A sobrevida da agenda pós-moderna e seus malabarismos teórico-políticos

Autores

DOI:

https://doi.org/10.9771/gmed.v14i3.51502

Palavras-chave:

Agenda pós-moderna, Educação, Renovado conservadorismo

Resumo

Pontuam-se aspectos da construção e das repercussões do discurso pós-moderno no campo educacional brasileiro para evidenciar, à semelhança do que Moraes fez no início dos anos 2000, o seu renovado conservadorismo. Para tanto, ressaltam-se a estruturação desse discurso como uma agenda e alguns de seus rearranjos, em especial os que derivam de seus intelectuais de esquerda.  Discutem-se ainda as reações do campo educacional brasileiro diante desses rearranjos. A relação orgânica entre neoliberalismo e neoconservadorismo, assim como pandemia mundial de Covid-19 têm tornado mais evidentes e profundas as aporias e (des)caminhos dessa agenda. A crítica a qualquer relativismo da verdade e depreciação da ciência tem sido assumida por vários segmentos sociais progressistas, fato que, por um lado, favorece a luta contra argumentações da agenda pós, por outro, pode se reverter em força para a renovação de seu conservadorismo.

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Biografia do Autor

Sandra Soares Della Fonte, Universidade Federal do Espírito Santo

Doutora em Educação e em Filosofia. Professora do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). Membro do Grupo de pesquisa Estudos Marxistas em Educação. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/9396743098041438. Orcid: https://orcid.org/0000-0002-9514-7202. E-mail: sdellafonte@gmail.com.

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Publicado

2022-12-30

Como Citar

Della Fonte, S. S. (2022). A sobrevida da agenda pós-moderna e seus malabarismos teórico-políticos. Germinal: Marxismo E educação Em Debate, 14(3), 73–94. https://doi.org/10.9771/gmed.v14i3.51502