História, memória e devoção: as vozes negras no Rosário da Penha de França

Resumo

Identificando um caminho ainda pouco investigado, o da liturgia musical das celebrações católicas inculturadas, este trabalho se caracteriza pela análise dos cânticos entoados na Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos de Penha de França,  zona leste da cidade de São Paulo,  tendo como objetivo entender como se dá o resgate da memória afetiva entre aquela população negra particular e seus ancestrais na atualidade, e de que forma os negros da Comunidade do Rosário da Penha resgatam sua cultura ancestral como contribuição para as sociedades em que participam. Além de responder questões sobre a origem das irmandades leigas negras brasileiras ou mesmo investigar as práticas católicas dos povos pretos no Brasil Colonial, o estudo se destina exclusivamente a responder três problemas específicos: como a Irmandade dos Homens Pretos da Penha de França se preservou ao longo dos séculos XIX e XX, quais as ações que a Comunidade promove e como elas contribuem para a recuperação da memória afetiva dos negros, e por fim, como a liturgia musical das celebrações resgata a ancestralidade africana. O corpus documental para o desenvolvimento deste trabalho é composto pelos folhetos de cânticos entoados na celebração mensal realizada na Igreja, investigados a partir das possibilidades de interpretação do processo histórico e do conceito de memória. Como resultado, espera-se identificar as relações estabelecidas no território religioso popular através destas celebrações, cujas características podem remeter a um passado que muitos pensavam não existir mais na cidade de São Paulo, que preserva e mantém viva a memória ancestral, caracterizando este como um lugar como testemunho da presença negra e da identidade popular paulista.