“O erro de Heidegger”: do Estado-nação ao lugar como habitar poético

Autores

  • Eduardo Marandola Jr Universidade Estadual de Campinas

DOI:

https://doi.org/10.9771/geo.v16i2.42735

Palavras-chave:

Passividade, Pensamento fraco, Filosofia e Geografia

Resumo

Por que ler Heidegger? Por que seu pensamento, marcado de forma irremissível pelo reitorado durante o governo nazista, pode ser fecundo para a Geografia do século XXI, em sua necessidade latente de diversidade e multiplicidade? O argumento do artigo parte da discussão de sua adesão ao nacional-socialismo, suas expectativas e frustração, identificando nesta experiência momento decisivo na direção que seu pensamento toma no que se convencionou chamar de Kehre – viragem. O “erro de Heidegger” é ponderado à luz do efeito produzido em seu pensamento, o que o conduz à linguagem na expectativa de uma outra época do Ser: um futuro que não pode ser buscado, apenas preparado. Este é o caminho da serenidade e da passividade, ao mesmo tempo em que radicaliza a crítica ao sujeito moderno e reconhece a força das estruturas históricas na constituição epocal. Trata-se de um pensamento a caminho, que fomenta uma Geografia menos pretensiosa que dá atenção à Terra, à linguagem e à multiplicidade, abrindo caminho para o lugar e o habitar poético.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Eduardo Marandola Jr, Universidade Estadual de Campinas

Professor da Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA). Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)

Referências

AGAMBEN, Giorgio. O aberto: o homem e o animal. 2. ed. Trad. Pedro Mendes. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2017.

ARENDT, Hannah. Homens em tempos sombrios. Trad. Denise Bottimann.

São Paulo: Cia. das Letras, 1987.

ARENDT, Hannah. Entre o passado e o futuro. 7. ed. Trad. Mauro W. Barbosa. São Paulo: Perspectiva, 2013.

BADIOU, Alain; CASSIN, Barbara. Heidegger: O nazismo, as mulheres, a filosofia. Trad. Maria Inês Duque Estrada. Rio de Janeiro: Tinta Negra Bazar Editorial, 2011.

BERDOULAY, Vincent. A escola francesa de geografia: uma abordagem contextual. Trad. Oswaldo Bueno Amorim Filho, 2016.

ESCOLAR, Marcelo. Crítica do discurso geográfico. Trad. Shirley Morales Gonçalves. São Paulo: Hucitec, 1996.

FAYE, Emmanuel. Heidegger, l’introduction du nazisme dans la philosophie –autour des seminaries inédits de 1933/35. Paris: Albin Michel, 2005.

FÉDIER, François. Heidegger: anatomie d’un scandale. Paris: R. Laffont, 1988.

FÉDIER, François. Voltar a ter mais decência. In: HEIDEGGER, Martin. Escritos politicos 1933-1966. Trad. José Pedro Cabrera. Lisboa: Instituto Piaget, 1997. p. 9-92.

GIUBILATO, Giovanni Jan. O projeto de uma metapolítica nos Cadernos negros de Heidegger (1931-1941). Natureza humana, v. 21, n. 1, p. 73-83, 2019.

HEIDEGGER, Martin. Da experiência do pensar. Trad. Maria do Carmo Tavares de Miranda. Porto Alegre: Globo, 1969.

HEIDEGGER, Martin. Discurso do reitorado. In: HEIDEGGER, Martin. Escritos políticos 1933-1966. Trad. José Pedro Cabrera. Lisboa: Instituto Piaget, 1997. p. 93-103.

HEIDEGGER, Martin. Sobre a essência da verdade. In: HEIDEGGER, Martin. Os pensadores. Trad. Ernildo Stein. São Paulo: Abril Cultural, 1999. p.147-170.

HEIDEGGER, Martin. Serenidade. Trad. Maria Madalena Andrade e Olga Santos. Lisboa: Instituto Piaget, 2000.

HEIDEGGER, Martin. O que quer dizer pensar? In: HEIDEGGER, Martin. Ensaios e conferências. Trad. Emmanuel Carneiro Leão, Gilvan Fogel e Marcia Sá Cavalcante Chuback. Petrópolis: Vozes, 2001a. p.111-124.

HEIDEGGER, Martin. Construir, habitar, pensar. In: HEIDEGGER, Martin. Ensaios e conferências. Trad. Emmanuel Carneiro Leão, Gilvan Fogel e Marcia Sá Cavalcante Chuback. Petrópolis: Vozes, 2001b. p.125-142.

HEIDEGGER, Martin. Hinos de Hölderlin. Trad. Lumir Nahodil. Lisboa: Instituto Piaget, 2004.

HEIDEGGER, Martin. A questão da técnica. SCIENTIÆ studia, v. 5, n. 3, p. 375-398, 2007.

HEIDEGGER, Martin. A caminho da linguagem. Trad. Marcia Sá Cavalcanti. 4. ed. Petrópolis: Vozes; Bragança Paulista: Editora Universitária São Francisco, 2008.

HEIDEGGER, Martin. Introdução à filosofia. Trad. Marco Casanova. São Paulo: Martins Fontes, 2009.

HEIDEGGER, Martin. Ser e tempo. Trad. Fausto Castilho. Campinas: Ed. Unicamp, 2012a.

EIDEGGER, Martin. A origem da obra de arte. Trad. Irene Borges-Duarte e Filipa Pedroso. In: HEIDEGGER, Martin. Caminhos de floresta. 2. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2012b. p. 5-94.

HEIDEGGER, Martin. Cuadernos negros (1931-1938) Reflexiones II-VI. Trad. GA 95. Alberto Ciria. Madrid: Trotta, 2015a.

HEIDEGGER, Martin. Cuadernos negros (1938-1939) Reflexiones VII-XI. GA 96. Trad. Alberto Ciria. Madrid: Trotta, 2015b.

HEIDEGGER, Martin. Contribuições à filosofia (Do acontecimento apropriador). Trad. Marco Casanova. Rio de Janeiro: Via Verita, 2015c.

HOOSON, David (Ed.). Geography and national identity. London: Blackwell, 1994.

HUSSERL, Edmund. A crise das ciências europeias e a fenomenologia transcendental: uma introdução à filosofia fenomenológica. Trad. Diogo Falcão Ferrer. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2012a.

HUSSERL, Edmund. Renovación del hombre y de la cultura: cinco ensayos. Trad. Augstín Serrano de Haro. Barcelona: Anthropos, 2012b.

JASPERS, Karl. A questão da culpa: a Alemanha e o nazismo. Trad. Claudia Dornbusch. São Paulo: Todavia, 2009.

LOPARIC, Zeljko. Martin Heidegger e os fundamentos da existência. In: ALMEIDA, Jorge; BADER, Walfgang (Org.). O pensamento alemão no século XX: grandes protagonistas e recepção das obras no Brasil. São Paulo: Cocac Naify, 2013. p.123-152.

LYRA, Edgar. Sobre a recepção dos Cadernos Negros de Heidegger. O que nos faz pensar, n. 36, p. 53-74, 2015.

MALDONADO-TORRES, Nelson. A topologia do Ser e a geopolítica do conhecimento. Modernidade, império e colonialidade. Revista Crítica de Ciências Sociais, n. 80, p. 71-114, 2008.

MALPAS, Jeff. Heidegger’s topology: being, place, world. Cambridge: The MIT Press, 2008.

MARANDOLA JR., Eduardo. Heidegger e o pensamento fenomenológico em Geografia: sobre os modos geográficos de existência. Geografia, v. 37, p. 81-94, 2012.

MARANDOLA JR., Eduardo. Lugar e lugaridade. Mercator, v. 19, p. 1-12, 2020.

NUNES, Benedito. Heidegger. São Paulo: Loyola, 2016.

PALMIER, Jean-Michel. Les écrits politiques de Heidegger. Paris: L’Herne, 1968.

PORTO-GONÇALVES, Carlos W. Da geografia às geo-grafias: um mundo em busca de novas territorialidades. In: CECEÑA, Ana Esther; SADER, Emir (Comp.). La guerra infinita: hegemonia y terror mundial. Buenos Aires: CLACSO, 2002. p. 217-256.

QUIJANO, Anibal. Colonialidad del poder, eurocentrismo y America Latina. In: LANDER, Edgardo (Comp.). La colonialidade del saber: eurocentrismo y ciencias sociales. Perspectivas latino-americanas. Buenos Aires: CLACSO, 1993. p. 201-246.

RORTY, Richard. Ensaios sobre Heidegger e outros. Trad. Eugénia Antunes. Lisboa: Instituto Piaget, 1999.

RÜDIGER, Francisco. Martin Heidegger e a questão da técnica: prospectos acerca do futuro do homem. 2. ed. Porto Alegre: Sulina, 2014.

STEIN, Ernildo. Pensar e errar: um ajuste com Heidegger. 2. ed. Ijuí: Ed. UNIJUÍ, 2015.

SAFRANSKI, Rüdiger. Heidegger: um mestre da Alemanha entre o bem e o mal. Trad. Lya Luft. São Paulo: Geração Editorial, 2005.

SARAMAGO, Ligia. A “topologia do ser”: lugar, espaço e linguagem no pensamento de Martin Heidegger. Rio de Janeiro: Ed. PUC-Rio; São Paulo: Loyola, 2008.

TRAWNY, Peter. Freedom to fail: Heidegger’s Anarchy. Trad. Ian Alexander Moore e Christopher Turner. London: Polity, 2015.

VATTIMO, Gianni. As aventuras da diferença: o que significa pensar depois de Heidegger e Nietzsche. Lisboa: Edições 70, 1988.

VATTIMO, Gianni. O fim da modernidade: niilismo e hermenêutica na cultura pós-moderna. Trad. Eduardo Brandão. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

WERLE, Marco A. A pergunta e o caminho no pensamento de Heidegger. In: WU, Roberto; NASCIMENTO, Cláudio R. (Org.). A obra inédita de Heidegger. São Paulo: LiberArs, 2012. p. 151-165.

Downloads

Publicado

2020-12-14

Como Citar

Marandola Jr, E. (2020). “O erro de Heidegger”: do Estado-nação ao lugar como habitar poético. GeoTextos, 16(2). https://doi.org/10.9771/geo.v16i2.42735

Edição

Seção

Perspectivas