Baphos Babadeiros de Gênero, Sexualidade e Saúde: Debates Contemporâneos

2022-01-25

A presente proposta de dossiê temático tem o intuito de congregar pesquisas (concluídas e/ou em andamento) e reflexões, de caráter teórico ou empírico, em que a articulação entre gênero, sexualidade e saúde se façam presentes. Com esse dossiê desejamos acessar reflexões e problematizações interdisciplinares comprometidas com uma perspectiva crítica, pós-crítica e/ou interseccional sobre saúde na contemporaneidade. O tempo histórico presente se mantém convidativo às reflexões nessa temática e perspectivas. Ele nos apresenta provocações instigantes para novas reflexões e análises em um campo temático histórico na área das Ciências Humanas e Sociais.

Ao nos inspirarmos na linguagem cotidiana e amplamente utilizada pelas/os LGBTQIA+, desejamos chamar a atenção para os aspectos éticos, estéticos, políticos, simbólicos, que cercam o debate sobre saúde no Brasil à luz dos estudos de gênero e sexualidade. Acreditamos que o complexo cenário político-pandêmico por nós vivenciado ao longo dos últimos dois anos (tomando como marco a descoberta dos primeiros casos de Covid-19 no país em março de 2020), caracterizado por uma grave crise sanitária e humanitária, pela disseminação de fake-news, pelo ataque e desmantelamento das políticas públicas orquestrado pelo atual governo federal, pelo crescimento do movimento negacionista e anti-vacina, pela moralização das políticas de saúde e do debate sobre direitos sexuais e reprodutivos, pela desqualificação de docentes e discentes de Universidades Públicas e de pesquisadoras e pesquisadores dos principais Centros de Pesquisa nacionais, tornam-se elementos privilegiados para uma análise crítica.

Não por acaso uma expressão recorrente, tanto em experiências online como offline, é a “VivaoSUS”, nos permitindo discutir a respeito de articulações criativas em defesa de políticas públicas em um contexto transnacional cada vez mais caracterizado por neoliberalismos e conservadorismos diversos. Em relação ao Brasil, em um período pandêmico da Covid-19 em que as eleições se fazem presentes, as diferenças de gênero e sexualidade no campo da saúde parecem nos provocar ainda mais a produzir análises comprometidas com a crítica sobre a produção das diferenças.

Nesse exercício crítico-reflexivo apelar para uma (est)ética do “bapho” e do “babado” nos permite não perder de vista os modos pelos quais sujeitos e/ou coletivos marcados pelo gênero e a sexualidade atuam, tencionam, disputam, negociam, agenciam concepções próprias de corpo, cuidado e saúde. Quando nos referimos a coletivos queremos dizer grupos organizados ou não, identitários ou não, mobilizados ou não, auto-compreendidos enquanto grupo ou não. A inspiração baphônica e babadeira aqui está para além dos seus usos originários, nos ensinando a pensar e aglutinar processos de agenciamentos inclusive não relacionados com o que se tem identificado como LGBTQIA+.

É importante dizer que, de longa data, as ciências humanas e sociais, a partir de uma diversidade de perspectivas teóricas e metodológicas, têm revelado o quanto as compreensões em torno das noções de corpo e saúde estão sustentadas em pressupostos generificados e sexualizados. Especificamente com relação ao Brasil, atualmente são inúmeros os temas de pesquisa na interface gênero, sexualidade e saúde, onde encontramos o protagonismo de diferentes gerações de pesquisadoras e pesquisadores, que pertencentes a distintos campos disciplinares, têm se voltado aos temas: gênero e saúde mental; saúde da população LGBTQIA+; transexualidades; gênero e pandemias; gênero, sexualidade, saúde e marcadores sociais de diferença; saúde e ativismos digitais, educação e saúde, dentre outros.   

Esperamos, diante de um cenário tão rico e ao mesmo tempo complexo e desafiador, receber contribuições críticas de diferentes áreas disciplinares, sustentadas em seus respectivos referenciais teórico-metodológicos, que possam evidenciar as aproximações e os distanciamentos em relação às pautas clássicas dos estudos de gênero, sexualidade e saúde; as gramáticas morais em torno dos debates sobre o tema; as lógicas individuais, coletivas e/ou institucionais que incidem sobre sua produção; os modos locais e globais de produção de saúde e autonomia face aos arranjos sociopolíticos contemporâneos, tais como a nova direita e o campo da saúde; os ativismos contemporâneos engajados no debate e na luta sobre direitos sexuais e produtivos e saúde; as dinâmicas e pautas sobre educação em saúde e a luta por equidade; debates e ações em saúde na perspectiva dos marcadores sociais de diferença; experiências e narrativas de gênero, sexualidade e saúde em contextos interioranos e/ou rurais; os sentidos de corpo e saúde à luz da perspectiva de gênero e sexualidade; dentre outros temas correlatos.

 

Esmael Alves de Oliveira –UFGD

esmaeloliveira@ufgd.edu.br 

 

Patrícia Rosalba Salvador Moura Costa – UFS 

patriciarosalba@gmail.com 

 

Tiago Duque – UFMS

tiago.duque@ufms.br 

 

 

Caso queira enviar artigo para avaliação, seguem as informações: 

Data: De 25 de janeiro de 2022 até 25 de abril 2022

Enviar para a revista Cadernos de Gênero e Diversidade, através do link:

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