Ser ou não ser japonês? Um processo identitário em construção

Autores

  • Adriana Capuano de Oliveira Universidade Federal do ABC - UFABC http://orcid.org/0000-0002-7837-7292
  • Danielle Yura Universidade Federal do ABC Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo

DOI:

https://doi.org/10.9771/aa.v0i59.24602

Palavras-chave:

Palavras-chave, identidade – imigrantes japoneses – discriminação – Segunda Guerra Mundial – Shindo Renmei.

Resumo

Este artigo analisa os processos identitários vivenciados pelos imigrantes japoneses no Brasil no século XX, ressaltando o período de privações e discriminações enfrentadas por eles durante a Segunda Guerra Mundial. A marginalização dos japoneses acarretou a união desses imigrantes em torno de associações de caráter ultranacionalistas, como a Shindo Renmei. Essa conjuntura fortaleceu ainda mais o sentimento de ser um japonês que vive no Brasil, mas é um súdito fiel e leal às autoridades japonesas. Décadas mais tarde, quem perderia a guerra – dessa vez econômica – seria o Brasil, e os descendentes de japoneses viviam o fluxo inverso de seus pais e avós. Contudo, enquanto no Brasil são tratados como “japoneses”, no Japão vivem a estranha experiência de serem brasileiros com “cara de japonês”. O artigo está alicerçado em pesquisas teórico-empíricas das autoras que trazem à tona questões relevantes, como o impacto das restrições, censura na formação de identidades e o dinamismo do sentimento de pertencimento, que molda-se de acordo com o contexto histórico que o representa.

 

 

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Biografia do Autor

Adriana Capuano de Oliveira, Universidade Federal do ABC - UFABC

Possui graduação em Ciências Sociais (Bacharelado e Licenciatura Plena) pela Universidade de São Paulo, USP (1993), mestrado em Sociologia pela Universidade Estadual de Campinas, UNICAMP (1997) e doutorado em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Campinas, UNICAMP (2004). Foi Visiting Scholar na UCSD (University of California at San Diego) no ano de 1998, participando de pesquisas no Center for Iberian and Latin American Studies (CILAS). Atualmente é Professora Adjunto na Universidade Federal do ABC, UFABC, tendo já lecionado na Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP - Campus de Franca), na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), e Fundação Santo André (FSA). É docente permanente do Programa de Pós-Graduação em Ciências Humanas e Sociais da UFABC (PCHS). Atua principalmente nos seguintes temas: migrações internacionais, brasileiros residentes no exterior, Brasil-Japão, Brasil-EUA, identidades nacionais, nacionalismos, questões de raça e etnia, relações internacionais. É coordenadora do Grupo de Estudos e Pesquisa em Migrações Internacionais: MIGREPI, e participa como membro do Grupo de Estudos sobre Diálogos Interculturais, GEDI, ligado ao IEA/USP (instituto de Estudos Avançados da USP) e do Grupo de Pesquisas RedeMigra, Ligado ao CIES/IUL (Centro de Investigação e Estudos de Sociologia do Instituto Universitário de Lisboa). É coordenadora da Editora da UFABC (EdUFABC) desde julho de 2015.

Danielle Yura, Universidade Federal do ABC Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo

Mestre em Ciências Humanas e Sociais pela Universidade Federal do ABC (2016) - linha de pesquisa "Cultura, Comunicação e Dinâmica Social" -, é jornalista concursada do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo, onde também coordena um projeto de extensão voltado para jovens imigrantes hispano-falantes. Atuou em impresso, rádio e assessoria de imprensa.

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Publicado

2019-02-22

Como Citar

CAPUANO DE OLIVEIRA, A.; YURA, D. Ser ou não ser japonês? Um processo identitário em construção. Afro-Ásia, Salvador, n. 59, 2019. DOI: 10.9771/aa.v0i59.24602. Disponível em: https://periodicos.ufba.br/index.php/afroasia/article/view/24602. Acesso em: 19 abr. 2024.

Edição

Seção

Artigos