QUANDO O CAMPO É SUA PRÓPRIA UNIVERSIDADE:
NOTAS SOBRE A ETNOGRAFIA COMO “CATEGORIA DE ACUSAÇÃO”
DOI:
https://doi.org/10.9771/revpre.v9i10.37091Palavras-chave:
Universidade, Etnografia, Instituições públicasResumo
Este artigo propõe uma reflexão acerca de uma pesquisa realizada entre 2009 e 2011 sobre as relações entre uma instituição de ensino superior e uma parcela da sociedade, a saber, a Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (FFCH) da UFBA e os bairros situados em seu entorno. Tomo a seguinte questão como guia: como se dá a etnografia em um setor que vislumbra a si mesmo como estando para além dos limites do Estado? Por um lado, na letra oficial das instituições estatais, a universidade pública aparece como que desprovida de poderes executivos e legislativos, estando afiançada apenas de um poder consultivo, tendo por prerrogativa a tarefa de auxiliar os gestores públicos na arte do bom governo. Por outro, etnografias sobre setores do Estado informam que as suas instituições, não raro, operam extrapolando o seu arcabouço legal/formal. Reside aí toda a questão, pois um relato sobre a vida privada de uma instituição da qual o antropólogo está vinculado inspira dois tipos de reações: aqueles que temem ser “avaliados” negativamente e terem, assim, seu sistema de representações ferido e aqueles que querem ver “o circo pegar fogo”, conquanto não voem faíscas a chamuscar suas reputações. Desta forma, a etnografia é enquadrada como um exercício de antropologia anti-social, nos termos do antropólogo David Mosse. No caso em tela, teme-se que a análise das relações entre a FFCH e a sua vizinhança demonstre o quão esta entidade está enredada em condicionamentos e ideologias que, a princípio, seriam vistos como alheias a ela.