SEQUÊNCIA DE OBSTRUINTES NO INTERIOR DAS PALAVRAS: RETRATO EM DUAS MODALIDADES (SEQUENCES OF ADJACENT CONSONANTS FORMED BY OBSTRUENTS: PICTURE IN TWO MODES)

Autores

  • Valéria Neto de Oliveira Monaretto Universidade Federal do Rio Grande do Sul

DOI:

https://doi.org/10.9771/2176-4794ell.v0i52.15468

Palavras-chave:

Sequência de obstruintes mediais. Instabilidade de consoantes mediais. Fonologia. Linguística histórica.

Resumo

Na passagem do latim para as línguas românicas, sequências de consoantes adjacentes formadas por obstruintes (C1C2) no interior de palavras foram modificadas por meio de três processos fonológicos: vocalização (lacte > leite, palpare > poupar), assimilação (factu > fatto, domnu > dono) e apagamento (pigmenta > pimenta, subterrare > soterrar). Esses processos criaram novos elementos nas línguas, como o ditongo “ei” no português (conceptu > conceito, regnu > reino, factu > feito), o ditongo “ui”, no francês (fructa > fruit). No italiano, houve o surgimento de geminadas (fructa > frutta, septe > sette) e, no espanhol, a criação de africadas (strictu > estrecho), entre outros casos. A instabilidade das CC parece estar operante nos dias atuais. No espanhol chileno falado, há casos de semivocalização, como em “adquirir/a[j]quirir” e “absurdo/a[w]surdo”. No espanhol peninsular do centro-norte, há fricatização de oclusivas sonoras, como em “ritmo/ri[T]mo”, por exemplo. No português, há casos de variação entre presença e ausência da consoante C1, dicionarizados atualmente, como “respectiva~respetiva”, por exemplo, e de situações, na língua falada, de aplicação de uma epêntese vocálica, separando as duas consoantes em diferentes sílabas (rá.pi.to). A história do português mostra que o processo de simplificação de CC não agiu uniformemente em todas as palavras. Algumas dessas mantiveram a sequência de consoantes, como em “óbvio”, “técnica”, “admirar”, “amnésia”, “afta” etc. Outras perderam a primeira consoante da sequência, como em sinal (signale) e em fato (factum), por exemplo. Apesar de algumas dessas consoantes desaparecerem na forma primitiva, mantiveram-se em palavras derivadas, como é o caso de pigmentação. Na história da língua, registram-se variações de grafia de palavras com a presença e a ausência dessas consoantes, evidenciando flutuações e instabilidade. Casos como “assignatura~assinatura”. “subtil~sutil” e “corrupto~corruto”, entre outros, são comuns na escrita do português desde muitos anos. Com base na associação entre o exame grafológico em jornais do século XIX, produzidos no Brasil, em análises de sequências de obstruintes na teoria fonológica e no uso destas na língua falada, este trabalho procurará observar que sequência de obstruinte medial é mais produtiva e se a permanência dessa sequência encontra algum respaldo na estrutura fonológica do português brasileiro. Os resultados mostram que diferentes sincronias (passado e presente) e abordagens de estudo da língua (escrita e falada) podem se coadunar para explicarem formas variáveis na língua, conforme os pressupostos metodológicos da Sociolinguística Quantitativa e da Teoria Fonológica.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Downloads

Publicado

2015-01-20

Como Citar

MONARETTO, V. N. de O. SEQUÊNCIA DE OBSTRUINTES NO INTERIOR DAS PALAVRAS: RETRATO EM DUAS MODALIDADES (SEQUENCES OF ADJACENT CONSONANTS FORMED BY OBSTRUENTS: PICTURE IN TWO MODES). Estudos Linguísticos e Literários, Salvador, n. 52, 2015. DOI: 10.9771/2176-4794ell.v0i52.15468. Disponível em: https://periodicos.ufba.br/index.php/estudos/article/view/15468. Acesso em: 19 abr. 2024.

Edição

Seção

Estudos Linguísticos