Redefinindo a inovação jornalística: por um conceito orientado a valores públicos e democráticos

Resumo

O artigo analisa criticamente a apropriação do conceito clássico de inovação pelo jornalismo, destacando as tensões entre a lógica mercadológica, centrada na vantagem competitiva e no lucro, e a missão social da profissão como bem público essencial à democracia. O texto revisita as origens econômicas e administrativas da inovação, especialmente nas contribuições de Schumpeter e do Manual de Oslo, apontando que tais definições priorizam resultados escaláveis e comercializáveis, frequentemente incompatíveis com valores como pluralidade, qualidade e integridade da informação. No campo jornalístico, o trabalho destaca a predominância de inovações voltadas ao aumento de audiência e à sustentabilidade financeira, como SEO, clickbait, native ads e modelos de paywall, cujos impactos sobre a credibilidade e a relevância social nem sempre são positivos. Argumenta-se que a inovação jornalística, comumente associada à eficiência econômica e tecnológica, precisa ser compreendida como processo orientado por valores democráticos, éticos e públicos. Esta pesquisa defende que o jornalismo, enquanto bem público e instituição essencial à democracia, requer parâmetros próprios para avaliar inovações, baseados em critérios qualitativos como diversidade de perspectivas, rigor informativo e contribuição para o debate público. Conclui-se que inovar no jornalismo deve significar fortalecer sua missão social e seu papel na sustentação da vida democrática, e não apenas garantir competitividade de mercado.