Marx e Engels: a relação intelectual revisitada a partir de uma perspectiva ecológica
DOI:
https://doi.org/10.9771/gmed.v13i2.45509Palavras-chave:
Marx-Engels-Gesamtausgabe (Mega), metabolismo, crise ecológica, dialética da natureza, Marxismo OcidentalResumo
O Marxismo Ocidental assume frequentemente a divisão intelectual do trabalho entre Marx e Engels. Conforme tal perspectiva, este último especializou-se no campo da “natureza”, enquanto o primeiro analisou particularmente a “sociedade” humana. No entanto, este binário natureza-sociedade não se sustenta mais: novos materiais publicados recentemente pelo projeto Marx-Engels-Gesamtausgabe (Mega) mostram que Marx também estudou de modo intenso as ciências naturais, principalmente em seus últimos anos de vida. Porém, houve uma tentativa de Engels em subestimar a importância da pesquisa científica natural de Marx. Estimulado pelas expressivas discussões sobre a ecologia de Marx entre os ecossocialistas, este artigo visa explicitar o escopo teórico da crítica ecológica de Marx ao capitalismo com base no projeto Mega. Em contraste com John Bellamy Foster e Paul Burkett, que não reconhecem nenhuma diferença significativa entre Marx e Engels no que diz respeito à ecologia, argumentamos que através da Mega é possível identificar elementos únicos da ecologia de Marx que são distintas daquelas apresentadas por Engels em aspectos centrais. A crítica ecológica de Engels, desenvolvida principalmente em A ideologia alemã e no Manifesto comunista, durante a década de 1840, permaneceu dentro do esquema do “antagonismo entre a cidade e o campo”, e esta perspectiva foi mantida em Dialética da natureza e no Anti-Dühring na década de 1870. Por outro lado, Marx, depois de ler a sétima edição de Agricultural Chemistry de Justus von Liebig em 1865/66, desenvolveu sua teoria da “ruptura metabólica”, que vai para além da ideia bastante estática do “antagonismo entre a cidade e o campo”. Após 1868, Marx estudou ainda mais entusiasticamente várias disciplinas das ciências naturais, como química, geologia e botânica, a fim de examinar a (in)sustentabilidade do modo de produção capitalista, cujo desejo ilimitado de valorização do capital acentua de forma inevitável graves desequilíbrios em várias esferas do planeta. Particularmente, os cadernos de excertos sobre as obras de Carl Fraas e Joseph Beete Juke documentam que os interesses ecológicos de Marx estiveram sempre expansão até o último momento de sua vida. Marx não foi capaz de integrar seus novos conhecimentos de ciências naturais, mas hoje o projeto Mega finalmente lança mais luz sobre esses aspectos ecológicos desconhecidos da crítica de Marx à economia política.Downloads
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