O EDITOR NÃO CONFIÁVEL DE "A MULHER DE BRANCO"
DOI:
https://doi.org/10.9771/revin.v0i29.46935Resumo
Uma conquista formal que se destaca em A Mulher de Branco (1860), de Wilkie Collins, é a grande variedade de narradores, apresentados de tal modo a convertê-los em testemunhas que auxiliam na resolução do crime central do enredo, isto é, a troca das identidades de Laura Fairlie e Anne Catherick. Apesar de esse recurso adornar o texto com um manto de busca desinteressada pela verdade e legitimada pela imitação formal de uma Corte de Justiça, como se seu único objetivo fosse a reconstrução imparcial dos fatos e como se os testemunhos divergentes daqueles dos protagonistas tivessem igual espaço e peso que os demais, propõe-se que, na realidade, a personagem Walter Hartright edita os relatos dos outros narradores, estruturando o romance com mecanismos emprestados das práticas jornalística e, principalmente, jurídica, de modo a amparar a organização e a apresentação que faz das evidências, da maneira que melhor lhe convém para se destacar como o herói de um conflito maniqueísta e justificar sua ascensão social. Em outras palavras, propõe-se que Hartright seja um editor não confiável, que se utiliza de valores elevados, como a busca pela verdade em prol da justiça, e de práticas discursivas análogas, a jornalística e a jurídica, para enaltecer o que foi, em última instância, um ganho próprio.