Corpos dissidentes na rua: Territorialidade e identidades acionadas no carnaval de Ouro Preto (MG)
DOI:
https://doi.org/10.9771/peri.v1i8.23884Resumo
Durante o carnaval de Ouro Preto (MG), a Rua São José é apropriada por pessoas LGBTTQIs (lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, travestis, queers e intersex). Portanto, o objetivo deste relato de pesquisa foi compreender os processos de apropriação dessa rua e o que isso nos revela sobre as sociabilidades, as normativas de gêneros e sexualidades neste contexto urbano-festivo. Trata-se, mais precisamente, de discutir a relação entre sexualidade e acionamento territorial. Para tanto, utilizou-se como métodos de pesquisa, dentre os anos de 2014 a 2017, a etnografia e entrevistas semiestruturadas aplicadas aos frequentadores do local. Evidenciou-se, assim, que a rua passa a ser também, lugar de sexualidade. Não apenas São José, mas transbicha. A São José é rua transbicha, pela heterogeneidade de pessoas que nela se concentraram e (re)apropriaram-se dela para viver a efemeridade do carnaval. Dos corpos pretos, bichas, trans, que nela atravessaram e a transformaram em rua-corpo. Ela foi, à priori, reinventada e renegociada ano-a-ano, numa constante gestão das identidades ali presentes. Ela ganhou legibilidade. O ressignificado dela, no entanto, não se dá como um primeiro olhar pode pressupor se tratar de uma apropriação espontânea do espaço urbano festivo. Ao contrário, esse processo revelou como os desejos, afetos, erotismos, conflitos e LGBTQIfobia foram mecanismos de acionamento tanto das identidades, quanto da territorialidade no período carnavalesco. Enfim, em últimas análises, percebeu-se a desterritorialização e reterritorialização da rua transbicha; seu “fim” e “renascimento”, por meio da negociação, em outra localidade do carnaval ouropretano.
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