A REVOLTA DOS BASTARDOS: do Pentecostalismo ao Bolsonarismo

Autores

  • Mariana Cortês Universidade Federal de Uberlândia. Instituto de Ciências Sociais

DOI:

https://doi.org/10.9771/ccrh.v34i0.46419

Palavras-chave:

Neoliberalismo autoritário, Pentecostalismo, Bolsonarismo, Recusa da humilhação, Bastardos

Resumo

O artigo pretende oferecer uma contribuição teórico-metodológica para o debate sobre o neoliberalismo autoritário, a partir da perspectiva das margens, mais especificamente, do movimento pentecostal. Ao traçar uma genealogia da expansão do pentecostalismo durante as três décadas da Nova República, o texto argumenta que algumas dimensões presentes na virada autoritária brasileira foram gestadas nas agências pentecostais, como o diagrama da guerra, a recusa da humilhação, o dispositivo anti-autoridade e a gramática do empreendedorismo. Toma-se como tese central que o pentecostalismo e o bolsonarismo podem ser descritos como uma revolta dos “bastardos”. Das margens ao Estado, pretende-se analisar como uma contestação dos indivíduos periféricos que ocupam posições “ambíguas” dentro do campo religioso tem uma conexão com uma insurreição  conservadora, que visa alcançar posições institucionais nos poderes legislativo, executivo
e judiciário, a partir de sujeitos que ocupavam posições heterodoxas em vários campos de atuação, como o jurídico, o político, o militar, o acadêmico. 

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Biografia do Autor

Mariana Cortês, Universidade Federal de Uberlândia. Instituto de Ciências Sociais

Doutorada em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Campinas (2012). Professora do Instituto de Ciências Sociais e do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Universidade Federal de Uberlândia. Coordenadora do Travessias – Grupo de Pesquisas Urbanas. Realizou estágio-doutoral na École des Hautes Études en Sciences Sociales, Paris, França (2009). Tem experiência na área de Sociologia, atuando nos seguintes temas: teoria sociológica; religião; violência; neoliberalismo;
psiquiatria; sofrimento. É autora dos livros O bandido que virou pregador: A conversão de criminosos ao pentecostalismo e suas carreiras de pregadores (2007) e Diabo e fluoxetina: Pentecostalismo e Psiquiatria na gestão da diferença. 2017.

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Publicado

2021-11-29

Como Citar

Cortês, M. (2021). A REVOLTA DOS BASTARDOS: do Pentecostalismo ao Bolsonarismo. Caderno CRH, 34, e021025. https://doi.org/10.9771/ccrh.v34i0.46419

Edição

Seção

Dossiê 2