A MULHER NEGRA, EMPREGADA DOMÉSTICA E MÃE
REPRESENTAÇÕES NO CONTO BARRETIANO O FILHO DE GABRIELA
Palavras-chave:
Maternidade negra; Trabalho doméstico; Subalternidade; Literatura barretiana.Resumo
Este artigo explora, por meio da análise do conto O Filho de Gabriela, de Lima Barreto, como, já no início do século XX, no contexto pós-abolicionista brasileiro, o autor propõe algumas questões, como: a voz da mulher negra subalterna frente ao exercício de sua maternidade e a relação entre gênero, raça e classe. O objetivo é refletir sobre a maneira como o autor lançou luz à situação econômica e social da mulher negra, ao ocupar os papéis de empregada doméstica e mãe diante de uma sociedade racista, patriarcal e capitalista. Assim, constata-se que está presente, neste conto barretiano, uma representação da mulher negra destoante de outras obras do cânone literário, uma vez que diversos autores descreveram essa personagem apenas a partir de sua subserviência. Nesse sentido, predomina, na literatura brasileira, a abordagem das personagens negras resignadas ao poder hegemônico colonial, proibidas de contrariarem o sistema que mantém características escravocratas. Em contraponto a tal aspecto, em O Filho de Gabriela, há uma personagem que ousa impor sua voz, desafiando as normas e revelando a complexidade e a resistência da mulher negra ao tentar sobrepor o seu papel de mãe ao de empregada doméstica.
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