Educação do Campo e Ensaios da Escola do Trabalho: a materialização do trabalho como princípio educativo na escola itinerante do MST Paraná
DOI:
https://doi.org/10.9771/gmed.v9i3.22987Palavras-chave:
Trabalho e educação, Formação Humana, Pedagogia Socialista, Escola Itinerante, MST.Resumo
Tendo a luta política como orientadora, este trabalho pretendeu problematizar e refletir acerca das formas pelas quais a escola seja um espaço de humanização na medida em que recoloca o trabalho como produtor do ser humano e este como detentor da riqueza humana – a ciência, a arte, a filosofia e toda a sua decorrência. Objetivou compreender como a Escola Itinerante do Paraná, atrelada à luta pela terra, materializa a relação entre trabalho, educação e educação escolar com vistas à formação humana integral dos estudantes. Para perseguir este objetivo a pesquisa foi alicerçada numa análise documental, revisão bibliográfica e a pesquisa de campo, por meio de diário de campo. A apresentação da pesquisa, inicialmente aborda, de forma sumária, as questões centrais da relação do campo brasileiro no modo de produção que determina nossas relações sociais de produção e das formas de organização da vida, o capitalismo. Nesse contexto, aborda-se um breve resgate da história do MST e do caminho que leva este movimento a compreender a necessidade de colocar a educação e a educação escolar na esteira de sua luta até a especificidade da constituição da Escola Itinerante no Paraná. Evidenciamos os desafios de conjugar a luta pelo acesso à educação escolar com a luta contra a tutela política pedagógica do Estado ao fazer escola no acampamento. Caracterizamos o percurso histórico das doze escolas itinerantes em funcionamento no estado, nas quais perseguem a construção de uma nova relação entre conteúdo e forma escolar fundada na Pedagogia Socialista e no acúmulo da Pedagogia do Movimento. No segundo capítulo, realizamos um levantamento do universo conceitual e categorial acerca da relação trabalho e educação nos propositores do método materialista histórico dialético, Marx e Engels. A construção histórica das pedagogias socialistas e marxistas são o objeto do terceiro capítulo como um panorama das possibilidades construídas na história da educação e do pensamento educacional de se perseguir um estabelecimento efetivo entre o trabalho – como ação humana e humanizadora – e a educação e o ensino. A pedagogia socialista, a escola única do trabalho, a escola unitária, a pedagogia histórico-crítica e a pedagogia do Movimento são identificadas naquilo que é central para este trabalho. A partir de um levantamento in loco e acompanhamento como sujeito do setor de educação do MST, apresentamos uma análise da construção das escolhas teóricas, políticas e metodológicas na história da Escola Itinerante e, particularmente, das EI do Paraná. Da construção de uma proposta de escola ancorada nos temas geradores da tradição freireana, incorporada no desafio de elaborar um projeto com base nos Complexos de Estudo de Pistrak, apresentamos os elementos conceituais e analíticos, assim como as experiências que se realizam hoje no estado. Identificamos a conexão da Escola Itinerante com a Pedagogia Socialista ao atualizar o sentido da Escola do Trabalho, e ao perseguir a relação entre trabalho e escola, tendo o trabalho como categoria chave que possibilita a apreensão unitária da lógica que sustenta a contradição entre o capital e o trabalho (atualidade). Em decorrência desse sentido, aciona o trabalho como meio de educação na inserção em processos coletivos de autosserviço, trabalho socialmente necessário, de luta, de expressão cultural e de estudo articuladas à categoria da auto-organização dos estudantes de modo que desenvolva, nas novas gerações, traços de uma personalidade socialista e multilateralmente desenvolvida. Ainda por meio da organização coletiva da comunidade escolar reivindicam pelas condições para construir e qualificar a luta pelo desenvolvimento das riquezas humanas, de modo articulado as estratégias políticas do MST na construção da Reforma Agrária Popular. Consideramos que os Ensaios da Escola do Trabalho em curso nas EI do Paraná, mesmo em meio às suas limitações e às tensões oriundas, principalmente da relação com Estado e da ausência de condições estruturais para acolher uma organização curricular desta complexidade, amplia o sentido da escola da classe trabalhadora, em especial em meio as ocupações de terra. Na medida em que as categorias do trabalho educativo adquirem uma nova articulação nos Complexos de Estudo de modo mais ordenado, assegura e recoloca contundentemente, não sem limites, o trabalho com as bases das ciências, da arte, da cultura e das tecnologias engendradas pelo ser humano ao longo da história, em conexão com a agroecologia, as lutas sociais e a auto-organização. Configura-se como germes da educação socialista na atualidade, na formação de lutadores e construtores de uma nova sociedade.
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