Deslocamentos antropofágicos ou de como devoramos Judith Butler
DOI:
https://doi.org/10.9771/peri.v1i3.14253Resumo
Judith Butler é desconcertante. Talvez por isso seus escritos tenham “tumultuado”, como propõe João Manuel de Oliveira, o campo dos estudos de gênero e sexualidade de uma maneira tão profunda, influente e desestabilizadora. Das certezas teóricas relativas à perspectiva construcionista de gênero ao lugar intocável de Simone de Beauvoir como grande desnaturalizadora do conceito de gênero, nada escapou à verve crítica dos escritos sempre densos e desafiantes dessa judia acusada de ser antissemita.
A dimensão não-natural do sexo, a centralidade da heterossexualidade como matriz política reguladora, a recusa ontológica de certos corpos foram novidades filosóficas, teóricas e, sobretudo, políticas aportadas por Butler para nossas reflexões dentro dos feminismos, dos estudos de gênero e sexualidade, fazendo com que o termo “queer” repercutisse em muitas línguas, em múltiplos corpus, não sem provocar polêmicas no campo acadêmico e do ativismo. No Brasil o efeito Butler ainda é sensível. Convida-nos a deslocamentos permanentes porque estamos no firme exercício de dialogar com Butler, de antropofogizar as suas potentes teorizações.
Este dossiê expressa, em boa medida, essas apropriações que temos feito de forma criativa e profícua das contribuições de Judith Butler para o campo dos estudos de gênero, mas para além, chegando à Filosofia, à Comunicação, à Psicanálise, às Ciências Sociais.
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