Os ardis da memória: o debate público sobre o golpe e a ditadura no Brasil em tempos de revisionismo histórico e ofensiva conservadora
DOI:
https://doi.org/10.9771/gmed.v16i1.60815Palavras-chave:
História. Memória. Ditadura Militar brasileira. Revisionismo. Usos políticos do passado.Resumo
O objetivo desse trabalho é refletir sobre as formas como o conhecimento e a discussão sobre passados traumáticos são elementos indissociáveis de uma visão ético-política de mundo. Buscaremos analisar as formas como as disputas de memória e os embates historiográficos introduziram no discurso científico uma noção anódina de objetividade cujo papel hegemônico terminou por condenar, a priori, qualquer produção matizada pela crítica ético-política ao golpe de 1964 e à Ditadura Militar brasileira (1964-1985), inspirada ou não no marxismo. Pretendemos discutir os caminhos atuais das disputas de memória a luz das transformações políticas que influenciam a forma como o passado recente do Brasil é percebido, tentando compreender algumas teses apresentadas pela historiografia recente. Tentando descobrir de que modo as batalhas de memória operam nas diversas esferas do debate e como o produto da reminiscência pode ser transfigurado de maneira dramática e com interesses políticos evidentes, o que pretendemos nesse texto é discutir a memória do golpe de 1964 e da Ditadura Militar brasileira à luz do que se chama de usos políticos do passado.
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