Sexos incertos: ambiguidade e diferença na autobiografia de Herculine Barbin

Autores

  • Izabel Rizzi Mação Universidade Federal do Espírito Santo - UFES
  • Davis Moreira Alvim Instituto Federal do Espírito Santo - IFES
  • Alexsandro Rodrigues Universidade Federal do Espírito Santo - UFES

DOI:

https://doi.org/10.9771/peri.v1i16.42974

Resumo

Adèlaïde Herculine Barbin foi uma professora francesa que viveu durante o século 19. Aos 21 anos de idade, foi diagnosticada como intersexo e teve seu status civil retificado, passando a ser considerada um homem, agora chamado Abel Herculine Barbin. Aos 30 anos, sua história encontrou um fim repentino: Herculine cometeu suicídio. Ao lado de seu corpo, foi encontrado o manuscrito Minhas Memórias. Seus relatos narram os prazeres e as desventuras do que ela nomeia como sua dupla e estranha existência. Ao mesmo tempo, as Memórias nos mostram como a vida e a anatomia de Herculine foram investigadas e debatidas pelos médicos da época. Repetidamente, uma pergunta era endereçada a Herculine: qual seu verdadeiro sexo? Neste artigo, traçamos, junto às Memórias de Herculine Barbin, duas linhas de investigação interligadas. Na primeira delas, nos dedicamos a investigar, de forma breve, como a medicina europeia do final do século 19 se mostrou obstinada em desvendar o verdadeiro sexo dos indivíduos. Realçamos algumas discordâncias no campo das ciências quanto aos corpos “ambíguos”, demonstrando que esses saberes se viam às voltas com incertezas quando se tratava das características a serem analisadas para a atribuição do sexo de pessoas como Herculine. Na segunda linha, delineamos um caminho diferente. Trata-se de ler as Memórias a contrapelo, ou seja, de ir de encontro às potencialidades dessa narrativa para transtornar a questão do verdadeiro sexo, revolvendo-a na direção de novas conexões coletivas, afetivas e inventivas. Herculine coloca em ação uma escrita enérgica e fragmentada, na qual o sexo já quase não conta mais. Com isso, ela devolve ao sistema sexo/gênero, de maneira metamorfoseada, a interrogação sobre o seu verdadeiro sexo, abrindo a seguinte questão: nós realmente precisamos de um verdadeiro sexo? Essa pequena questão, instaurada por Herculine no seio do sistema sexo/gênero, liga-se a aspectos coletivos mais amplos, que ultrapassam a sua condição singular e o seu contexto histórico.

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Biografia do Autor

Izabel Rizzi Mação, Universidade Federal do Espírito Santo - UFES

Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Espírito Santo (PPGHis/Ufes), doutoranda pelo Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Espírito Santo (PPGHis/Ufes) e bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo (FAPES).

Davis Moreira Alvim, Instituto Federal do Espírito Santo - IFES

Doutor em filosofia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP), professor do ensino médio no Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes) e do Programa de Pós-Graduação em Ensino de Humanidades do Instituto Federal do Espírito Santo (PPGEH/Ifes).

Alexsandro Rodrigues, Universidade Federal do Espírito Santo - UFES

Doutor pelo Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Espírito Santo (PPGE/Ufes). Professor do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Institucional da Universidade Federal do Espírito Santo (PPGPsi/Ufes) e Professor Associado do Centro de Educação da Universidade Federal do Espírito Santo (CE/Ufes).

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Publicado

2021-08-16

Como Citar

Rizzi Mação, I., Moreira Alvim, D., & Rodrigues, A. (2021). Sexos incertos: ambiguidade e diferença na autobiografia de Herculine Barbin. Revista Periódicus, 1(16), 21–50. https://doi.org/10.9771/peri.v1i16.42974

Edição

Seção

DOSSIÊ 16 - Intersexualidade: desafios de gênero