“O erro de Heidegger”: do Estado-nação ao lugar como habitar poético
DOI:
https://doi.org/10.9771/geo.v16i2.42735Palavras-chave:
Passividade, Pensamento fraco, Filosofia e GeografiaResumo
Por que ler Heidegger? Por que seu pensamento, marcado de forma irremissível pelo reitorado durante o governo nazista, pode ser fecundo para a Geografia do século XXI, em sua necessidade latente de diversidade e multiplicidade? O argumento do artigo parte da discussão de sua adesão ao nacional-socialismo, suas expectativas e frustração, identificando nesta experiência momento decisivo na direção que seu pensamento toma no que se convencionou chamar de Kehre – viragem. O “erro de Heidegger” é ponderado à luz do efeito produzido em seu pensamento, o que o conduz à linguagem na expectativa de uma outra época do Ser: um futuro que não pode ser buscado, apenas preparado. Este é o caminho da serenidade e da passividade, ao mesmo tempo em que radicaliza a crítica ao sujeito moderno e reconhece a força das estruturas históricas na constituição epocal. Trata-se de um pensamento a caminho, que fomenta uma Geografia menos pretensiosa que dá atenção à Terra, à linguagem e à multiplicidade, abrindo caminho para o lugar e o habitar poético.
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