Dignidade animal na justificação dos direitos animais
DOI:
https://doi.org/10.9771/rbda.v17i1.36832Palavras-chave:
Senciência, Dignidade animal, Direitos animais, Christine Korsgaard.Resumo
Este artigo aborda a consistência da ideia de dignidade na justificação dos direitos animais. Por influência de Kant, a dignidade é vista como atributo exclusivo do ser humano, em virtude de sua racionalidade e autonomia. Este atributo pode ser estendido aos animais? O trabalho mostrará como quatro filósofos da ética animal enfrentaram esse problema: Peter Singer, Tom Regan, Gary Francione e Christine Korsgaard. Veremos como a senciência, em Singer, embasa a igual consideração de interesses entre animais e seres humanos, sem, no entanto, atribuir direitos àqueles. Regan parte de outro fundamento: os animais devem ter direitos porque são sujeitos de uma vida. Francione considera confuso e restritivo o critério utilizado por Regan, reabilitando a senciência e defendendo que todos os animais sencientes devem ser invioláveis. A inviolabilidade traduz-se na personalidade: os animais devem ser pessoas para não serem utilizados como propriedade. Korsgaard concorda que a senciência é o critério para que animais devam ser sujeitos de direito, aduzindo que são fins em si mesmos tão somente pela senciência. Diferentemente dos seres humanos, porém, são fins em si mesmos em sentido passivo, o que não os impede de terem dignidade, no sentido kantiano. Ao reinterpretar Kant, Korsgaard articula o vínculo entre senciência e dignidade, permitindo falar-se em dignidade animal como fundamento, filosoficamente embasado, dos direitos animais.
Downloads
Referências
BENTHAM, Jeremy. An Introduction to the Principles of Morals and Legislation. Oxford: University Press, 1996.
BENTHAM, Jeremy. "Anarchichal Fallacies, Being an Examination of the Declaration of Rights Issued During the French Revolution". In The Works of Jeremy Bentham. Edinburgh: William Tait, 1843, v. 2.
BRASIL. Senado Federal. Projeto de Lei sobre o status jurídico dos animais. Projeto de Lei da Câmara nº 27/2018. In <https://legis.senado.leg.br/sdleg-getter/documento?dm=7987790&ts=1574367803486&disposition=inline>, acesso em 22 abr 2020. Redação aprovada pelo Senado Federal em 07 ago 2019, encaminhada à Câmara dos Deputados, conforme Diário do Senado Federal de 08 ago 2019, p. 105-122, in <https://legis.senado.leg.br/diarios/ver/101561?sequencia=122>, acesso em 22 abr 2020.
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Acórdão de decisão julgou inconstitucional lei estadual sobre vaquejada. ADI nº 4983-CE. Rel. Min. Marco Aurélio. DJE nº 87, 26 abr 2017. Acórdão e votos em <http://portal.stf.jus.br/processos/downloadPeca.asp?id=311683661&ext=.pdf>. Acesso em 24 nov 2021.
COHEN, Carl e REGAN, Tom. The Animal Rights Debate. Lanham: Rowman, 2001.
BROOM, Donald. Sentience and Animal Welfare. Oxfordshire: Cabi, 2014.
COMPARATO, Fábio Konder. A Afirmação Histórica dos Direitos Humanos. São Paulo: Saraiva, 1999.
DARWIN, Charles. The Descent of Man. In WISE, Al (ed.). Charles Darwin Collection. Annotated Classics, 2013.
FELIPE, Sonia T. Por Uma Questão de Princípios: Alcance e Limites da Ética de Peter Singer em Defesa dos Animais. Florianópolis: Boiteux, 2003.
FENSTERSEIFER, Tiago e SARLET, Ingo Wolfgang. Direito Constitucional Ecológico. 7ª ed. São Paulo: RT, 2021.
FRANCIONE. "Animals: property or persons?". In NUSSBAUM, Martha e SUNSTEIN, Cass (orgs.). Animal Rights: Current Debates and New Directions. New York: Oxford University Press, 2004.
FRANCIONE, Gary. Introdução aos Direitos Animais. Campinas: Unicamp, 2013.
FREIRE, Pedro Henrique de S. G.. ”Dignidade humana e dignidade animal”. In Revista Brasileira de Direito Animal, Salvador, BA, v. 7, n. 11, ISSN: 1809-9092, dez.2012, p. 59-77. DOI: <https://doi.org/10.9771/rbda.v7i11.8416>.
KANT, Immanuel. Fundamentação da Metafísica dos Costumes. Lisboa: Ed. 70, 2002.
KORSGAARD, Christine. "A Kantian Case for Animal Rights". In MICHEL, Margot et alli (orgs.). Animal Law: Developments and Perspectives in the 21st Century. Zurich: Dike, 2012.
KORSGAARD, Christine. Fellow Creatures: Our Obligations to Other Animals. Oxford: University Press, 2018.
KORSGAARD, Christine. "Kantian Ethics, Animals, and the Law". In Oxford Journal of Legal Studies, v. 33, n. 4, 2013, p. 5. Disponível em < <http://www.people.fas.harvard.edu/~korsgaar/CMK.Hart.Lecture.pdf>, acesso em 06 mai 2020.
LOURENÇO, Daniel Braga. Qual o Valor da Natureza? Uma Introdução à Ética Ambiental. São Paulo: Elefante, 2019.
MONTORO, André Franco. Introdução ao Estudo do Direito. 29ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011 .
NUSSBAUM, Martha. "Beyond ´Compassion and Humanity´: Justice for Nonhuman Animals". In NUSSBAUM, Martha e SUNSTEIN, Cass (orgs.). Animal Rights: Current Debates and New Directions. New York: Oxford University Press, 2004.
NUSSBAUM, Martha. "The capabilities approach and animal entitlements". In BEAUCHAMP, Tom e FREY, R. The Oxford Handbook of Animal Ethics. Oxford: University Press, 2011.
REGAN, Tom. The Case for Animal Rights. Berkeley: University of California, 2004.
SARLET, Ingo Wolfgang. A Dignidade da Pessoa Humana e Direitos Fundamentais na Constituição Federal de 1988. 4a ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2006.
SINGER, Peter. Animal Liberation. New York: Harper, 2009.
SINGER, Peter. Ética Prática. São Paulo: Martins Fontes, 2002.
TRINDADE, Gabriel Garmendia da. Animais como Pessoas: a Abordagem Abolicionista de Gary L. Francione. Jundiaí: Paco, 2014.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2022 Revista Brasileira de Direito Animal
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial 4.0 International License.
1. Autores mantém os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional que permite o compartilhamentodo trabalho com reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta revista.
2. Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista.
3. Autores têm permissão e são estimulados a publicar e distribuir seu trabalho online (ex.: em repositórios institucionais ou na sua página pessoal) a qualquer ponto antes ou durante o processo editorial, já que isso pode gerar alterações produtivas, bem como aumentar o impacto e a citação do trabalho publicado.