Ocorrência de fogo no Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, Goiás, Brasil: histórico recente no contexto da sua ampliação
DOI:
https://doi.org/10.9771/geo.v16i2.38041Palavras-chave:
Regime de queima, Sensoriamento remoto, Incêndio, Queimada, Unidade de ConservaçãoResumo
O presente estudo tem como objetivo aferir, para o período entre 2008 e 2019, o regime de queima no Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros (PNCV), Unidade de Conservação (UC) localizada no estado de Goiás que teve sua área ampliada neste período. A partir de imagens dos satélites Landsat e CBERS, cicatrizes de incêndio foram identificadas, vetorizadas e analisadas quanto à localização, ao tamanho e à frequência. A área atual do PNCV queimou cerca de 542.113 hectares, i.e., mais de 225% da área da UC. Aproximadamente 76% das cicatrizes foram registradas na área ampliada do Parque, a qual teve a maior participação de incêndios em 10 dos 11 anos analisados. Foi possível discriminar dois regimes de queima: um que abrange o limite antigo do Parque, caracterizado por baixa ocorrência de queimada, com presença de feições que se assemelham a aceiros e baixa frequência de incêndios; e outro na área ampliada, com histórico de queima anual com valores mais próximos à média, ausência de cicatrizes lineares e frequência máxima de 10 ocorrências. A unificação destes panoramas em um só território exigirá esforços para homogenização dos regimes e poderá, associada a outras ações, diminuir a imprevisibilidade dos incêndios, e respectivos impactos, legitimando o papel que as UCs possuem para a conservação e a preservação da natureza.
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