Empresários, senhoras, fardas e estolas: a campanha da classe dominante pelo golpe civil-militar de 1964

Autores

  • Marlon Rodrigues Marques Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro

DOI:

https://doi.org/10.9771/gmed.v16i1.59082

Palavras-chave:

Classe Dominante, Ditadura, Igreja Católica, Campanha de desestabilização, Religiosos

Resumo

O artigo analisa o papel de parcela importante de religiosos e leigos católicos aliados a classe dominante no patrocínio, organização e execução das grandes mobilizações populares que culminaram na destituição de João Goulart e no golpe civil-militar de 1964. Demonstramos que eventos como a Cruzada do Rosário em Família e a Marcha da Família com Deus pela liberdade foram gestadas na antessala de aparelhos privados de hegemonia como as Ligas Femininas e o complexo IPES/IBAD.  O ativo engajamento de leigos e religiosos católicos nesse processo sinaliza que parcela do catolicismo brasileiro não só aderiu a solução autoritária como também ajudou a construí-la através de uma campanha de desestabilização que aliava medo, conservadorismo e politização da fé.

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Biografia do Autor

Marlon Rodrigues Marques, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro

Mestre em História (PPHR/UFRRJ). Doutorando em História (PPHR/UFRRJ). Membro do LEHI (Laboratório de Economia e História da UFRRJ) e do GTEDB (Grupo de Trabalho Empresariado e Ditadura no Brasil) https://gtedb.ufrrj.br/  Currículo     Lattes: http://lattes.cnpq.br/2739121398509070  Orcid: https://orcid.org/0009-0004-0066-4322  E-mail: marlonrodriguesm@gmail.com 

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Publicado

2024-05-30

Como Citar

Rodrigues Marques, M. (2024). Empresários, senhoras, fardas e estolas: a campanha da classe dominante pelo golpe civil-militar de 1964. Germinal: Marxismo E educação Em Debate, 16(1), 208–230. https://doi.org/10.9771/gmed.v16i1.59082