POPULISMO PENAL OU DIGITAL? DISCURSOS DA DIREITA BRASILEIRA NO FACEBOOK
DOI:
https://doi.org/10.9771/ccrh.v38i0.67186Palavras-chave:
Populismo penal, Populismo digital, Segurança pública, Análise de discurso, EnquadramentosResumo
Este artigo analisou as possíveis relações entre os chamados “populismo penal” e “populismo digital”. Para tanto, observamos as relações entre tais fenômenos a partir das postagens no Facebook durante a pandemia de Covid-19 (2020-2021) de políticos brasileiros vinculados à direita e à extrema-direita, e que apresentam altos índices de engajamento, com enfoque nos enquadramentos que conferiram à agenda da segurança pública. Problematizamos se a noção de populismo, seja penal ou digital, é pertinente à caracterização destas narrativas, o que se concretizou para algumas postagens. Contudo, os dados revelam que essa narrativa no Brasil é parcialmente antissistêmica e possui uma característica peculiar: a construção da imagem das polícias como aliadas da classe trabalhadora.
Downloads
Referências
ABERCOMBIE, N; HILL, S; TURNER, B. The Pinguin Dictionary of Sociology. 15 ed. [s.l.]: Pinguin Books, 2006.
ADORNO, S. A criminalidade urbana violenta no Brasil: um recorte temático. BIB – Boletim Informativo e Bibliográfico de Ciências Sociais, São Paulo, v. 35, p. 3-24, 1993.
ALCÂNTARA, L.; BRINGEL, B. Dos zapatistas aos indignados: mudanças na geopolítica das solidariedades transnacionais. Revista Educação e Sociedade, Campinas, v. 41, 2020.
ANITUA, G. I. ¿Qué cosa es el “populismo punitivo”?. PoDeS - Grupo de Estudos Críticos en Política, Derecho y Sociedade, 07 jul. 2022.
AQUINO, J.; HIRATA, D. Inserções etnográficas ao universo do crime: algumas considerações sobre pesquisas realizadas no Brasil entre 2000 e 2017. BIB - Revista Brasileira de Informação Bibliográfica em Ciências Sociais, São Paulo, v. 84, n. 2, p. 107-147, 2017.
AZEVEDO, R. G.; CIFALI, A. C. Política criminal e encarceramento no Brasil nos governos Lula e Dilma: elementos para um balanço de uma experiência de governo pós-neoliberal. Civitas, Porto Alegre, v. 15, n.1, p. 105-127, jan.-mar., 2015.
AZEVEDO, R.G.; SINHORETTO, J. O sistema de justiça criminal na perspectiva da antropologia e da sociologia. BIB - Revista Brasileira de Informação Bibliográfica em Ciências Sociais, São Paulo, v. 84, n. 2, p. 188-215, 2017.
BACHINI, N. Movimentos sociais e descentramento das identidades coletivas no Brasil contemporâneo: da pluralização às identidades ciber-orientadas. 2021. 267 f. Tese (Doutorado em Sociologia) - Instituto de Estudos Sociais e Políticos, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2021.
BACHINI, N., OLIVEIRA, L., & CARÁ, F. A. (2023). Onde está o povo? Comunicação digital e populismo nas eleições de 2018. Tempo Social, [s.l.], v. 35, n. 3, p. 161-190, 2023.
BBC. Policiais bolsonaristas na ativa: por que politização das PMs ameaça democracia. BBC, 23 ago. 2021. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-58311286. Acesso em: 29 abr. 2025.
BOBBIO, N. Populismo. In: MATTEUCCI, N.; PASQUINO, G. Dicionário de Política. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1998. v. 1.
BOTTOMS, A. The Philosophy and Politics of Punishment and Sentencing. In: CLARKSON, C.; MORGAN, R. The Politics of Sentencing Reform. [s.l.]: Oxford University Press, 1995.
CAMPOS, M. S.; ALVAREZ, M. C. Políticas públicas de segurança, violência e punição no Brasil (2000-2016). In: MICELI, S.; MARTINS, C. B. (org.). Sociologia brasileira hoje. Cotia: Ateliê, 2017. p. 143-217.
CORRÊA, M.; NOVELLO, R. H.; HIGA, G. L. A noção de Populismo Penal: ressonâncias e limites da definição. 46º Encontro Anual da ANPOCS, Unicamp, virtual & presencial, 12 a 19 de outubro de 2022.
BENNETT, L.; LIVINGSTON, S. The disinformation order: Disruptive communication and the decline of democratic institutions. European Journal of Communication, [s.l.], v. 33, n. 2, p. 122–139, 2018.
BROWN, W. American Nightmare: Neoliberalism, Neoconservatism, and De-Democratization. Political Theory, [s.l.], v. 34, n. 6, p. 690-714, 2006.
BROWN, W. Nas ruínas do neoliberalismo. São Paulo: Editora Filosófica Politeia, 2019.
BUTLER, J. Discurso de ódio: uma política do performativo. [s.l.]: Editora Unesp, 2021.
CASTELLS, M. El poder en la sociedad Red. In: CASTELLS, M. Comunicación y poder. Madri: Alianza Editorial, 2019.
CASTELLS, M. A. Ruptura. Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2018.
CIOCCARI, D.; PERSICHETTI, S. A campanha eleitoral permanente de Jair Bolsonaro: O deputado, o candidato e o presidente. Lumina, [s.l.], v. 13, n. 3, p. 135–151, 2019. DOI: 10.34019/1981-4070.2019. v.13.28571.
COPSEY, N. The Radical Right and Fascism. In: RYDGREN, Jens (ed.). The Oxford Handbook of the Radical Right. [s.l.]: Oxford Handbooks, 2018.
CURI, H.; CATELANO, O. Partidos conservadores no Brasil do século XXI (2002-2018). X Congresso Latinoamericano de Ciência Política (Alacip), 31 de julho, 1, 2 e 3 de agosto 2019.
DAL SANTO, L. P. Populismo penal: o que nós temos a ver com isso?. Revista Brasileira de Ciências Criminais, [s.l.], v. 168, p. 225-252, 2020.
DE KEULENAAR, E. The affordances of extreme speech. Big Data & Society, [s.l.], v. 10, n. 2, p. 1-7, 2023.
ENGESSER, S.; FAWZI, N.; LARSSON, A. Populist online communication: introduction to the special issue. Information, Communication & Society, [s.l.], v. 20, n. 9, p. 1279-1292, 2017.
ERNST, N.; ENGESSER, S.; BUCHEL, F.; BLASSNIG, S.; ESSER, F. Extreme parties and populism: an analysis of Facebook and Twitter across six countries. Information, Communication & Society, [s.l.], v. 20, n. 9, p. 1347–1364, 2017.
FERES JÚNIOR, J. Em defesa das valências: uma réplica. Revista Brasileira de Ciência Política, [s.l.], n. 19, p. 277-298, 2016.
FOLHA DE SÃO PAULO. 51% dos brasileiros dizem ter mais medo da polícia do que confiança nela, segundo Datafolha. Folha de São Paulo, 22 dez. 2024. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2024/12/51-dos-brasileiros-dizem-ter-mais-medo-da-policia-do-queconfianca-nela-segundo-datafolha.shtml. Acesso em: 29 abr. 2025.
FOLHA DE SÃO PAULO. Chefe das polícias de SP foi retirado da Rota por excesso de mortes em serviço. Folha de São Paulo, 02 ago. 2023. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2023/08/chefe-das-policias-desp-foi-retirado-da-rota-por-excesso-de-mortes-em-servico.shtml. Acesso em: 04 nov. 2025.
FORTI, S. Afinidades y diferencias. Una cartografía de fuerzas y discursos de ultraderecha en Europa. In: SANAHUJA, J.; STEFANONI, P. Extremas-derechas y democracia: perspectivas ibero americanas. [s.l.]: Fundación Carolina, abril 2023.
FOUCAULT, M. A ordem do discurso. Tradução: Laura Fraga de Almeida Sampaio. São Paulo: Edições Loyola, 1999.
FROIO, C.GANESH, B. The transnationalisation of far right discourse on Twitter: Issues and actors that cross borders in Western European democracies. European Societies, [s.l.], v. 21, n. 4, p. 513–539, 2018.
FREELON, D. ReCal OIR: Ordinal, interval, and ratio intercoder reliability as a web service. International Journal of Internet Science, [s.l.], v. 8, n. 1, p. 10-16, 2013.
GARLAND, D. The culture of control: crime and social order in contemporary. Chicago: The University of Chicago Press, 2001.
GARLAND, D. The limits of the sovereign state: strategies of crime controle in contemporary society. The British Journal of Criminology, [s.l.], v. 36, n. 4, 1996.
GATEWWOD, C.; O’CONNOR, C. Disinformation Briefing Narratives around Black Lives Matter and voter fraud. Institute for Strategic Dialogue (ISD), 2020.
GERBAUDO, P. Populism 2.0. In: TROTTIER, D.; FUCHS, C. (ed.). Social media, politics and the State: Protests, Revolutions, riots, crime and policing in the age of Facebook, Twitter and Youtube. Nova York: Routledge, 2014. p. 67-87.
GERBAUDO, P. Social media and populism: an elective affinity?. Media, Culture & Society, [s.l.], v. 40, n. 5, p. 1-9, 2018.
G1. EUA prendem 538 imigrantes e fazem primeiras deportações após decretos de Trump, diz Casa Branca. G1, 24 jan. 2025. Disponível em: https://g1.globo.com/mundo/noticia/2025/01/24/eua-fazem-prendem-mais-de-500-imigrantes-e-fazem-primeiras-deportacoes-apos-decretode-trump-diz-casa-branca.ghtml. Acesso em: 08 abr. 2025.
GOFFMAN, E. Frame analysis: an essay on the organization of experience. Boston: Northeastern University Press, 1986.
GÓMEZ, A.; PROAÑO, F. Entrevista a Máximo Sozzo: “Qué es el populismo penal?”. URVIO, Revista Latino Americana de Seguridad Ciudadana, Quito, n. 11, p. 117-122, 2012.
HABERMAS, J. Uma nova mudança estrutural da esfera pública e a política deliberativa. Tradução de Denilson Luís Werle. São Paulo: Editora Unesp, 2023.
JAMIESON, K. e CAPPELLA, J. Echo Chamber: Rush Limbaugh and Conservative Media Establishment. New York: Oxford University Press, 2008.
KELLER, R. The Sociology of Knowledge Approach to Discourse. [s.l.]: Springer, 2024.
LACLAU, Ernesto. A Razão Populista. Rio de Janeiro:EdUERJ, 2013.
LEVITSKY, S.; ZIBLATT, D. Como as democracias morrem? Rio de Janeiro: Zahar, 2018.
LIMA, R. S. Polícias fraturadas. Piauí - Atlas do bolsonarismo. 1º jun. 2020. Disponível em: https://piaui.folha.uol.com.br/policias-fraturadas/. Acesso em 29 de abril de 2025.
LIMA, R. K.; MISSE, M.; MIRANDA, A. P. M. Violência, criminalidade, segurança pública e justiça criminal no Brasil: uma bibliografia. BIB – Revista Brasileira de Informação Bibliográfica em Ciências Sociais, São Paulo, n. 50, p. 45-123, 2000.
LYNCH, C.; CASSIMIRO P. O populismo reacionário no poder: uma radiografia ideológica da presidência Bolsonaro (2018-2021). Aisthesis, [s.l.], v. 70, p. 223-249, 2021.
MARCHI, R. O Novo partido “Chega” no âmbito da direita portuguesa In: PINTO, A. C.; GENTILE, F. (org.). Populismo - Teorias e casos. Fortaleza, CE: Edmeta, 2020.
MARCHI, R.; ZUQUETTE, J. Far right populismo in Portugal: the political culture of Chega´s members. Análise Social, [s.l.], v. 251, p. 2-19, 2024.
MELO, R. Contrapúblicos e os novos conflitos na esfera pública. In: BATISTA, M.; RIBEIRO, E.; ARANTES, R. (ed.). As teorias e o caso [online]. Santo André: Editora UFABC, 2021. p. 269-296.
MENDONÇA, R. F.; SIMOES, P. Enquadramento. Diferentes operacionalizações analíticas de um conceito. Revista Brasileira de Ciências Sociais, [s.l.], v. 27, n. 79, 2012.
MUDDE, C. The far right today. New Jersey: Wiley, 2019.
MUDDE, C.; KALTWASSER, C. R. Populism: a very short introduction. [s.l.]: Oxford University Press, 2017.
MUSSI, D.; CRUZ, A. Os populismos de Francisco Weffort. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 35, n. 104, p. 1–21, 2020. https://doi.org/10.1590/3510409/2020.
NORRIS, P.; INGLEHART, R. Cultural Backlash: Trump, Brexit, and authoritarian populism. Cambridge: CUP, 2019.
NOVELLO, R. H.; ALVAREZ, M. C. Da ‘bancada da segurança’ à ‘bancada da bala’: Deputados policiais no legislativo paulista e discursos sobre segurança pública. Dilemas - Revista de Estudo de Conflito e Controle Social. Rio de Janeiro, v. 15, n. 1, p. 81-101, 2022.
PARISER, E. The filter bubble: What the Internet is hiding from you. Penguin UK, 2011.
PINHEIRO, P. S. Autoritarismo e transição. Revista USP, Brasil, n. 9, p. 45-56, mai. 1991.
PRIOR, H. Digital populism and disinformation in posttruth times. Communication & Society, [s.l.], v. 34, n. 4, p. 49-64, 2021.
PRATT, J. Penal Populism. New York: Routledge, 2007.
PRATT, J.; MIAO, M. The end of penal populism, the rise of populist politics. Archiwum kryminologii, [s.l.], T. XLI, n. 2, p. 15-40, 2019.
RAMOS, M. B; GLOECKNER, R. J. Os sentidos do populismo penal: uma análise para além da condenação ética. Delictae, [s.l.], v. 2, n. 3, jul.-dez., 2017.
RICCI, P.; IZUMI, M.; MOREIRA, D. O populismo no Brasil (1985-2019): um velho conceito a partir de uma nova abordagem. Revista Brasileira de Ciências Sociais, [s.l.], v. 36, n. 107, p. 1-22, 2021.
ROCHA, C.; SOLANO, E.; MEDEIROS, J. The New Brazilian Right: Radical and Shameless. In: ROCHA, C.; SOLANO, E.; MEDEIROS, J. The Bolsonaro Paradox The Public Sphere and Right Wing Counterpublicity in Contemporary Brazil. Londres: Springer, 2021. v. 1, p. 11-57.
SAMPAIO, R.; PORTELA, P.; ARAUJO, P.; BORGES, T.; ALISON, M., R. Análise de conteúdo qualitativa em Ciência Política. In: SAMPAIO, R. C.; PAULA, C. Manual de introdução às técnicas de pesquisa qualitativa em ciência política. Brasília: Enap, 2024.
SALAS, D. La volonté de punir: essai sur le populisme pénal. Paris: Hachette, 2005.
SALLA, F. A pesquisa sobre as prisões: um balanço preliminar. In: KOERNER, Andrei. História da justiça penal no Brasil: pesquisas e análises. São Paulo: IBCCRIM, 2006. p. 107-127.
SERRANO-PUCHE, J. Internet and emotions: New trends in an emerging field of research. Comunicar, [s.l.], v. 46, p. 19-26, 2016.
SIMON, J. Governing Through Crime: how the war one crime transformed American democracy and created a culture of fear. Oxford University Press, 2007.
SOZZO, M. Pós-neoliberalismo e penalidade na América do Sul: uma introdução. In: SOZZO, Máximo. Pósneoliberalismo e penalidade na América do Sul. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2017.
UOL. Policiais brasileiros matam mais do que os de 15 países do G20 somados. UOL,18 de dezembro de 2024. Disponível em: https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2024/12/18/dados-policia-letalidade-g20.htm. Acesso em: 30 abr.2025.
VAN DIJK, T. Discourse as structure and process. London: SAGE, 1997.
VARGA, R. La représentation des frontières dans les discours de Marine Le Pen et de Viktor Orbán. In: SULLETNYLANDER, F.; BERNAL, M.; PREMAT, C.; ROITMAN, M. (ed.). Political Discourses at the Extremes. Expressions of Populism in Romance-Speaking Countries. Stockholm Studies in Romance Languages. Stockholm: Stockholm University Press, 2019. p. 321–340.
VICARI, S. Introduction: Autorité et Web 2.0. Argumentation et Analyse du Discours, [s.l.], n. 26, 2021.
WACQUANT, L. As prisões das misérias. Rio de Janeiro: Zahar, 2011.
WACQUANT, L. Punir os pobres: a nova gestão da miséria nos Estados Unidos [A onda punitiva]. Rio de Janeiro: Revan, 2013.
WODAK, R.; MEYER, M. (org.). Methods of critical discourse analysis. London: SAGE, 2001.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Todo o conteúdo da revista, exceto onde indicado de outra forma, é licenciado sob uma atribuição do tipo Creative Commons BY.
O periódico Caderno CRH on-line é aberto e gratuito.