“Combinaram de nos matar, combinamos de ficar vivos”

racismo e resistência negra no rap brasileiro contemporâneo

Autores

DOI:

https://doi.org/10.9771/aa.v0i65.45173

Palavras-chave:

Raça, Política, Rap, Resistência negra, Cultura afro-brasileira

Resumo

Desde seu surgimento e ao longo de sua penetração no contexto racializado brasileiro, o rap mantém-se como uma estratégia de resistência cultural negra. O objetivo deste trabalho é analisar como o rap articula dimensões culturais, históricas e sociais do debate racial brasileiro em suas composições. Para tanto, propomos um debate teórico sobre a constituição do rap como instrumento de crítica e as especificidades da questão racial brasileira. Em seguida, apresentamos uma análise temática reflexiva de 49 músicas de rap. A partir desta análise, discute-se a utilização da religiosidade afro-brasileira como um dispositivo da resistência cultural; a releitura da história do Brasil a partir do ponto de vista da população negra; e a crítica da realidade racial contemporânea, na qual são apontadas estratégias de resistência. Concluímos que o rap se constitui como uma importante ferramenta contra-hegemônica, centrando-se na valorização da cultura negra e na promoção da autoestima e da consciência racial.

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Biografia do Autor

Henrique Da Rosa Müller, Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Mestre em Sociologia no Programa de Pós-graduação em Sociologia, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

 

Lucas Lazzarotto Vasconcelos Costa, Universidade Federal de Santa Maria

Psicólogo pela Universidade Federal de Santa Maria. Residente no Programa de Atenção Básica da Escola de Saúde Pública do Rio Grande do Sul (ESP-RS

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Publicado

2022-06-19

Como Citar

MÜLLER, H. D. R.; COSTA, L. L. V. “Combinaram de nos matar, combinamos de ficar vivos”: racismo e resistência negra no rap brasileiro contemporâneo. Afro-Ásia, Salvador, n. 65, p. 607–647, 2022. DOI: 10.9771/aa.v0i65.45173. Disponível em: https://periodicos.ufba.br/index.php/afroasia/article/view/45173. Acesso em: 29 mar. 2024.

Edição

Seção

Artigos