CAPITALISMO INDUSTRIAL DE PLATAFORMA: externalizações, sínteses e resistências

Autores

DOI:

https://doi.org/10.9771/ccrh.v35i0.49956

Palavras-chave:

Capitalismo Industrial de Plataforma, Externalizações., Resistências., Trabalho Plataformizado., Ação Sindical.

Resumo

Na contramão das teses da sociedade pós-industrial, o artigo desenvolve o argumento de que as plataformas digitais sintetizam contemporaneamente a radicalização e o  espraiamento da lógica produtiva industrial. Ao analisar o capitalismo de plataforma e os  mecanismos de externalização da produção,  considera que as plataformas são apenas a ponta do iceberg e a comprovação empírica do  desenvolvimento da lógica industrial, da produção de
mercadorias (produto ou serviço, material e/ou imaterial, tangível ou intangível). Trata-se, assim, de um capitalismo industrial de plataforma. Com esse processo em curso, observa-se a tendência de espraiamento da plataformização do trabalho e suas formas de exploração de trabalho, de relações de trabalho destituídas de direitos que, por sua vez, encontram resistência nas lutas dos trabalhadores e trabalhadoras que desnudam a faceta perversa
do trabalho plataformizado.

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Biografia do Autor

Henrique Amorim, Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP

Doutor em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Professor de Sociologia do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do Estado de São Paulo (Unifesp). Coordenador do Grupo de Pesquisa Classes Sociais e Trabalho (GPCT). Pesquisador da Rede de Estudos Interdisciplinares e Acompanhamento da Reforma Trabalhista (Remir).

Ana Claudia Moreira Cardoso, Pesquisadora Independente.

Realizou doutorado em cotutela entre a Universidade de São Paulo e a Universidade de Paris 8, e pesquisas de pós-doutorado pela Universidade de Brasília (UnB), em 2011, e pelo Centre de Recherche Sociologique et Politique de Paris (CRESPPA), em 2013. Trabalhou no Dieese, foi professora visitante na UFJF e pesquisadora do Instituto Sindical Europeu (ETUI), Bruxelas. Atualmente, é assessora sindical e pesquisadora do GT Trabalho Digital da Rede de Estudos Interdisciplinares e Acompanhamento da Reforma Trabalhista (REMIR).

Maria Aparecida Bridi, Universidade Federal do Paraná

Doutora em Sociologia pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Professora do Departamento de Sociologia (DECISO) e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da UFPR, do qual foi coordenadora no período de 2016 a 2020. Professora visitante no Colégio de México (2021/22). Integra a coordenação nacional da Rede de Estudos Interdisciplinares e Acompanhamento da Reforma Trabalhista (REMIR). Coordena o Grupo de Estudos do Trabalho e da Sociedade (GETS/CNPq) e integra o
Grupo de Pesquisa Clínica em Direito do Trabalho (PPGD/UFPR). Publicou, entre outros textos, as obras
Trabalhadores em tecnologias da informação e sindicalismo no Brasil: o que há de novo no horizonte?
(2021); e Trabalhadores dos anos 2000: o sentido da ação coletiva na fábrica de nova geração (2009);
Em coautoria: Flexíveis, virtuais e precários? Os trabalhadores em tecnologia da informação (2018);
Sindicalismo na Era Lula (2014); e Sociologia: um olhar crítico (2013, 4ª reimp.).

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Publicado

2022-10-10

Como Citar

Amorim, H., Moreira Cardoso, A. C., & Bridi, M. A. (2022). CAPITALISMO INDUSTRIAL DE PLATAFORMA: externalizações, sínteses e resistências. Caderno CRH, 35, e022021. https://doi.org/10.9771/ccrh.v35i0.49956

Edição

Seção

Dossiê 2