Contrapúblico Ultraliberal e os Protestos Pró-Impeachment de Dilma Rousseff. Dados, v. 62, n. 3, e20190076, 2019, p. 1-42. DOI: 10.1590/001152582019189. Disponível em: https://www.scielo.br/j/dados/a/xtmSkTyVvY4SRn3tpkNZhZR/?format=pdf&lang=pt.Acesso em: 15 agosto 2025.
WACQUANT, L. Punir os Pobres: a nova gestão da miséria nos Estados Unidos. Rio de Janeiro: Revan, 2009.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Todo o conteúdo da revista, exceto onde indicado de outra forma, é licenciado sob uma atribuição do tipo Creative Commons BY.
O periódico Caderno CRH on-line é aberto e gratuito.