TWO CAPTURES OF A FLOATING CATEGORY: FREEDOM OF SPEECH AS A NODAL POINT OF DISCURSIVE ARTICULATIONS IN THE FIELD OF HUMOR

Authors

DOI:

https://doi.org/10.9771/contemporanea.v20i3.52479

Keywords:

Humor, Freedom of speech, Hegemony

Abstract

Considering humor as a space for enhancing discursive disputes that cut across society (Possenti, 2018), this paper aims to identify and discuss enunciative positions that participate in discussions on freedom of expression in the field of humor. For that, we try to trace the genealogy of a relatively consolidated hegemonic articulation in the field of humor, considering it from the Brazilian context. Then, through the observation of comedians’ manifestations that had repercussions in media representations of public debate after episodes involving judicial disputes around the performance of comedians, we seek to understand how freedom of expression works as articulating element in such hegemonic position, as well as in what we propose to understand as a counter-hegemony – or an emerging hegemony – in the field of humor. As the main research conclusion, we observe that the category “freedom of speech” seems to function as a “nodal point” (Laclau; Mouffe, 2015) of different political/discursive articulations in the field of humor.

Downloads

Download data is not yet available.

Author Biography

Nara Lya Cabral Scabin, Universidade Anhembi Morumbi - Programa de Pós-Graduação em Comunicação

PhD in Communication Sciences from the University of São Paulo, she developed postdoctoral research in Communication and Consumer Practices at ESPM. Professor of the Graduate Program in Communication at Anhembi Morumbi University. Leader of the Research Group RisoMídia – Representations, Mediations and Humor in Audiovisual Culture (UAM/CNPq) and coordinator of the GP Communication, Media and Freedom of Spreech of the Brazilian Society of Interdisciplinary Studies in Communication (INTERCOM).

References

BARENDT, Eric. Freedom of speech. Oxford: Oxford University Press, 2009.

BOUCINHAS, André. Um humorista e um militante entram num bar. piauí, São Paulo, ed. 160, jan. 2020.

BOURDIEU, Pierre. A distinção: crítica social do julgamento. Porto Alegre: Zouk, 2017.

BRASIL, Ubiratan. ‘Nossa liberdade é inegociável’, diz Fábio Porchat, do Porta dos Fundos. Estadão, São Paulo, 19 mar. 2020. Disponível em: https://www.estadao.com.br/cultura/televisao/ nossa-liberdade-e-inegociavel-diz-fabio-porchat-do-porta-dos-fundos/. Acesso em: 11 dez. 2023.

CABRAL, Nara Lya Simões Caetano. Mobilizações discursivas da categoria “politicamente correto”: um mapa dos sentidos que emergem no jornalismo. 2015. Dissertação (Mestrado em Ciências da Comunicação) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2015.

CHAGAS, Viktor. Meu malvado favorito: os memes bolsonaristas de WhatsApp e os acontecimentos políticos no Brasil. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, v. 3, n. 72, p. 169-196, 2021. Disponível em: https://www.scielo.br/j/eh/a/vXzQKJb4KJY4LV7ZXXGSzvH/. Acesso em: 11 dez. 2023.

CHARAUDEAU, Patrick. Discurso das mídias. São Paulo: Contexto, 2010.

DANILO Gentili é condenado por injúria contra deputada Maria do Rosário. Folha de S. Paulo, São Paulo, 10 abr. 2019. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2019/04/ danilo-gentili-e-condenado-por-injuria-a-deputada-maria-do-rosario.shtml#:~:text=O%20apresentador%20Danilo%20Gentili%2C%20que,celebrou%20a%20vit%C3%B3ria%20no%20Twitter. Acesso em: 11 dez. 2023.

FAIRCLOUGH, Norman. ‘Political correctness’: The politics of culture and language.

Discourse & Society, London, v. 14, n. 1, p. 17-28, 2003.

GANCIA, Barbara. Humor que não ousa não presta. Folha de S. Paulo, São Paulo, 31 jul. 2009. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff3107200902.htm. Acesso em:

dez. 2023.

GREGÓRIO Duvivier afirma que também quer a solidariedade de Bolsonaro. Estadão, São Paulo, 12 abr. 2019. Disponível em: https://www.estadao.com.br/emais/gente/gregorio-duvivier-afirma-que-tambem-quer-a-solidariedade-de-bolsonaro/. Acesso em: 11 dez. 2023.

HALL, Stuart. “Some ‘politically incorrect’ pathways through PC”. In: DUNANT, Sarah (ed.). The war of the words: the political correctness debate. London: Virago, 1994. p. 164-183.

LACLAU, Ernesto; MOUFFE, Chantal. Hegemonia e estratégia socialista: por uma política democrática radical. São Paulo: Intermeios, 2015.

LAHIRE, Bernard. “Campo”. In: CATANI, Afrânio Mendes et al. (org.). Vocabulário Bourdieu.

Belo Horizonte: Autêntica, 2017. p. 64-66.

MAINGUENEAU, Dominique. Doze conceitos em análise do discurso. São Paulo: Parábola, 2010.

MAINGUENEAU, Dominique. Gênese dos Discursos. Curitiba: Parábola, 2008.

MisoczKy, Maria Ceci. Implicações do uso das formulações sobre campo de poder e ação de Bourdieu nos estudos organizacionais. Revista de Administração Contemporânea, Curitiba, v. 7, p. 9-30, 2003. Número especial. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rac/a/qZQ9RgCRY zsLVztJ5TZngGF/?lang=pt. Acesso em: 11 dez. 2023.

MONDAL, Anshuman. Islam and controversy: The politics of free speech after Rushdie. New York: Palgrave Macmillan, 2014.

NORRIS, Pippa; INGLEHART, Ronald. Cultural Backlash: Trump, Brexit and authoritarian populism. Cambridge: Cambridge University Press, 2019.

PADIGLIONE, Cristiane. Toffoli derruba a censura a filme do Porta dos Fundos. Telepadi, São Paulo, 9 jan. 2020. Disponível em: https://telepadi.com.br/toffoli-derruba-censura-filme-porta-dos-fundos/. Acesso em: 11 dez. 2023.

PORTA dos Fundos vence Emmy de “Melhor Comédia”; Globo sai sem prêmios. Uol, São Paulo, 25 nov. 2019. Disponível em: https://tvefamosos.uol.com.br/noticias/redacao/2019/11/25/ porta-dos-fundos-leva-emmy-de-melhor-comedia.htm. Acesso em: 11 dez. 2023.

POSSENTI, Sírio. Cinco ensaios sobre humor e análise do discurso. São Paulo: Parábola, 2018.

RECUERO, Raquel; SOARES, Felipe; ZAGO, Gabriela. Polarização, hiperpartidarismo e câmaras de eco: como circula a desinformação sobre Covid-19 no Twitter. Revista Contracampo, Niterói, v. 40, n. 1, 2021. Disponível em: https://periodicos.uff.br/contracampo/article/view/45611.

Acesso em: 11 dez. 2023.

RIBEIRO, Renato Janine. A Sociedade Contra o Social: o alto custo da vida pública no Brasil.

São Paulo: Companhia das Letras, 2000.

ROXO, Elisangela; MAGENTA, Matheus. “Chamar de negão era circense”, diz Didi. Folha de S. Paulo, São Paulo, 23 mar. 2012. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrada/32828-quotchamar-de-negao-era-circensequot-diz-didi.shtml. Acesso em: 11 dez. 2023.

SCABIN, Nara Lya Cabral. Políticamente correto, uma categoría em disputa. Curitiba: Appris, 2018.

SCABIN, Nara Lya Cabral. Discursos sobre el humor, la libertad de expresión y la ofensa en artículos publicado en dos periódicos brasileros entre el 2012 y el 2016. Mediaciones, Bogotá, v. 16, n. 25, p. 260-272, 2020. Disponível em: https://revistas.uniminuto.edu/index.php/med/ article/view/2453. Acesso em: 11 dez. 2023.

SCABIN, Nara Lya Cabral. O humor audiovisual brasileiro sob o olhar da crítica: mobilizações discursivas da liberdade de expressão na circulação de A primeira tentação de Cristo. Ação Midiática, Curitiba, n. 23, p. 38-55, 2022. Disponível em: https://revistas.ufpr.br/acaomidiatica/ article/view/82278. Acesso em: 11 dez. 2023.

RISSO, Carla de Araújo; PAGANOTTI, Ivan; SCABIN, Nara Lya Cabral; LEITE, Andrea Limberto. Desinformação, direitos humanos e liberdade de expressão. In: PRATA, Nair et al. (org.). Comunicação e ciência: reflexões sobre a desinformação. São Paulo: Intercom, 2022. p. 137-163.

SCABIN, Nara Lya Cabral; PAGANOTTI, Ivan. Retórica política bolsonarista e o uso de humor ofensivo como estratégia de defesa. Revista do GELNE, Natal, v. 25, n. 1, p. e31995, 2023.

Disponível em: https://periodicos.ufrn.br/gelne/article/view/31995. Acesso em: 11 dez. 2023.

SOARES, Luiz Eduardo. “Politicamente correto: o processo civilizador segue seu curso”. In: PINTO, Paulo Roberto Magutti et al. (org.). Filosofia analítica, pragmatismo e ciência. Belo Horizonte: Editora UFMG, 1998. p. 217-238.

SOLANO, Esther. Crise da democracia e extremismos de direita. Friedrich-Ebert-Stiftung Brasil, São Paulo, n. 42, 2018. Análise, p. 1-29. Disponível em: https://library.fes.de/pdf-files/ bueros/brasilien/14508.pdf. Acesso em: 11 dez. 2023.

TAVARES, Joelmir. Caso Danilo Gentili mobiliza humoristas e gera debate sobre liberdade de expressão. Folha de S. Paulo, São Paulo, 12 abr. 2019. Disponível em: https://www1.folha.uol. com.br/poder/2019/04/caso-danilo-gentili-mobiliza-humoristas-e-gera-debate-sobre-liberdade-de-expressao.shtml. Acesso em: 11 dez. 2023.

VOLÓCHINOV, Valentin. Marxismo e filosofia da linguagem: problemas fundamentais do método sociológico na ciência da linguagem. São Paulo: Editora 34, 2017.

WHITNEY, D. Charles; WARTELLA, Ellen. Media Coverage of the “Political Correctness” Debate.

Journal of Communication, [Washinton, DC], v. 42, n. 2, p. 83-94, 1992.

WILSON, John K. The Myth of Political Correctness: The Conservative Attack on Higher Education. [Durham]: Duke University Press, 1995.

ZAMIN, Angela. Jornalismo de referência: o conceito por trás da expressão. Revista Famecos, Porto Alegre, v. 21, n. 3, p. 918-942, 2014. Disponível em: https://revistaseletronicas.pucrs.br/ ojs/index.php/revistafamecos/article/view/16716. Acesso em: 11 dez. 2023.

ZYLBERKAN, Mariana. As celebridades arrependidas pelo apoio a Bolsonaro. Veja, [São Paulo], 16 ago. 2019. Disponível em: https://veja.abril.com.br/politica/artistas-arrependidos-bolsonaro-gentili-lobao. Acesso em: 11 dez. 2023.

NOTAS

Este artigo corresponde a versão revista e ampliada de trabalho apresentado no 45º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, realizado de 5 a 9 de setembro de 2022 na Universidade Federal da Paraíba (UFPB).

Números verificados em 04 de janeiro de 2023.

Maingueneau (2010) assume a noção de “posicionamento discursivo” em substituição ao conceito de “formação discursiva”, recorrente em estudos no campo da Análise do Discurso, como apontado por ele próprio no prefácio à edição brasileira de Gênese dos discursos (2008).

Em postagem realizada em sua conta pessoal no Twitter, no dia 25 de julho de 2009, Danilo Gentili – à época, integrante do elenco do programa televisivo “Custe o que custar” (CQC) – escreveu: “Agora no TeleCine King Kong, um macaco q depois q vai p/cidade e fica famoso pega 1 loira. Quem ele acha q é? Jogador de futebol?”.

Dialogamos aqui com o conceito de Patrick Charaudeau (2010, p. 118), para quem o discurso circulante diz respeito a “[...] uma soma empírica de enunciados com visada definicional sobre o que são os seres, as ações, os acontecimentos, suas características, seus comportamentos e os julgamentos a eles ligados”.

Em trabalhos anteriores, identificamos esse discurso circulante, recorrente em manifestações de críticos de mídia que se debruçam sobre produções de humor, a partir de posicionamentos de diferentes atores sociais em representações midiáticas do debate público (Scabin, 2020, 2022). Trata-se, portanto, de um discurso bastante inespecífico, de forte presença no senso comum e transversal ao campo humorístico, que assume modulações distintas em função das identidades enunciativas a partir das quais é mobilizado. No caso de humoristas “politicamente incorretos”, como veremos, o que parece estar em jogo é, principalmente, a afirmação de práticas que, ao ofenderem grupos historicamente oprimidos, buscam legitimar-se pela rejeição a políticas de representação emergentes e mecanismos de crítica, contestação e penalização de discursos violentos e estigmatizantes.

Em sentido bourdiano, enquanto um campo diz respeito a um “[...] conjunto de relações históricas e objetivas ancoradas em certas formas de poder (tipos de capital) [...]”, o habitus pode ser entendido como “[...] um conjunto de relações históricas depositadas dentro dos corpos individuais sob a forma de esquemas mentais e corporais de percepção, compreensão e ação [...]” (Misoczky, 2003, p. 13).

Embora reconheçamos a pertinência de uma abordagem aprofundada do objeto em foco à luz dos conceitos bourdianos de campo, habitus e capital, não seria possível explorar tais articulações teórico-metodológicas nas dimensões deste artigo. Observamos, no entanto, que tal enfoque tem sido desenvolvido em uma segunda fase da pesquisa da qual se origina o presente trabalho, cujos resultados esperamos publicizar oportunamente.

Evidentemente, esta perspectiva nunca chegou a constituir-se como posição consensual no campo humorístico: lembremos, por exemplo, da forma como Hélio de la Peña reagiu criticamente ao tuíte racista de Danilo Gentili (Gancia, 2009). Já no caso da citada reportagem de 2012 da Folha de S. Paulo, uma declaração de Antônio Tabet, à frente do site Kibe Loco à época, representa um contraponto à postura de Tas e Gentili: “A patrulha pode ser exagerada, mas não é gratuita. Se houvesse bom senso, nada disso teria acontecido” (Roxo; Magenta, 2012). Mais recentemente, tais posicionamentos “dissidentes” em relação a uma posição hegemônica parecem articular-se em uma possível contra hegemonia no campo humorístico, como veremos adiante.

O sentido com que o conceito de liberdade de expressão é tomado nesta vertente de “rebeldia conservadora”, ponto nodal para a produção de uma articulação hegemônica no campo do humor, é bastante próximo do que Anshuman Mondal (2014) descreve como uma “posição absolutista” no debate liberal sobre liberdade de expressão. Segundo o autor, tal posição se baseia na exacerbação de argumentos recorrentes na tradição de pensamento liberal sobre liberdade de expressão, incluindo a desconfiança quanto a qualquer forma de limitação à expressão, a preocupação com a “ladeira escorregadia” da censura e um maniqueísmo assentado sobre oposições de tipo “nós” versus “eles”.

Para a recuperação de manifestações relacionadas às disputas judiciais em foco, recorremos a matérias disponíveis nos acervos on-line dos jornais Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo, localizadas por meio de combinações de palavras-chave pesquisadas através dos motores de busca disponível nos portais dos jornais – disponíveis, respectivamente, em https://search.folha.uol.com.br/ e https://busca.estadao.com.br/.

No caso da posição que identificamos como hegemônica no campo humorístico brasileiro, o argumento da “ladeira escorregadia” parece ser radicalizado no sentido de que toda restrição à expressão humorística é questionada não pelo risco de levar a sanções maiores, mas por constituir, em si mesma, uma “ofensiva” pautada pela “censura” e “criminalização” do humor.

Published

2024-01-17

Issue

Section

Artigos