Ditadura, agricultura e educação: a ESALQ/USP e a modernização conservadora do campo brasileiro (1964 a 1985)
DOI:
https://doi.org/10.9771/gmed.v9i3.22449Palavras-chave:
ESALQ/USP, Movimento Civil-Militar de 1964, Ruralismo, Modernização Conservadora, Questão agrária, Educação Superior Agrícola, intelectuais orgânicos, Ciências AgráriasResumo
Esta tese de doutorado foi desenvolvida na linha de pesquisa História de Instituições Escolares no Grupo de Pesquisa História, Sociedade e Educação no Brasil. É o resultado de uma década de estudos acerca da História da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” localizada na cidade de Piracicaba, instituição projetada em 1881, inaugurada em 1901 e integrada pela Universidade de São Paulo desde 1934. Apesar de realizarmos um histórico dos 115 anos da escola instituída, nosso principal foco de investigação é concentrado no período histórico da “Ditadura Civil-Militar” de 1964 a 1985. Sob inspiração do materialismo histórico-dialético, nossa investigação foi baseada principalmente em fontes primárias do acervo das unidades da ESALQ e do Arquivo Público do Estado de São Paulo, em especial, o fundo DEOPS. No geral, foram examinados jornais, dossiês, relatórios, revistas, cartas, fotografias, mapas e atas da congregação. Também foram aplicados questionários, realizadas entrevistas e vivencia antropológica no meio institucional, seja dentro ou fora de seus muros. No decorrer de nossa pesquisa procuramos relacionar a Ditadura, a Agricultura e a Educação Superior Agrícola como fatores articulados ao projeto político e econômico dos militares, dos empresários e do imperialismo que objetivou a modernização do campo, mesmo que o “moderno” estivesse acompanhado do “arcaico”, um fenômeno estrutural do capitalismo desenvolvido no Brasil. Neste percurso investigativo nos interrogamos: “quem são os esalqueanos e quais foram suas contribuições e resistências ao projeto da ditadura para o meio rural? Assim, analisamos o período pré-golpe de 1964, quando ocorreram movimentações de funcionários do governo dos EUA e da extrema direita brasileira dentro da escola, auxiliares na deposição do presidente João Goulart e perseguidores da esquerda esalqueana. Após o golpe, analisamos o período ditatorial, quando o campus USP de Piracicaba passou por um grande plano de intervenção estadunidense via USAID, que pretendeu implantar o sistema de Land Grant College System no Brasil. Foi neste período que os professores estrangeiros e os esalqueanos criaram novos cursos de graduação e a pós-graduação, com especial destaque para a área da energia nuclear aplicada ao campo (CENA). Tratou-se de um projeto de Estado a serviço dos empresários nacionais e internacionais, quando a ESALQ aprofundou a prática do ensino e da pesquisa em benefício da agroindústria, especialmente a mutação genética de sementes, animais e o desenvolvimento de tecnologias rurais financiadas com dinheiro público, embora o povo estivesse marginalizado deste processo. Nesse sentido procuramos compreender o papel da ESALQ como centro estratégico da classe dominante na formação de intelectuais orgânicos do ruralismo, sujeitos que atuam no interior da sociedade civil e política em cargos de direção empresarial ou estatal. Seja fora da escola com o genocídio dos “povos da terra” ou dentro da “Luiz de Queiroz” com a perseguição e prisão de esalqueanos contrários ao regime, concluímos que a modernização capitalista do campo brasileiro foi resultado da aliança do imperialismo com as classes hegemônicas do movimento civil-militar de 1964.
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