<b>Subjetividade processual pós-colonial em Os Sertões do Oficina</b><br>[Patrick Campbell]
DOI:
https://doi.org/10.9771/r.v0i16.5395Resumo
O objetivo deste artigo é explorar como o conceito do subalterno sem fala de Gayatri Chakravorty Spivak questiona /é questionado pelo espetáculo Os Sertões (2002-2007) do Teat(r)o Oficina Uzyna Uzona. Enquanto a delineação marxista do subalterno desenvolvida por Spivak mantém este num abraço binário com o privilegiado Sujeito da Europa, Os Sertões apresenta-nos com uma rede interligada de três sujeito-efeitos, na qual o Trans-Homem (o artista militante pós-colonial) transcende sua condição de Homem (o sujeito castrado do neocolonialismo) ao infundir seu discurso com a ebulição rítmica do Pré-Homem (o substrato subalterno da sociedade brasileira). O Oficina articula esta subjetividade híbrida, conflituosa e processual no palco ao retornar à cena primal da concepção do Brasil, revelando um tropo diferenciado potencialmente articulando a subjetividade e a representabilidade no Brasil; o estupro-como-grama. É esse fio de DNA textual, esse eterno retorno da violência sexual, disciplinar e epistêmica que aparece em cena, articulando a subjetividade brasileira. Porém, ao antropofagicamente cooptar essa herança trágica no palco ao realçar a diferência contra-hegemônica das manifestações culturais e sagradas do subalterno que desde sempre espaçam o texto (pós) colonial, a companhia subverte uma narrativa histórica de perda e privação, transformando-a em um rito de passagem rítmico e libidinoso cujo vitalidade transcende as limitações do falogocentrismo.
The aim of this article is to explore how Gayatri Chakravorty Spivak’s concept of the speechless subaltern challenges/is challenged by the Teat(r)o Oficina Uzyna Uzona’s performance Os Sertões (2002-2007). Whilst Spivak’s Marxist-inspired delineation of the subaltern locks her in a binary embrace with the privileged Subject of Europe, Os Sertões presents us with a tripartite, interrelated set of subject-effects in which the Trans-Man (the militant post-colonial artist) transcends his condition as Man (the castrated subject of neocolonialism), by fusing his discourse with the rhythmic ebullience of the Pre-Man (the subaltern substratum of Brazilian society). The Oficina articulate this conflictual, hybrid, processual subjectivity on stage by returning to the primal scene of Brazil’s violent conception, revealing a differant trope potentially articulating subjectivity and representability in Brazil; rape-as-grammè. It is this strand of textual DNA, this eternal return of sexual, disciplinary and epistemic violence, which is shown to shape Brazilian subjectivity to the present day. However, by anthropofagically co-opting this tragic heritage on stage by emphasising the différance of the subaltern cultural manifestations and praise practice always already spacing the (post) colonial text, the company subvert a historic narrative of loss and privation, transforming it into a rhythmic and libidinal rite of passage whose vitality transcends the limits of phallogocentrism.
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