"Verás que tudo é mentira": os movimentos populares antiprisionais contra o genocídio racista estatal a partir da luta das Mães de Maio

Autores

DOI:

https://doi.org/10.9771/gmed.v14i2.49581

Palavras-chave:

abolicionismo penal, decolonialidade, lutas anticoloniais, movimentos populares, feminismo negro

Resumo

Esta escrita partilhada foi desenvolvida a partir da observação participante ao “Ato Cordão da Mentira 10 anos” ocorrido no dia 1º de abril, dia da mentira e aniversário do golpe militar de 1964, realizado no centro de São Paulo/SP. Com esta pesquisa buscamos demonstrar como os movimentos populares são fortes vetores de derrubada dos muros objetivos e subjetivos do sistema de justiça penal, diminuindo a distância deste sistema e dando rostos aos milhares de processos que transformam a dor dos familiares em números. A hipótese é que a atuação nas ruas, e a denúncia da violência do Estado pelas mães de vítimas é um forte instrumento de superação deste sistema. O texto toma como base a atuação do movimento mães de maio, suas lutas e pautas, tomando como exemplo o ato do dia 1 de abril e chegando à conclusão de que esses movimentos são essenciais à luta contra o colonialismo.

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Biografia do Autor

Sara de Araujo Pessoa, Universidade do Extremo Sul Catarinense

Mestra em Direitos Humanos e Sociedade pela UNESC. Membro pesquisadora do Núcleo de Estudos em Gênero e Raça (UNESC). Conselheira da comunidade na Comarca de ciricúma. Membro fundadora do Coletivo Feminista Filhas da Luta. Advogada criminalista. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/9749035278498742. Orcid: https://orcid.org/0000-0003-2653-2120. E-mail: sara.pessoa@outlook.com.

Fernanda da Silva Lima, UNESC

Doutora e Mestre em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Bacharel em direito pela Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC). Professora Permanente no Programa de Pós-Graduação em Direito da Unesc (Mestrado em Direito). Professora na disciplina de Direitos Humanos na UNESC. Assume a coordenação partilhada com a prof. Dra Lucy Cristina Ostetto do Núcleo de Pesquisa em Gênero e Raça (NEGRA/UNESC). Vice líder do Núcleo de Estudos em Direitos Humanos e Cidadania (NUPEC/UNESC). Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/9242692113745540. Orcid: https://orcid.org/0000-0001-7406-0020. E-mail: felima.sc@gmail.com.

Felipe de Araujo Chersoni

Mestrando em Direito pela Universidade (comunitária) do Extremo Sul Catarinense (PPGD-Unesc). Bolsista do Programa de Suporte à Pós-Graduação de Instituições de Ensino Comunitárias (PROSUC-Capes), onde é pesquisador vinculado ao Grupo pensamento jurídico crítico latino-americano. Pesquisador do Núcleo de Estudos em Gênero e Raça (Negra/Unesc). Membro do eixo de Criminologia e Movimentos Sociais - Instituto de Pesquisa em Direito e Movimentos Sociais (IPDMS). Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/1452247955372097. Orcid: https://orcid.org/0000-0002-4912-574X. E-mail: felipe_chersoni@hotmail.com.

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Publicado

2022-10-07

Como Citar

Pessoa, S. de A., da Silva Lima, F., & de Araujo Chersoni, F. (2022). &quot;Verás que tudo é mentira&quot;: os movimentos populares antiprisionais contra o genocídio racista estatal a partir da luta das Mães de Maio. Germinal: Marxismo E educação Em Debate, 14(2), 318–344. https://doi.org/10.9771/gmed.v14i2.49581