A sobrevida da agenda pós-moderna e seus malabarismos teórico-políticos
DOI:
https://doi.org/10.9771/gmed.v14i3.51502Palavras-chave:
Agenda pós-moderna, Educação, Renovado conservadorismoResumo
Pontuam-se aspectos da construção e das repercussões do discurso pós-moderno no campo educacional brasileiro para evidenciar, à semelhança do que Moraes fez no início dos anos 2000, o seu renovado conservadorismo. Para tanto, ressaltam-se a estruturação desse discurso como uma agenda e alguns de seus rearranjos, em especial os que derivam de seus intelectuais de esquerda. Discutem-se ainda as reações do campo educacional brasileiro diante desses rearranjos. A relação orgânica entre neoliberalismo e neoconservadorismo, assim como pandemia mundial de Covid-19 têm tornado mais evidentes e profundas as aporias e (des)caminhos dessa agenda. A crítica a qualquer relativismo da verdade e depreciação da ciência tem sido assumida por vários segmentos sociais progressistas, fato que, por um lado, favorece a luta contra argumentações da agenda pós, por outro, pode se reverter em força para a renovação de seu conservadorismo.
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