AS INEXORÁVEIS VIOLÊNCIAS SOBRE OS CORPOS NEGROS
UMA LEITURA DE ANA DAVENGA, DE CONCEIÇÃO EVARISTO
Abstract
Este artigo apresenta uma leitura crítica sobre o conto Ana Davenga sob o viés da representação da violência. Neste conto, a personagem que dá título ao texto se depara com uma situação conflituosa que se mostra inescapável, a qual se materializa logo após momentos de felicidade genuínos vividos por ela e pelo seu companheiro. Esse choque de realidade faz com que a violência na sua vida pareça ser um fenômeno inexorável. Nesse sentido, subentende-se que, para alguém como Ana Davenga, mulher negra periférica brasileira, não é possível se dissociar do aspecto da violência na sua construção identitária. Este texto, portanto, apresenta uma reflexão teórica sobre a formação da identidade dos sujeitos negros, balizada pela violência que, sendo institucionalizada, passa a agir oficialmente como aquilo que Achille Mbembe (2008) chamará de necropolítica, herdeira dos plantations e do apartheid. Além disso, a análise é também direcionada para a condição específica da mulher negra, uma vez que as violências sofridas por esta figura identitária em especial atingem determinados graus interseccionais não alcançados pelos homens negros (além da raça, o gênero), denotando uma complexidade maior. Assim, este trabalho empreende sua análise sob as óticas teóricas da questão identitária e da interseccionalidade.