TEORIZAÇÃO CRÍTICA, ESCREVIVÊNCIA E EPISTEMOLOGIA RESISTENTE

Autores

DOI:

https://doi.org/10.9771/ccrh.v38i0.59010

Palavras-chave:

Crítica pós-colonial, Subalternidade, Interseccionalidade, Escrevivência, Autoridade testemunhal

Resumo

O artigo tem como objetivo contribuir nos debates acerca das teorias sociais contemporâneas, especialmente das teorias críticas, na ênfase aos descentramentos teóricos e à inclusão das vozes subalternas. Elege a crítica póscolonial e a interseccionalidade a fim de, na esteira de Collins (2022), propor o “engajamento dialógico” capaz de, sem deixar de problematizar os impasses das distintas linhagens, conceber um “projeto de conhecimento resistente”. Nesse movimento, destaca a experiência e a “autoridade testemunhal” como produtoras de epistemes legítimas. Traz, para sustentar o argumento, as escrevivências (Evaristo, 2005) das autoras negras que, longe de abdicar da autorreflexividade, produzem contradiscursos importantes na configuração do mundo por outros sujeitos epistêmicos, capazes de desvelar e desestabilizar a estrutura da diferença/estrutura da subalternidade que fundou a modernidade hegemônica. Tais discursos combinam recursos heurísticos vários que combatem os epistemicídios, provocam novos processos de subjetivação, expandem as comunidades interpretativas no seio da academia e apontam valiosas possibilidades ao pensamento crítico.

 

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Biografia do Autor

Adelia Miglievich-Ribeiro, Universidade Federal do Espírito Santo

Doutora em Sociologia pelo PPGSA-IFCS-UFRJ. Professora Associada do Departamento de Ciências Sociais e do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). Coordenadora do Núcleo de Estudos em Transculturação, Identidade e Reconhecimento (Ufes) e cocoordenadora do Grupo Emancipação e Cidadania (PUC-RS). Escreveu Heloísa Alberto Torres e Marina de Vasconcellos: pioneiras na formação das ciências sociais no Rio de Janeiro (EDUFRJ) e Darcy Ribeiro, Civilisation and Nation: Social Theory from Latin America (Routledge). Coorganizou Crítica Pós-Colonial. Panorama de leituras contemporâneas (7Letras-Faperj), dentre outras. Também, escreveu “Cuerpo, experiencia-narrativa, territorio: la “escrevivência” de las mujeres afrobrasileñas” (Diaspore-Veneza), “Caminhos da Crítica: identidades, feminismos e projetos emancipatórios” (Civitas), “A virada pós colonial: experiências, trauma e sensibilidades transfronteiriças” (RCCS-Coimbra). Sua área de pesquisa é a teoria social, os estudos pós(de)coloniais, o pensamento latino-americano e os feminismos subalternos. Pesquisadora CNPq nível 2.

 

CONTRIBUIÇÃO DE AUTORIA:

Adelia Miglievich-Ribeiro – Conceitualização. Aquisição de financiamento. Investigação. Metodologia. Administração do projeto Recursos. Supervisão. Visualização. Escrita – esboço original. Escrita – revisão e edição.

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Publicado

2025-05-29

Como Citar

Miglievich-Ribeiro, A. (2025). TEORIZAÇÃO CRÍTICA, ESCREVIVÊNCIA E EPISTEMOLOGIA RESISTENTE. Caderno CRH, 38, e025023. https://doi.org/10.9771/ccrh.v38i0.59010