A SUBVERSÃO DA MATERNIDADE EM A FILHA PRIMITIVA, DE VANESSA PASSOS
Palavras-chave:
Maternidade; Narrativa; Crítica Feminista; Ancestralidade; Resistência.Resumo
O presente artigo analisa a obra A Filha Primitiva, de Vanessa Passos, destacando como a escrita da autora aborda questões de maternidade, identidade e ancestralidade sob a ótica da crítica feminista. A protagonista, identificada como “mãe”, passa por uma jornada de autoconhecimento e resistência ao sistema patriarcal que busca silenciar e definir as mulheres. A maternidade é explorada de forma ambígua, sendo tanto um espaço de subordinação quanto de reinvenção. A ausência de nomes próprios nas personagens simboliza a perda da identidade das mulheres negras, cujas histórias e ancestralidades são frequentemente apagadas. A violência estrutural e simbólica contra as mulheres negras permeia a obra, com a escrita surgindo como uma ferramenta de resistência e afirmação de uma nova identidade. A reflexão sobre a maternidade questiona o mito do instinto materno, propondo uma desromantização do papel tradicional da mãe. A protagonista, em busca de sua própria identidade, desafia as expectativas sociais e por meio da escrita tenta se distanciar do destino lhe imposto para reinventar sua própria existência.
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