NAÇÃO, TERRENO DO DUPLO: A FUNÇÃO DO DUPLO NA MITOLOGIA DO ESTADO ABSOLUTISTA E DO ESTADO-NAÇÃO
DOI:
https://doi.org/10.9771/ell.i70.43786Palavras-chave:
Duplo, Estado, Nação, Rômulo e Remo, Chimamanda Ngozi AdichieResumo
Este artigo faz uma leitura comparada entre a versão registrada por Plutarco do mito de Rômulo e Remo e a história das gêmeas Olanna e Kainene, personagens de Meio sol amarelo, romance da nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie, que trata do surgimento e do esfacelamento de Biafra (atual Nigéria). O objetivo precípuo é sugerir que a figura do duplo, em ambas as narrativas, cumpre uma função mitológica comum relacionada à fundação tanto do Estado absolutista quanto do Estado-nação. A diferença que se observa tem a ver com o destino do duplo após o Estado ser fundado. No Estado absolutista, a presença do duplo humano torna-se empecilho, na medida em que o soberano passa a estabelecer uma relação de duplo com o próprio Estado, sendo necessário, portanto, o afastamento do duplo anterior, que por vezes se dá pela morte. Já no Estado-nação, que tem a fraternidade como um de seus pilares simbólicos, a presença do duplo é condição sine qua non não só para legitimar a fundação da nação, mas também para justificar sua continuidade.
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