Reflexões sobre o grau de (des)preparo tecnológico do país evidenciadas pela COVID-19... E o que nós (autores e leitores da revista Cadernos de Prospecção) temos a ver com isso?

Resumo

No exato momento em que essas linhas são digitadas, dezenas de grupos de trabalho se debruçam em projetos de impressão 3D de válvulas respiratórias, muitos dos quais sem saber sequer onde elas serão empregadas. Outras várias equipes estão debruçadas sobre projetos de ventiladores pulmonares ao estilo “faça você mesmo”, com extensa cobertura midiática. Nesse mesmo diapasão, ainda ontem, matéria publicada no site da Câmara dos Deputados comentava sobre a “quebra de patente” e fazia referência a um órgão de nome “Instituto Nacional da Patrimônio Intelectual (INPI)” (sic).

Sem entrar no mérito das intenções e nem dos erros conceituais ou de grafia, restam algumas perguntas: 

1. a) Quão efetivas podem ser tais ações, por exemplo, em um quadro de produção de equipamentos médicos de alta complexidade? 
2. b) Será que não seria melhor aprender, por exemplo, com patentes já publicadas, com seus inventores ou titulares?
3. c) Além daquilo que está descrito nas patentes em si, quanto mais há de barreiras de acesso a componentes, materiais e “know-how”?
4. d) Não seria mais efetiva a realização de parcerias com empresas produtoras de dispositivos já testados e registrados? 

Infelizmente, a impressão que se tem é a de que, com raras exceções, sequer endereçamos perguntas básicas.

Ano após ano, observamos a desindustrialização e a perda de capacidade produtiva em nosso país. Em muitas áreas, desaprendemos, mesmo que simplesmente (o que não é tão simples assim), a fazer engenharia reversa para copiar ou fabricar aquilo que já existe. Situações de crise, como a que estamos vivendo hoje, apenas evidenciam nosso grau de (des)preparo tecnológico.

E o que nós, autores e leitores da Revista Cadernos de Prospecção, temos a ver com isso?

Essa é a pergunta que se faz para que seja realizada uma reflexão individual. Talvez, mais importante do que a resposta em si seja o ato de nos questionar e, mais do que isso, a atitude que cada um de nós terá diante dessa crise.

Nesse contexto, a Revista Cadernos de Prospecção traz, de forma pioneira, uma Edição Especial com contribuições espontâneas de autores com foco no enfrentamento da pandemia gerada pelo agente etiológico Coronavírus, o SARS-COV-2, que causa a doença COVID-19.

No exíguo espaço de apenas três semanas, 59 manuscritos foram recebidos e passaram pela avaliação, às cegas, de dois pareceristas; em seguida, pela avaliação da Comissão da Edição Especial e todo esse processo foi finalizado com a apreciação dos manuscritos pelo Conselho Editorial. Dos 59 artigos, 18 (31%) foram aceitos, 39 (66%) foram recusados e 2 (3%) seguem em avaliação para possível inserção na Edição do volume 13, número 3, de junho de 2020. A seção Coronavírus continuará recebendo artigos até que se extinga essa pandemia, pois os novos trabalhos serão inseridos à medida que forem aceitos.

Os 18 artigos que compõem a presente Edição Especial reúnem contribuições de 79 autores afiliados a 36 organizações dos setores acadêmico, empresarial e governamental. Seus temas incluem: atualidade, economia, políticas, legislação, equipamentos médicos e de proteção individual (respiradores, máscaras, etc.), fármacos e testes clínicos, além de prospecções de artigos e de patentes.

Esperamos que os conhecimentos e os convites para as reflexões aqui reunidas possam contribuir para que a nossa sociedade faça frente e saia fortalecida dessa pandemia!