A HIPERANDROGENIA NO ATLETISMO E O REGIME DA MEDICALIZAÇÃO COMPULSÓRIA

Autores

DOI:

https://doi.org/10.9771/rf.v12i2.50695

Palavras-chave:

desporto, mulheres, testosterona, atletismo, hiperandrogenia

Resumo

Discursos científicos e culturais em torno da testosterona têm classificado esta hormona como produtora de uma masculinidade universal e patologizado a sua presença em corpos designados do sexo feminino. É sob este viés que várias organizações desportivas restringem o acesso à competição de mulheres com hiperandrogenia, por considerarem valores elevados de testosterona conferem vantagem injusta sobre as restantes competidoras. Este artigo propõe desconstruir a conceção da testosterona enquanto hormona pertencente ao domínio de uma masculinidade cisgénero e considerá-la uma substância de interesse a todos os corpos independemente do sexo. Para auxiliar esta tarefa são analisadas as normas da entidade máxima do atletismo, a World Athletics, relativas à elegibilidade de mulheres com hiperandrogenia no atletismo.

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Biografia do Autor

Ana Lúcia Santos, Centro de Estudos Sociais - Universidade de Coimbra

Doutora em Estudos Feministas e  investigadora associada do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra.

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Publicado

2024-11-04

Como Citar

SANTOS, A. L. . A HIPERANDROGENIA NO ATLETISMO E O REGIME DA MEDICALIZAÇÃO COMPULSÓRIA. Revista Feminismos, [S. l.], v. 12, n. 2, 2024. DOI: 10.9771/rf.v12i2.50695. Disponível em: https://periodicos.ufba.br/index.php/feminismos/article/view/50695. Acesso em: 18 nov. 2024.

Edição

Seção

Artigos