LENIN E A EDUCAÇÃO: DOMESTICAÇÃO IMPOSSÍVEL, RESGATE NECESSÁRIO
DOI:
https://doi.org/10.9771/gmed.v1i1.9849Palavras-chave:
Lenin, Revolução, Educação, MarxismoResumo
A Tese de Doutorado, defendida em fevereiro de 2005, esquadrinhou as contribuições de Lenin à educação política como subsídio à crítica da educação burguesa e elemento de constituição de uma pedagogia leninista imprescindível à formação da consciência socialista. Procurei demonstrar que Lenin se preocupava com a educação escolar como meio à realização do processo revolucionário. Para ele, enquanto a educação não fosse passada aos operários e levada a mais longínqua província da Rússia, o Estado russo continuaria sendo o que sempre fora, a negação à democracia. Lenin não chegou a ver a educação escolar se transformar em coadjuvante rigoroso da revolução bolchevique. Para ele, sem a teoria de Marx e Engels, não seria possível a Revolução de Outubro, daí a magna importância dada à educação política no projeto pedagógico socialista de ensino politécnico imprescindível à formação do homem multifacetado. A emancipação intelectual e a liberdade econômica, a organização partidária e a revolução socialista (pão, terra e liberdade) eram as principais consignas da ordem do dia. A liberdade nessa perspectiva era a liberdade do operário que produzia as riquezas e não a liberdade do burguês e dos bandidos das finanças que sugavam o sangue dos trabalhadores. Como dizia Marx, quanto mais sugavam mais fortes ficavam. A educação política era um instrumento de Partido e de Sindicato, uma espécie de marxismo praticado. Sobre a educação política, ela além de encerrar um programa político determinado, deveria revelar convicções claras e coerentes; possuir habilidade para (1) não se acomodar ao tom e ao estado de coisas do momento, (2) não se arrastar ante os poderosos, (3) não cumprir as ordens que emanavam deles e (4) não tratar de congraçar-se com algo que se assemelhasse à opinião pública. Portanto, não era correto dar o nome de política, no sentido estrito da palavra, à educação que na melhor das hipóteses se limitava “a recolher pequenos feitos interessantes, porém não elaborados, e a lançar suspiros no lugar de filosofar”. Não é que essa educação não seja útil, porém não é política. A educação deveria estar calçada na realidade objetiva, vinculada aos interesses e demandas da classe operária e dos camponeses pobres, mantendo sua linha política não deveria temer marchar contra os poderosos e o governo; essa educação é útil como colaboradora insubstituível da agitação revolucionária contra a servidão imposta pelos kulaks e contra a nova servidão imposta pelos modernos senhores de escravos assalariados, os capitalistas. A patuleia intelectualizada considera Lenin como um dentre tantos chefes de clãs russos, revolucionário odiento ou ditador sanguinário. Mas, ao perquirir a obra de Lênin, uma questão passou a me incomodar: de onde provém a aversão política e ideológica que os intelectuais dedicam a esse líder proletário, comunista intransigente, intelectual rigoroso e, como dissera Stalin, uma verdadeira “águia das montanhas”? Lenin não perdia tempo com ruminações pseudofilosóficas, sua crítica ácida destinava-se aos intelectuais de sua época, não a todos sem exceção, mas àqueles que atuavam no interior do Partido e dos Sindicatos e no sistema oficial de ensino, inculcando os dogmas próprios à ideologia dominante indispensáveis à ratificação e continuidade da dominação da burguesia. Não é verdade que Lenin não tem nenhuma contribuição à política, à filosofia e à educação contemporâneas, é o atraso dos seus críticos, decorrente do não entendimento da obra de Marx e Engels, que os fazem tergiversar quando tratam de negar a educação engajada e a filosofia como filosofia de partido. Lenin revelou de forma cristalina e lançou fora todas as sutilezas técnicas com as quais a intelligentsia tentava (tenta) fazer acomodações políticas e compromissos espúrios, mascarar o real debate no qual as teorias da educação estão enredadas: a luta entre o idealismo e o materialismo como reflexo da luta de classe contra classe. Resgatar Lenin significa trazer à baila a tese segundo a qual os intelectuais burgueses inculcam na consciência em formação das novas gerações um rol de valores sem o qual o capitalismo será balançado em suas fundações. A função desses intelectuais nas escolas e nas universidades é fazer com que essas fundações sejam preservadas intactas e intocadas. A crítica azeda de Lenin era direcionada ao Estado burguês, à malsã burguesia e à intelligentsia e que predicavam a esperança, o medo e a ilusão como alucinógenos sociais, instrumentos de controle social e mecanismos de embrutecimento da juventude. E mais, predicavam a crença hipócrita na educação como alavanca da história; no sufrágio universal como termômetro da maturidade da classe operária; no cretinismo parlamentar como via para a transição do capitalismo ao socialismo; o consenso e não o confronto como motor da história; na inexorabilidade do capitalismo como fim último das sociedades humanas; no comunismo como devaneio, utopia irrealizável. A leitura de suas cartas aos seus familiares foi de fundamental importância para reconhecê-lo como pessoa, mostrando suas relações com as pessoas, projetando luz sobre aspectos de seu caráter que sua atividade científica ou pública mostrava insuficientemente ou não mostrava, em absoluto. Nessas cartas percebe-se sua indignação com os revisionistas, a quem atribuía presunção professoral, cujo movimento além de ser incrivelmente débil, era “oportunismo desenfreado e covarde”. Ele agia de peito aberto como “adversário cada vez mais decidido da nova orientação crítica no marxismo, assim como do neokantismo (que engendrou, diga-se de passagem, a ideia de que as leis sociológicas estão separadas das leis econômicas)”. Nessas cartas escritas entre 1908 e 1909, ele ataca de modo inflexível as teorias novidadeiras que se propunham a destruir o marxismo, por isto, não atenuava a crítica aos vis e covardes inimigos do marxismo, mormente aqueles com quem havia rompido definitivamente. Na Tese, há um esboço biográfico de Lenin, sua vida, sua obra, facetas do quotidiano desconhecidas da maioria dos leitores, em despretensiosas linhas com subsídios de alguns dos seus camaradas mais próximos: Nadéjda Krúpskaia, Maria Ulianóvna e Ióssif Stalin. Recupero e aponto as principais contribuições leninistas à construção de uma pedagogia comunista direcionada à formação da consciência revolucionária paroxismo da sociedade comunista. Para finalizar, procurei deixar apontado na Tese que o estudo desenvolvido não era uma prática hagiográfica, nem um acerto de contas com os social- democratas, traidores do passado e do presente, nem muito menos uma reencenação nostálgica dos bons e velhos tempos de Partidão, mas apenas resgatar para a sociedade despedaçada em que a esperança envergonhada se escondeu e a desesperança encontrou sua maior idade, o gesto leninista para reinventar a luta revolucionária contra o imperialismo e a colonização neoliberal.
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