PRECARIEDADE, GÊNERO E RACIALIDADE: experiências de trabalho no Brasil e em Portugal

Autores

DOI:

https://doi.org/10.9771/ccrh.v37i0.60152

Palavras-chave:

Precariedade, Raça, Indústria do calçado, Trabalhadoras domésticas

Resumo

Este artigo apresenta um breve retrato que ilustra alguns dos contornos de vidas precárias estruturadas através do trabalho. Trazemos aqui elementos de luta e de subjetividades acomodadas aos modos de vida e formas de adaptação que o capitalismo promove e reproduz. Os três casos em análise – em Franca-SP; São João da Madeira, Portugal; e o setor das trabalhadoras domésticas, em Salvador-BA – ilustram realidades diversas, mas que espelham formas de aceitação e precariedade estruturadas por modalidades de dominação e opressão vinculadas ao mesmo sistema econômico neoliberal. A condição subalterna a que foram remetidos esses segmentos espelha combinações complexas de fatores, em que se reúnem a classe, a raça e o gênero, oscilando a força de cada um deles em função de cada um dos casos. Enquanto a discriminação racial e de gênero são mais evidentes no caso das domésticas, as dimensões de classe conjugadas com as subjetividades e identidades mostraram-se mais fortes na indústria calçadista.

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Biografia do Autor

Elísio Estanque, Universidade Federal da Bahia

Doutor em Sociologia, professor jubilado da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (Portugal), e pesquisador membro do Centro de Estudos Sociais da mesma instituição, onde foi co coordenador do programa de doutoramento em Sociologia - Relações de Trabalho, Desigualdades e Sindicalismo. Foi professor visitante em universidades europeias (Univ. Science Po, Bourdeux, França, e Friedrich-Schiller University, Jena, Alemanha) e brasileiras, como a Universidade de São Paulo (USP), a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a Universidade Estadual Paulista (Unesp) - campus Franca e atualmente na UFBA, junto ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais (PPGCS). É especialista nos temas das relações de trabalho, classes e lutas sociais. Principal publicação: ESTANQUE, E. Ressonâncias e sociologia pública. Porto: Vida Económica, 2023.

Agnaldo Sousa Barbosa, Universidade Estadual Paulista

Doutor e Livre-Docente em Sociologia pela Universidade Estadual Paulista (Unesp). Professor Associado III do Departamento de Educação, Ciências Sociais e Políticas Públicas da Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus Franca, instituição da qual também é professor dos programas de pós graduação em Direito, Serviço Social e Planejamento e Análise de Políticas Públicas. É vice-coordenador do curso de Direito e coordena o Grupo de Pesquisa em Direito e Mudança Social (DeMuS). Desenvolve pesquisa nas áreas de Sociologia do Direito e Sociologia do Trabalho. Suas publicações mais recentes são, entre as mais importantes: ESTANQUE, E.; BARBOSA, A. S; MACIEL, F. (org.). Re-trabalhando as classes no diálogo Norte-Sul: trabalho e desigualdades no capitalismo póscovid. São Paulo: Ed. Unesp, 2024; BARBOSA, A. S.; BARONI, L. O. A mobilização do direito como instrumento internacional na defesa dos direitos humanos: um estudo das disputas contra o Brasil na Corte Interamericana de Direitos Humanos. Revista da Faculdade de Direito UFPR, Curitiba, v. 69, n. 2, p. 53-89, maio/ago. 2024.

Maria Lúcia Vannuchi, Universidade Federal de Uberlândia

Doutora em Sociologia pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), realizou pós-doutorado em Sociologia pelo Centro de Estudos Sociais (CES)/Universidade de Coimbra - Portugal, onde desenvolveu o projeto de pesquisa “Trabalho e gênero no setor da indústria de calçados: um estudo comparativo entre os núcleos produtivos de Franca (BR) e São João da Madeira”. É professora Associada III da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), atuando na área de Sociologia, com ênfase nos temas: identidades e relações de gênero, trabalho, classes sociais, educação, representações sociais e subjetividades. Coordenadora do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (Pibid) Interdisciplinar Sociologia-Filosofia (UFU). Principal publicação: VANNUCH, M. L. Relações sociais de sexo/gênero na indústria de calçados: um estudo comparativo de núcleos produtivos brasileiro e português. Oficina do CES, Coimba, v. 444, p. 1-37, jul. 2018.18.

Alexandre Marques Mendes, Universidade Estadual Paulista

Professor assistente, doutor do Departamento de Educação, Ciências Sociais e Políticas Públicas (DECSPP) da Universidade Estadual Paulista (Unesp) - campus Franca, instituição na qual também é professor colaborador do Programa de Pós-Graduação em Planejamento e Análise de Políticas Públicas (PPGPAPP). Doutor em Sociologia pela Unesp (2005). É líder/coordenador do Laboratório de Análise de Políticas (LAP). Foi bolsista de pós-doutorado da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) entre 2011 e 2013, junto ao DECSPP da Unesp-Franca. Principal publicação: MENDES, A. M. Permanências e metamorfoses do trabalho no universo produtivo do calçado em Franca/SP (Brasil). In: SILVA, L. M.; ESTANQUE, E. (org.). Facetas do trabalho na contemporaneidade: diálogos luso brasileiros. Curitiba: Appris, 2012.

 

CONTRIBUIÇÃO DE AUTORIA:

Elísio Estanque – Escrita – revisão e edição.

Agnaldo Sousa Barbosa – Escrita – revisão e edição.

Maria Lúcia Vannuchi – Escrita – revisão e edição.

Alexandre Marques Mendes – Escrita – revisão e edição.

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Publicado

2024-10-18

Como Citar

Estanque, E., Sousa Barbosa, A. ., Lúcia Vannuchi, M. ., & Marques Mendes, A. (2024). PRECARIEDADE, GÊNERO E RACIALIDADE: experiências de trabalho no Brasil e em Portugal. Caderno CRH, 37, e024023. https://doi.org/10.9771/ccrh.v37i0.60152

Edição

Seção

Dossiê 3