Enxergando os mortos com os ouvidos: a reelaboração da memória da escravidão através da figura umbandista dos pretos-velhos
DOI:
https://doi.org/10.9771/aa.v0i57.23442Abstract
Tendo como base os conceitos de práticas, representações e apropriação de Roger Chartier, memória coletiva de Maurice Halbwachs e memória subterrânea de Michael Pollak, propõe-se uma análise das formas como a figura umbandista dos pretos-velhos é apropriada atualmente. O estudo, pautado pela metodologia da história oral, permitiu analisar as formas como a experiência de se consultar e conviver regularmente com os pretos-velhos influencia na construção das perspectivas, dos valores e das expectativas desses consulentes, por meio da reelaboração da memória da escravidão negra no Brasil. Foi possível notar, sobretudo, a importância que essas entidades possuem para as pessoas que se reconhecem como negras e estabelecem um vínculo mais próximo com essa figura do escravo sacralizado.
Palavras-chave: umbanda - representação - pretos-velhos - história oral -
memória.
Abstract
Based on the concepts of practices, representations and appropriation (Roger Chartier), collective memory (Maurice Halbwachs) and underground memory (Michael Pollak), this article analyzes contemporary appropriations of Umbanda’s pretos-velhos (“old black” spirits). Using oral history methodology, it investigates how the experience of regularly visiting and consulting with pretos-velhos informs clients’ constructions of perspectives, values and expectations. The focus is on the re-elaboration of the memory of African slavery in Brazil. The analysis illustrates the importance of these entities for those who recognize themselves as black and who establish in this way a closer bond with this figure of a sacralized slave.
Keywords: umbanda - representation - pretos-velhos - oral history - memory.
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