OLHANDO NOS OLHOS DA MEDUSA: a poética do fracasso em processos experimentais de criação
Resumo
Este artigo busca refletir sobre as experiências de fracasso que afetam e reconfiguram os processos experimentais de criação da cena e sua poética, isto é, a resolução, absorção ou repulsão de tais experiências em nome de um presumido domínio técnico. Ao invés do pressuposto comum de que as falhas são acidentes negativos e motivos de constrangimentos – tal como olhar nos olhos da Medusa – a suscetibilidade ao erro, ou ao desvio daquilo que fora planejado, tornaria um processo singular no seu diálogo com a imprevisibilidade, dentro das características e do contexto em que fora realizado. Para tanto, articulo os conceitos de fracasso, poética e processos criativos cênicos. Elaboro o conceito de fracasso a partir da abordagem moral, apoiada na dialética fracasso e sucesso, com Schopenhauer e a noção do mundo como vontade e representação; Cioran e o enaltecimento da decomposição; o trágico da vida por Unamuno; Lacroix e a tensão entre intenção e realização; Nuttin e Carpentier na psicologia experimental. Fora da moral, apresento a compreensão deleuziana do fracasso como agente do caos, do inesperado, superando o binômio costumeiramente adotado. Abordo o conceito de poética por Pareyson e Dubatti, como ordenador dos eventos relacionados ao processo. Chego ao conceito de processo criativo artístico pelo projeto de Deleuze para a arte, e de Cecília Salles vem a noção de obra de arte inacabada, ultrapassando a circunscrição temporal definitiva da criação artística. Articulo a noção de work in progress de Cohen e a prática teatral de Grotowski com todos esses conceitos. Por fim, relaciono a noção de poética e fracasso na prática de processos experimentais de criação. PALAVRAS-CHAVE: Fracasso. Poética. Processo experimental criativo. Moral. Caos.
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