TRAÇOS DA CULPA: UMA LEITURA ALEGÓRICA DA REPRESSÃO FEMININA EM LUCÍOLA
Abstract
Considerada uma das vozes mais importantes do nosso Romantismo, José de Alencar foi dono de várias facetas literárias capazes de fazer seus leitores viajarem por todo o Brasil e de se imiscuírem de alguns dos melhores traços de nossa nacionalidade. É fato que a natureza plural de sua obra constituía parte de um projeto maior, a tentativa de captar nossa brasilidade, não podendo, portanto, abrir mão de importantes aspectos de nossa história. Com base nessa premissa, este artigo objetiva atentar para a repressão e penalizações sofridas pela protagonista do romance Lucíola, estas provenientes de um largo processo de culpabilização, como alegorias de uma sociedade coercitiva da liberdade/sexualidade feminina – tal foi a sociedade do século XIX, com reproduções desses padrões na contemporaneidade. Ressalta-se que a concepção de alegoria de Walter Benjamin atuará como paradigma nessa empreitada, uma vez que essa forma de representação, histórica e dialética ajusta-se plenamente aos propósitos aqui delineados. Também, para que uma maior elucidação sobre a reconstituição de Lucíola enquanto alegoria seja alcançada, um contraponto à concepção de símbolo será necessária, considerando que esse foi tomado pelos românticos como a verdadeira forma de expressão capaz de captar o Todo. Entende-se aqui, portanto, que a alegoria se constitui como forma mais eficaz de interpretação de um mundo com o qual o homem já não pode se integrar totalmente.