ENTRE NÓS E ELES: O ENQUADRAMENTO DO G1 SOBRE A MORTE YANOMAMI
DOI:
https://doi.org/10.9771/contemporanea.v21i3.56660Palabras clave:
enquadramento, acontecimento, Yanomami, morteResumen
Urihi Associação Yanomami valendo-se de registros fotográficos deu visibilidade à condição de subalimentação dos indígenas yanomami da região do Surucucu, no oeste de Roraima. Em janeiro de 2023, uma fotografia de uma indígena morta ganhou visibilidade no portal de notícias G1, tratando-se do retrato de uma indígena em estado grave de desnutrição. No mesmo período, a associação yanomami solicitou o apagamento da fotografia dos veículos de comunicação. A questão central do presente trabalho: ao comunicar a morte da indígena, o G1, inserido em nosso contexto midiatizado, provoca um afastamento do modo como os yanomami pensam a morte para dar inteligibilidade a esse acontecimento em nossa cultura. Nossa pergunta condutora: quais os quadros de sentidos usados pelo jornal para traduzir a morte da indígena para nossa cultura? Como fundamentos, fazemos uso dos conceitos de acontecimento (Quéré, 2005, 2012), da noção de enquadramento (Goffman, 2012), de framming e frames (Gradim, 2021); da noção de cultura com Eduardo Viveiros de Castro (2014) e da perspectiva da filosofia pragmatista. Identificamos que o enquadramento dado ao acontecimento morte da indígena focou no quadro ‘saúde pública’. Isso ficou evidente pelas ligações exteriores que o jornal produz entorno da morte. Instaurando uma temporalidade estranha aos olhos da cultura yanomami, conduzindo a morte a uma problemática que escapa a cosmologia dos indígenas. Entre os achados, concluímos que o enquadramento dado a morte da indígena tem a função de tornar tal morte compreensível para nossa cultura e dessa forma tornando o acontecimento inteligível para o leitor do jornal.
Descargas
Citas
CASTRO, E. V. Esboço da cosmologia yawalapíti. In: CASTRO, E. V. A inconstância da alma selvagem e outros ensaios de antropologia. 1.ed. São Paulo: Cosac Naify, 2014. p. 25-86.
DEWEY, J. A teoria da investigação. In: DEWEY, J. Experiência e Natureza. São Paulo: Abril,1974. p. 187-210. (Coleção Os pensadores: história das grandes ideias do mundo ocidental).
FANTE, E.; GALLAS, D. (org.). Como cobrir temas indígenas: recomendações de jornalistas indígenas a jornalistas não indígenas. Porto Alegre: Ed. dos autores, 2022.
FEDERAÇÃO NACIONAL DOS JORNALISTAS (Brasil). Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros. Vitória: FENAJ, 4 ago. 2014. Disponível em: https://fenaj.org.br/wp-content/uploads/2014/06/04-codigo_de_etica_dos_jornalistas_brasileiros.pdf. Acesso em: 25 jan. 2024.
GOFFMAN, E. Os quadros da experiência social: uma perspectiva de análise. 1.ed. Petrópolis: Vozes, 2012.
GRADIM, A. O contributo das teorias de framing para o diálogo intercultural. In: MOREIRA, B. D.; OLIVEIRA, P. P.; MATTOS, A. (org.). Comunicação, cultura e sensibilidade: cadernos multimundos. Bagé: Faith, 2021. v. 1, p. 46-55. Disponível em: http://www.editorafaith.he.com.br/ebooks/grat/978-65-89270-07-2.pdf. Acesso em: 12 maio 2023
GRADIM, A. Para uma leitura semiótica das teorias de framing: reinterpretando o enquadramento com base na categoria peirceana de terceiridade. Galáxia, São Paulo, n. 35, p. 21-31, maio/ago. 2017. Disponível em: https://www.scielo.br/j/gal/a/8TNr88cwzFYPRzbb3FmjQBC/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 6 maio 2023
HISTÓRIA dos yanomami. Hutukara, Boa Vista, [2015]. Disponível em: http://hutukara.org/index.php/hay/historia-dos-yanomami. Acesso em: 31 maio 2023.
KOPENAWA, D.; ALBERT, B. A fumaça do metal. In: KOPENAWA, D.; ALBERT, B. A queda do céu: palavras de um xamã yanomami. Tradução de Beatriz Perrone-Moisés. 1.ed São Paulo: Companhia das Letras, 2015. p. 221-356
MORRE mulher Yanomami fotografada em estado grave de desnutrição. G1, Roraima, 22 jan. 2023. Disponível em: https://g1.globo.com/rr/roraima/noticia/2023/01/22/morre-mulher--yanomami-fotografada-em-estado-grave-de-desnutricao.ghtml. Acesso em: 4 maio 2023
POGREBINSCHI, T. Pragmatismo: teoria social e política. 1. ed. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2005.
QUÉRÉ, L. A dupla vida do acontecimento: por um realismo pragmatista. In: FRANÇA, V. R. V.; OLIVEIRA, L. (org.). Acontecimento: reverberações. 1. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2012. p. 21-38.
QUÉRÉ, L. A individualização do acontecimento no quadro da experiência pública. Caleidoscópio, Lisboa, n. 10, p. 13-37, 2011. Disponível em: https://recil.ensinolusofona.pt/handle/10437/6050. Acesso em: 15 mar. 2023.
QUÉRÉ, L. De um modelo epistemológico da comunicação a um modelo praxiológico. In: FRANÇA, V. V.; SIMÕES, P. (org.). O modelo praxiológico e os desafios da pesquisa em comunicação. 1. ed. Porto Alegre: Sulina, 2018. p. 15-50.
QUÉRÉ, L. Entre o facto e o sentido: a dualidade do acontecimento. Trajectos, Lisboa: Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa n. 6, p. 59-75, 2005.
RAMALHO, M. Os Yanomami e a morte. 2008. Tese (Doutorado em Antropologia) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2008.
SOUZA, V. G. P. Criando ícones: a construção da imagem das guerras pelas fotos. Discursos Fotográficos, Londrina, v. 10, n. 16, p. 85-109, jan./jun. 2014. Disponível em: https://ojs.uel.br/revistas/uel/index.php/discursosfotograficos/article/view/16145. Acesso em: 10 abr. 2023
URIHI ASSOCIAÇÃO YANOMAMI. 2003. Nota de esclarecimento. Disponível em: https://www.instagram.com/p/CnvzcP1OEIp/?igsh=cTY3a3JtZWN3c2o0
Descargas
Publicado
Número
Sección
Licencia
Derechos de autor 2024 Marcelo Almeida Duarte
Esta obra está bajo una licencia internacional Creative Commons Atribución-CompartirIgual 4.0.
Os autores que publicam nessa revista devem concordar com os seguintes termos relativos aos Direitos Autorais:
Autores mantém os direitos autorais e concedem à revista Contemporanea e à Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons Attribution que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta revista.
Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista.
Autores têm permissão e são estimulados a publicar e distribuir seu trabalho online (ex.: em repositórios institucionais ou na sua página pessoal) a qualquer ponto antes ou durante o processo editorial, já que isso pode gerar alterações produtivas, bem como aumentar o impacto e a citação do trabalho publicado.