Miguel Reale como "jurista orgânico" da ditadura civil-militar e a construção da autocracia no Brasil (1964-1968)

Autores

  • Rodrigo Jurucê Mattos Gonçalves Universidade Estadual de Goiás (UEG); Programa de Pós-Graduação em História (PPGHIS). http://orcid.org/0000-0003-3736-4804

DOI:

https://doi.org/10.9771/gmed.v16i1.54916

Palavras-chave:

Juristas orgânicos, Ditadura civil-militar, Leis de exceção, Cassação de funcionários públicos, Miguel Reale

Resumo

Abordamos a participação dos legisladores na construção da ditadura civil-militar em seus anos iniciais (1964-1968), a partir do conceito de “juristas orgânicos”, que relaciona formulações específicas de Pierre Bourdieu e Antonio Gramsci. Analisamos a atuação jurídica de Miguel Reale a partir de dois documentos da sua autoria: o “Parecer” (de 12 de setembro de 1964) que orientava a cassação de funcionários públicos estáveis e o texto “Revolução e Normalidade Constitucional” (1966), que buscava uma legitimação jurídica da Ditadura, além de fundamentar a “revolução” como a transição jurídica entre a ordem deposta e a vigente, justificando o processo legiferante ditatorial. Concluímos que os “juristas orgânicos” foram fundamentais na construção da autocracia no País.

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Biografia do Autor

Rodrigo Jurucê Mattos Gonçalves, Universidade Estadual de Goiás (UEG); Programa de Pós-Graduação em História (PPGHIS).

Doutor em História pelo PPGH/UFG. Professor do Programa de Pós-Graduação em História (PPGHIS) da Universidade Estadual de Goiás (UEG). Pesquisador das seguintes temáticas: história das ideias, história dos intelectuais, marxismo, História do Brasil republicano (após 1930). Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/2132772642943343. Orcid: http://orcid.org/0000-0003-3736-4804. E-mail: jurucemattos@gmail.com.

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Publicado

2024-05-30

Como Citar

Mattos Gonçalves, R. J. (2024). Miguel Reale como &quot;jurista orgânico&quot; da ditadura civil-militar e a construção da autocracia no Brasil (1964-1968). Germinal: Marxismo E educação Em Debate, 16(1), 252–271. https://doi.org/10.9771/gmed.v16i1.54916