Fé, poder e propagação: a Igreja Católica na Idade Média e suas representações no teatro de Gil Vicente
DOI:
https://doi.org/10.9771/rvh.v11i1.47898Palavras-chave:
Igreja Católica, Medievo, Gil VicenteResumo
A Idade Média, período marcado pelo sistema feudal e pelo domínio da Igreja Católica, foi uma época de conflitos ideológicos, por conta do domínio e do poder dos eclesiásticos e dos senhores feudais sobre os servos, e espirituais, uma vez que o homem se dividia entre a Fé e a Razão. Assim, conforme preconiza os dogmas da Igreja Católica, todas as coisas eram sagradas: o mundo, a natureza, o corpo humano. O desejo da nobreza, do clero e dos vassalos era aproximar-se do Reino Celeste através da palavra divina difundida pelo cristianismo da época. O Céu, de acordo com o pensamento cristão medieval, era naturalmente associado a Deus - local excelso onde viviam o Criador e os Anjos. Para os fiéis cristãos, o mundo terreno era a moradia dos homens e o lugar das tentações. O Inferno, na mentalidade do povo cristão medieval, seria o lugar em que as almas más pagavam seus pecados; um lugar simbólico, sombrio, quente, repleto de dor e de sofrimento; era, na visão de muitos cristãos, domicílio do Diabo, lugar das trevas e de tudo aquilo que se ligava ao Mal. Nesse contexto conturbado de mudanças culturais e ideológicas, surgiu na Europa o teatro religioso, tornando-se a mais importante e ativa criação da literatura religiosa da época. Nele, o sagrado e o profano ganharam notoriedade. O teatro medieval adentrou nos templos religiosos, e as personagens, a maioria litúrgicas, habitaram a mente do espectador medieval. Com o tempo, as peças teatrais saíram das igrejas e ganharam os espaços das praças, abrangendo, inclusive, as demais classes sociais da Europa Medieval: a nobreza, o clero e o povo simples (camponeses). No fim da Idade Média, século XV-XVI, em Portugal, surge Gil Vicente, considerado o maior poeta dramático português de todos os tempos, o pai do teatro lusitano. Diante do exposto, ressaltamos que o trabalho aqui proposto consiste em analisar a representação da Igreja – Fé e Poder -, bem como a propagação dos dogmas e imagens criados e difundidos pelo catolicismo durante A Idade Média e suas possíveis representações no Teatro Medieval Vicentino, tendo como base obras historiográficas que ressaltam o nascimento e a projeção do catolicismo na Idade Média, bem como as obras de Gil Vicente, que melhor representou, criticou e ressaltou a fé, o poder e a propagação dos ideais da Igreja Católica no medievo.
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