PRÓ-ESCOLHA X PRÓ-VIDA:

ANÁLISE SISTÊMICA DAS ESTRATÉGIAS COMUNICACIONAIS NAS DISCUSSÕES ON-LINE E PRESENCIAIS SOBRE A DESCRIMINALIZAÇÃO DO ABORTO

Autores

  • Carla Candida Rizzotto Universidade Federal do Paraná (UFPR) https://orcid.org/0000-0002-0847-4660
  • Luciane Leopoldo Belin Universidade Federal do Paraná (UFPR)
  • Camilla Hoshino Universidade Federal do Paraná (UFPR)
  • Djiovanni Jonas França Marioto Universidade Federal do Paraná (UFPR)
  • Vitor Liebel Universidade Federal do Paraná (UFPR) https://orcid.org/0000-0002-7789-1265

DOI:

https://doi.org/10.9771/contemporanea.v19i2.35945

Palavras-chave:

conversações online, deliberação, descriminalização do aborto

Resumo

Este artigo apresenta comparações entre as estratégias comunicacionais mobilizadas em debates on-line e presenciais a respeito da descriminalização do aborto, a partir do aprimoramento da metodologia que visa verificar o papel da interação na formação de preferências e opiniões. Sob uma perspectiva ampliada da deliberação, que considera a conversação cotidiana essencial ao processo decisório, realizamos análises de conteúdo de dois corpora distintos: o primeiro corpus, on-line, é composto por 5.777 comentários no Facebook, YouTube e Twitter em discussões sobre o tema; o segundo, presencial, consiste na audiência pública convocada pelo Senado Federal para debater a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 5.581, que assegura o direito ao aborto a gestantes infectadas com zika vírus. Os dados foram analisados a partir de 14 variáveis traçadas com base em Stromer-Galley (2007) que descrevem: tipo de pensamento; tema; forma; justificação da opinião; fonte da justificativa; estratégias retóricas; e recursos argumentativos. Foi possível identificar que, em cada corpus, homens falam mais do que mulheres, posicionando-se, nas conversações on-line, mais contrários à descriminalização. Também em ambos os corpora, pessoas que se posicionam favoravelmente apresentam argumentos estruturais, enquanto as contrárias utilizam falas relacionais ao tema. Nos dois ambientes, os indivíduos justificam posicionamentos calcados majoritariamente na experiência ou opinião pessoal, porém, quando o debate é intermediado pela internet, há maior uso de sarcasmo, analogias e insultos. Os resultados também permitiram delinear uma série de hipóteses a respeito desse tipo de conversação, que poderão ser verificadas em pesquisas futuras.

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Biografia do Autor

Carla Candida Rizzotto, Universidade Federal do Paraná (UFPR)

Doutora em Comunicação pela Universidade Tuiuti do Paraná. Professora do Departamento de Comunicação e do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Pesquisadora do grupo de pesquisa Comunicação e Participação Política (COMPA)

Luciane Leopoldo Belin, Universidade Federal do Paraná (UFPR)

Mestre e doutoranda pelo Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UFPR, integrante do Grupo de Pesquisa em Comunicação e Participação Política (COMPA). Bolsista CAPES

Camilla Hoshino, Universidade Federal do Paraná (UFPR)

Mestre em Comunicação pelo PPGCOM/UFPR. Bolsista CAPES.

Djiovanni Jonas França Marioto, Universidade Federal do Paraná (UFPR)

Mestre e doutorando em Ciência Política pelo PPGCP/UFPR. Bolsista CAPES

Vitor Liebel, Universidade Federal do Paraná (UFPR)

Mestre em Comunicação pelo PPGCOM/UFPR

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Publicado

2021-11-01

Edição

Seção

Artigos